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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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<strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos é o compartilhamento <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> pela dialogici<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esta opção metodológica<br />

costuma ser alvo <strong>de</strong> críticas e po<strong>de</strong>ria ser relaciona<strong>da</strong> com as análises <strong>de</strong> Brayner (2005) sobre<br />

os estudos que buscam aproximar literatura e educação. O autor elege os trabalhos <strong>de</strong> Philippe<br />

Meirieu que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> “recorrer à literatura como veículo <strong>de</strong> <strong>formação</strong>”– uma<br />

pe<strong>da</strong>gogização <strong>da</strong> literatura – e <strong>de</strong> Jorge Larrosa (literaturização <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia) para discutir<br />

essa t<strong>em</strong>ática 67 .<br />

Segundo Brayner (2005), para o teórico Meirieu, as ditas “ciências <strong>da</strong> educação”<br />

apresentam <strong>de</strong>ficiências, uma vez que não dão conta <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> que envolve as<br />

questões educacionais. Assim, “a obra ficcional surge como uma função-meio: permitir aos<br />

outros o “crescer” com as experiências relata<strong>da</strong>s por alguns autores escolhidos” 68 , mas que,<br />

muitas vezes, n<strong>em</strong> aceitariam que seus trabalhos foss<strong>em</strong> classificados como pe<strong>da</strong>gógicos.<br />

Por outra orientação, Larrosa (2000 apud Brayner, 2005, p. 68) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a<br />

literaturização <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia, a busca pelas transformações no campo educacional “por uma<br />

ação sobre si mesmo, uma auto-interpretação proporciona<strong>da</strong> pela literatura” 69 . Na opinião <strong>de</strong><br />

Brayner, a utilização do gênero literário pela pe<strong>da</strong>gogia “não passa <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> controle<br />

<strong>de</strong> sua recepção, uma maneira <strong>de</strong> administrar a ficção”, <strong>de</strong> “re<strong>de</strong>screver subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s”<br />

transformando a literatura numa nova “tecnologia do eu” 70 .<br />

Busquei a escuta dos <strong>sujeitos</strong> como estratégia <strong>de</strong> pesquisa porque consi<strong>de</strong>ro ser esta a<br />

melhor maneira <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r as relações dialógicas numa <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong>, <strong>de</strong> forma que os<br />

contextos enunciativos entre os pesquisados pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> vir a ampliar e complexificar os<br />

núcleos t<strong>em</strong>áticos propostos no projeto <strong>de</strong> pesquisa. Para Bakhtin, nas ciências humanas, o<br />

objeto <strong>da</strong>s pesquisas é um outro sujeito, a voz do pesquisador e do pesquisado têm igual status<br />

e o critério maior é o <strong>da</strong> alteri<strong>da</strong><strong>de</strong> responsiva.<br />

Na vi<strong>da</strong>, participo do cotidiano, dos costumes, <strong>da</strong> nação, <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, do mundo<br />

terreno [...], aí minha vivência, minha tensão interna, minha palavra, tomam lugar no<br />

coro dos outros. Porém, no coro, meu canto não se dirige a mim, sou ativo só a<br />

respeito do outro e passivo ante a atitu<strong>de</strong> do outro para comigo; estou ocupado <strong>em</strong><br />

trocar dons e faço-o com <strong>de</strong>sinteresse; sinto <strong>em</strong> mim o corpo e a alma do outro<br />

(BAKHTIN, 1992b, p. 135).<br />

Era necessário como autora <strong>da</strong> obra científica situar-me nas fronteiras “vivas, reais,<br />

sóli<strong>da</strong>s” do mundo que estava pesquisando, tornando ca<strong>da</strong> sujeito diretamente envolvido na<br />

pesquisa um herói vivo “entranhado no mundo que o ro<strong>de</strong>ia”, a fim <strong>de</strong> que o acabamento e a<br />

67 Ibid., p. 64.<br />

68 Ibid., p. 66.<br />

69 Ibid., p. 69.<br />

70 Ibid., p. 71.<br />

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