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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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(epist<strong>em</strong>ológica); ambas necessitam do trabalho <strong>de</strong> objetivação. A exotopia consiste no<br />

movimento duplo <strong>de</strong> “tentar enxergar com os olhos do outro e o <strong>de</strong> retornar à sua<br />

exteriori<strong>da</strong><strong>de</strong> para fazer intervir seu próprio olhar” 31 .<br />

Cronotopo é um termo originário <strong>da</strong> mat<strong>em</strong>ática e <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Einstein<br />

é “concebido por Bakhtin no âmbito estrito do texto literário” (AMORIM, 2006, p. 95); e seus<br />

próprios aspectos morfológicos apresentam “um maior equilíbrio entre as dimensões <strong>de</strong><br />

espaço e t<strong>em</strong>po”. Para Bakhtin, interessa compreen<strong>de</strong>r “como o probl<strong>em</strong>a do t<strong>em</strong>po é tratado<br />

ou qual é a concepção <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po que vigora” <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> época <strong>da</strong> história <strong>de</strong> uma obra literária 32 .<br />

As leituras <strong>de</strong> Bakhtin e os conceitos centrais <strong>de</strong> sua obra afetaram a cronotopici<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> meu pensamento, me permitindo muitas vezes objetivar-me e adquirir “uma relação<br />

dialógica comigo mesma (BAKHTIN, 1992b, p. 351). Como diz o autor, há palavras que<br />

congelam o pensamento, mas as suas e as <strong>de</strong> outros autores estu<strong>da</strong>dos, vieram ao encontro <strong>de</strong><br />

minha concepção acerca <strong>da</strong> condição sócio-histórica dos <strong>sujeitos</strong> e <strong>da</strong>s questões relativas aos<br />

processos interlocutivos nos quais eles se constitu<strong>em</strong>.<br />

O que importa é transpor-me <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> interna <strong>de</strong> minha percepção para a<br />

linguag<strong>em</strong> externa <strong>da</strong> expressivi<strong>da</strong><strong>de</strong> externa e entrelaçar-me por inteiro, s<strong>em</strong><br />

resíduo, na textura plástico-pictural <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, enquanto hom<strong>em</strong> entre outros homens,<br />

enquanto herói entre outros heróis (BAKHTIN, 1992b, p. 51).<br />

As análises <strong>de</strong> Bakhtin sobre a metamorfose a que são submetidos os heróis na<br />

t<strong>em</strong>porali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> por eles representa<strong>da</strong> no romance, a dimensão do movimento, <strong>da</strong><br />

trans<strong>formação</strong>, dos percalços vividos por eles, enfim, tantas outras questões, me transportaram<br />

para a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do presente que experimentamos <strong>em</strong> vários contextos nos quais estamos<br />

inseridos.<br />

[...] o herói revelará muitos disfarces, máscaras aleatórias, gestos falsos, atos<br />

inesperados que <strong>de</strong>pend<strong>em</strong> <strong>da</strong>s reações <strong>em</strong>otivo-volitivas do autor; este terá <strong>de</strong> abrir<br />

um caminho através do caos <strong>de</strong>ssas reações para <strong>de</strong>s<strong>em</strong>bocar <strong>em</strong> sua autêntica<br />

postura <strong>de</strong> valores e para que o rosto <strong>da</strong> personag<strong>em</strong> se estabilize, por fim, <strong>em</strong> um<br />

todo necessário. Quantos véus, que escond<strong>em</strong> a face do ser mais próximo, que<br />

parecia perfeitamente familiar, não precisamos, do mesmo modo, levantar, véus<br />

<strong>de</strong>positados nele pelas casuali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> nossas reações, <strong>de</strong> nosso relacionamento com<br />

ele e pelas situações <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, para ver-lhe o rosto <strong>em</strong> sua ver<strong>da</strong><strong>de</strong> e seu todo<br />

(BAKHTIN, 1992b, p. 26-27).<br />

Em ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong> nós há apenas uma ínfima parte do que existe <strong>em</strong> forma <strong>de</strong><br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s. De certa forma, nossa vi<strong>da</strong> é uma vi<strong>da</strong> incompleta e imperfeita <strong>de</strong>vido às<br />

regulações <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social. A própria consciência individual só po<strong>de</strong> ser explica<strong>da</strong> a partir do<br />

meio i<strong>de</strong>ológico e social, como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Bakhtin (1992a).<br />

31 Ibid., p. 102.<br />

32 Ibid., et. seq.<br />

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