19.04.2013 Views

O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Para Bakhtin, “a instalação <strong>da</strong>s fronteiras externas e internas do hom<strong>em</strong> e do seu<br />

mundo só po<strong>de</strong> efetuar-se num clima <strong>de</strong> certeza, <strong>em</strong> que esteja sólido o fun<strong>da</strong>mento <strong>de</strong> uma<br />

posição exotópica, <strong>em</strong> que o espírito possa permanecer <strong>em</strong> plena posse <strong>de</strong> suas forças e agir<br />

livr<strong>em</strong>ente” (1992b, p. 217). A exotopia é um caminho para conquista <strong>da</strong> autonomia, minha e<br />

do outro. Se exist<strong>em</strong> as fronteiras <strong>de</strong> forma b<strong>em</strong> consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s, existe alteri<strong>da</strong><strong>de</strong> responsiva<br />

autônoma. Não posso ocupar uma posição exotópica madura, se minhas palavras, gestos,<br />

atitu<strong>de</strong>s e ações privam o outro <strong>de</strong> uma participação livre e promissora, colaborando para seu<br />

isolamento e passivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, inibindo seus impulsos a um ato criador que enriqueça a si mesmo e<br />

aos outros. L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os: há palavras que congelam o pensamento.<br />

Castoriadis (1991) vai dizer que, como seres autônomos, pod<strong>em</strong>os “colocar tudo entre<br />

parêntesis, inclusive a nós mesmos” (p. 127). Pela autonomia, pod<strong>em</strong>os ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong> nós<br />

elaborar o discurso do outro, estabelecer com o outro uma relação intersubjetiva com base na<br />

liber<strong>da</strong><strong>de</strong> inalienável, o contrário do silêncio, <strong>da</strong> manipulação, <strong>da</strong> acomo<strong>da</strong>ção, do<br />

consentimento, sendo “finalmente responsável pelo que digo (e pelo que calo)” 15 .<br />

Brait (2006) afirma que “os estudos <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> reencontraram o sujeito, suas<br />

relações com a história, a partir <strong>da</strong> observação <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> uso, <strong>de</strong> maneira a re<strong>de</strong>finir<br />

paradigmas e repensar o papel do pesquisador” (p. 20). Ain<strong>da</strong>, segundo a autora, Bakhtin<br />

<strong>de</strong>fendia que a linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong>vesse ser estu<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>em</strong> uso, <strong>de</strong> forma a combinar as duas<br />

dimensões <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, buscando “conhecer o ser humano, suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, sua condição <strong>de</strong><br />

sujeito múltiplo, sua inserção na história, no social, no cultural pela linguag<strong>em</strong>, pelas<br />

linguagens” (BRAIT, 2006, p. 23). Em que grau ocorr<strong>em</strong> a assimilação e circulação do<br />

“discurso <strong>de</strong> outr<strong>em</strong>”? Como se constitu<strong>em</strong> os sentidos? Questões do interdiscurso, <strong>da</strong><br />

alteri<strong>da</strong><strong>de</strong> constitutiva do sujeito. Ter s<strong>em</strong>pre presente que o outro nunca é abstrato 16 . Para<br />

chegar a uma categoria, conceito, noção, precisamos partir <strong>da</strong> análise <strong>de</strong> um corpus<br />

discursivo, dos <strong>sujeitos</strong> e <strong>da</strong>s relações que ele instaura.<br />

As análises <strong>de</strong> Brait (2006) sobre o pensamento bakhtiniano, sobretudo, quanto à<br />

importância <strong>de</strong> sua teoria enunciativa <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> para as pesquisas na área <strong>da</strong>s Ciências<br />

Humanas, converg<strong>em</strong> com as <strong>de</strong> Freitas (2007) que situa Bakhtin numa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> sócio-<br />

histórica e v<strong>em</strong> realizando pesquisas ancora<strong>da</strong>s, especificamente nos princípios bakhtinianos<br />

<strong>de</strong> discurso, dialogia e polifonia.<br />

Minha pesquisa está inseri<strong>da</strong> nesse contexto <strong>de</strong> discussão <strong>de</strong> perspectiva histórico-<br />

dialógica <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, apoiando-me no pensamento <strong>de</strong> Bakhtin, que criticou os <strong>de</strong>fensores<br />

15 CASTORIADIS, 1991, p. 129.<br />

16 Ibid., loc. cit.<br />

29

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!