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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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Há que se registrar também o calor incomensurável nesse espaço escolar, que<br />

atrapalhava tanto o trabalho pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> professora quanto o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho escolar <strong>da</strong>s<br />

crianças.<br />

4.3 As crianças<br />

O grupo era composto <strong>de</strong> moradores <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> periferia próxima à<br />

escola, <strong>em</strong> quase sua totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, cuja população vive numa situação <strong>de</strong>sfavorável<br />

economicamente, on<strong>de</strong> não há, por ex<strong>em</strong>plo, saneamento básico, hospitais, etc. Essa<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> conta com algumas escolas municipais, mas muitos familiares optam por<br />

matricular seus filhos <strong>em</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolares <strong>de</strong> bairros próximos, alegando, entre outros<br />

motivos: a “busca por um ensino melhor”, “uma escola on<strong>de</strong> professor quase não falta e o<br />

filho não volta para casa”, “trabalho do pai e/ou <strong>da</strong> mãe perto <strong>da</strong> escola, o que possibilita<br />

trazer ou apanhar a criança na saí<strong>da</strong>”. Muitos alunos utilizam o ônibus escolar particular pago<br />

pelos familiares. Alguns usam o transporte coletivo gratuito para estu<strong>da</strong>ntes, pois há linhas <strong>de</strong><br />

ônibus municipais que trafegam <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> on<strong>de</strong> moram.<br />

Pelas conversas informais que tive com as crianças, constatei que a maioria vive com a<br />

mãe e o pai ou padrasto. Moram <strong>em</strong> casas simples, <strong>de</strong> um ou dois cômodos. As profissões<br />

variam: domésticas, diaristas, porteiros, recepcionistas, caixas <strong>de</strong> supermercados,<br />

cabeleireiros, manicures, motoristas e cobradores <strong>de</strong> ônibus, entre outras. As crianças têm <strong>em</strong><br />

média três irmãos. Muitos <strong>de</strong>les disseram acor<strong>da</strong>r tar<strong>de</strong>, sendo que alguns freqüentam<br />

“escolinhas <strong>de</strong> reforço” e outros praticam algum tipo <strong>de</strong> esporte na própria comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

durante o período <strong>da</strong> manhã. Muitas <strong>de</strong>las conviv<strong>em</strong> diariamente com esgoto a céu aberto, o<br />

que serve, às vezes, <strong>de</strong> motivo para discussões entre crianças <strong>da</strong> turma, motivo <strong>de</strong> vergonha<br />

ou, até mesmo, <strong>de</strong> inspiração <strong>em</strong> seus <strong>de</strong>senhos ou suas produções textuais orais e escritas.<br />

Não se envergonham <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> on<strong>de</strong> moram, mas sim, do que eles chamam <strong>de</strong> “valão”.<br />

Morar perto do “valão” é como carregar um estigma.<br />

Em todos os momentos vivenciados com as crianças, alguns <strong>da</strong>dos importantes<br />

pu<strong>de</strong>ram ser observados com relação às suas experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Alguns textos escritos,<br />

produzidos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma ro<strong>da</strong> <strong>de</strong> conversa sobre as experiências <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong> leitura<br />

e escrita, <strong>de</strong>ixam as vozes <strong>da</strong>s próprias falar<strong>em</strong> <strong>de</strong> suas experiências no processo <strong>de</strong><br />

alfabetização. Antes <strong>da</strong> conversa, lancei as seguintes perguntas (anexo C):<br />

Como aprendi a ler e a escrever?<br />

Há alguma pessoa <strong>da</strong> família que me l<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> ter me aju<strong>da</strong>do muito?<br />

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