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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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humana ou projeto? “Um revolucionário não po<strong>de</strong> estabelecer limites para seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

luci<strong>de</strong>z”, diria Castoriadis (1991, p. 112). E mais:<br />

Para Bakhtin (1992b),<br />

Não existe ‘alguma coisa’ que os homens queiram profun<strong>da</strong>mente e que até agora<br />

não pu<strong>de</strong>ram ter porque a técnica não era suficiente ou mesmo porque a socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

permanecia dividi<strong>da</strong> <strong>em</strong> classes. Os homens foram, individual e coletivamente, esse<br />

querer, essa necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, esse fazer, que <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> vez se <strong>de</strong>u um outro objeto e<br />

através disso uma outra ‘<strong>de</strong>finição’ <strong>de</strong> si mesmo 49 .<br />

[...] o plano <strong>de</strong> fundo, o que se passa às costas do herói e não lhe é visível n<strong>em</strong><br />

conhecido, po<strong>de</strong> tornar risíveis sua vi<strong>da</strong> e suas pretensões: um pequeno hom<strong>em</strong><br />

contra o fundo imenso do universo, um pequeno saber contra um fundo <strong>de</strong><br />

ignorância, a certeza <strong>de</strong> ser o centro <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong> ser excepcional, confronta<strong>da</strong> com<br />

uma idêntica certeza nos outros – <strong>em</strong> todos esses casos, o fundo é utilizado para<br />

<strong>de</strong>snu<strong>da</strong>r, mas também po<strong>de</strong> adornar, ser utilizado para heroificar o herói que sobe<br />

ao palco (p. 41).<br />

Existir e ser reconhecido não por possessão n<strong>em</strong> pela fantasia. Aju<strong>da</strong>r o outro “a<br />

eliminar <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong> a farsa grotesca e não a tragédia; é permitir que ele veja enfim os<br />

probl<strong>em</strong>as reais <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong> e o que pod<strong>em</strong> contar <strong>de</strong> trágico” (CASTORIADIS, 1991, p.<br />

115). Muito poucos sofrimentos são inevitáveis tragédias humanas, <strong>em</strong> sua maioria são<br />

resultantes <strong>da</strong> “trans<strong>formação</strong> dos homens <strong>em</strong> fantoches por outros fantoches que os<br />

‘governam’” 50 . Além disso, é preciso às vezes que nos surpreen<strong>da</strong>mos uns aos outros, como<br />

uma nova forma <strong>de</strong> provocação e <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> nos <strong>de</strong>spertarmos reciprocamente.<br />

Desejar que o outro <strong>de</strong>senvolva sua expressivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> inferencial e<br />

argumentativa é promover a ação e não a aquisição <strong>de</strong> comportamentos <strong>de</strong>sejáveis para que<br />

um indivíduo se enquadre <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a; é reconhecer o outro como herói. Nossas<br />

atitu<strong>de</strong>s uns com os outros, nossas relações dialógicas pod<strong>em</strong> favorecer menor ou maior<br />

visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do outro. Do contrário, pod<strong>em</strong>os privar o outro <strong>de</strong> uma relação objetiva com os<br />

outros, ao que Arendt chama <strong>de</strong> direito à privativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>corrente do fato <strong>de</strong> ser visto e<br />

ouvido pelos outros; realizar algo mais permanente que a própria vi<strong>da</strong>. É o direito à<br />

individuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, originali<strong>da</strong><strong>de</strong>; direito a ser herói. Para a autora, a “privação <strong>da</strong><br />

privativi<strong>da</strong><strong>de</strong> resi<strong>de</strong> na ausência <strong>de</strong> outros” (ARENDT, 2005, p. 68). Bakhtin nos levaria a<br />

concluir: somente um dialogismo incessante e uma posição exotópica madura nos faz<strong>em</strong> ver o<br />

outro não como um fantoche, mas como um herói.<br />

A singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> e a plurali<strong>da</strong><strong>de</strong> são próprias <strong>da</strong> condição humana, e compreen<strong>de</strong>r isso<br />

<strong>de</strong>ve nos levar a <strong>de</strong>safiar a nossa capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> indignação contra qualquer forma <strong>de</strong><br />

49 Ibid., p. 163.<br />

50 CASTORIADIS, 19991, et. seq.<br />

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