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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que é ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, há alunos que se <strong>de</strong>stacam <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong>, pela maior<br />

facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> conseguir realizar as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com êxito e brilhantismo, por outro lado, é<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong> também que se ele é ou for s<strong>em</strong>pre elogiado, enaltecido por isso, é como se também<br />

não tivesse na<strong>da</strong> <strong>de</strong> errado, ou algo a conquistar.<br />

Aos alunos ditos “bons” é atribuí<strong>da</strong> muitas vezes a tarefa <strong>de</strong> suporte aos colegas que<br />

apresentam dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s na aprendizag<strong>em</strong>. Parece-me que o perigo está <strong>em</strong> fun<strong>da</strong>mentar a<br />

dinâmica <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> no saber, po<strong>de</strong>ndo se tornar uma forma <strong>de</strong> colocar o aluno com<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> numa situação <strong>de</strong>sfavorável <strong>de</strong> inferiori<strong>da</strong><strong>de</strong> diante do outro.<br />

Ao contrário, a utopia <strong>da</strong> interação dinâmica entre os alunos é consonante com a convicção<br />

do senso comum <strong>de</strong> que “ninguém é tão pobre que não tenha na<strong>da</strong> a <strong>da</strong>r, n<strong>em</strong> tão rico que não<br />

tenha na<strong>da</strong> a receber”, o que vai ao encontro do <strong>de</strong>sejo do ser humano <strong>de</strong> ser herói entre os<br />

heróis <strong>de</strong> um panteão (BAKHTIN, 1992b).<br />

As observações <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> me permitiram compreen<strong>de</strong>r que muitas vezes o<br />

professor prefere o aluno previsível e os alunos aprend<strong>em</strong> com isso a preferir<strong>em</strong> também o<br />

educador previsível; às vezes, <strong>da</strong>mos a enten<strong>de</strong>r ao aluno que já sab<strong>em</strong>os até on<strong>de</strong> ele po<strong>de</strong><br />

chegar, quais são nossas expectativas quanto a ele, o que pod<strong>em</strong>os esperar <strong>de</strong>le. No entanto, é<br />

preciso surpreen<strong>de</strong>r o outro, como uma nova forma <strong>de</strong> provocação e <strong>de</strong> tentativa <strong>em</strong> <strong>de</strong>spertá-<br />

lo.<br />

Havia na turma pesquisa<strong>da</strong> aqueles que se sobressaíam muitas vezes pela<br />

subserviência, fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> à professora, ao livro didático, às regras estabeleci<strong>da</strong>s, a fim <strong>de</strong><br />

obter<strong>em</strong> o status <strong>de</strong> “bom” aluno, <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensores <strong>da</strong> “lei” e <strong>da</strong> “ord<strong>em</strong>”. Em alguns, uma<br />

tentativa vela<strong>da</strong> <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> soberanos pela aprovação ao seu discurso e sua ação, mesmo que<br />

para alcançar tal supr<strong>em</strong>acia tivess<strong>em</strong>, inclusive, <strong>de</strong> <strong>de</strong>negrir a imag<strong>em</strong> do outro ou,<br />

simplesmente, marcar s<strong>em</strong>pre e com forte entonação as peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s julga<strong>da</strong>s pejorativas ou<br />

negativas do outro. Assumiam papéis <strong>de</strong> “advogados <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa” ou <strong>de</strong> “acusação”.<br />

Parece-me que isso se agrava <strong>em</strong> qualquer grupo <strong>de</strong> escolares quando o professor<br />

organiza-os, não levando <strong>em</strong> conta que há maior aproveitamento do t<strong>em</strong>po e o melhor<br />

entrosamento entre eles se for<strong>em</strong> agrupados por critérios <strong>de</strong> afini<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

cognitivo menos discrepante, evitando agrupamento entre extr<strong>em</strong>os, a não ser que sejam<br />

voluntários. Mesmo assim, o papel do professor como orientador precisa ser consi<strong>de</strong>rado.<br />

Evento XXI<br />

A aluna Leila t<strong>em</strong> uma enorme dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> para apren<strong>de</strong>r, mas levanta o <strong>de</strong>do que quer ler. É diariamente<br />

monitora<strong>da</strong> pelo aluno Paulo.<br />

Paulo: Ela não sabe ler!<br />

Salete: Olha só!!! Ohhh!!<br />

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