O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
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não <strong>de</strong>sperta o interesse <strong>da</strong> maioria. Na entrevista aparece também a falta <strong>de</strong> aproveitamento<br />
do horário <strong>de</strong>stinado aos estudos e troca <strong>de</strong> experiências pe<strong>da</strong>gógicas. A questão dos salários<br />
baixos dos profissionais <strong>da</strong> educação é toma<strong>da</strong> como mais uma restrição que contribui para a<br />
falta <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> na educação. Perpassando tudo isso ela traz o abandono psicológico do<br />
posto pelo professor e a falta <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> política para revolucionar a educação pública.<br />
Castoriadis (1991) <strong>de</strong>fendia que a história é o lugar <strong>da</strong> encarnação <strong>da</strong>s significações e<br />
estas são parte <strong>de</strong> um todo, significam a partir <strong>de</strong> um contexto social. E mais: “os tipos <strong>de</strong><br />
motivação (e os valores correspon<strong>de</strong>ntes que polarizam e orientam a vi<strong>da</strong> dos homens) são<br />
criações sociais, que ca<strong>da</strong> cultura institui valores que lhe são próprios e conforma os<br />
indivíduos <strong>em</strong> função <strong>de</strong>les”. Somos <strong>sujeitos</strong> e objetos do conhecimento histórico: “ter uma<br />
experiência <strong>da</strong> história enquanto ser histórico é ser na e <strong>da</strong> história, como também ser na e <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>” 75 .<br />
Para a professora <strong>em</strong> fim <strong>de</strong> carreira, a escola pública brasileira não conseguiu ain<strong>da</strong><br />
encontrar uma saí<strong>da</strong> para seus probl<strong>em</strong>as e <strong>de</strong>sabafa:<br />
Depois <strong>de</strong> 25 anos <strong>de</strong> magistério, eu vejo que não mu<strong>da</strong> e po<strong>de</strong>ria mu<strong>da</strong>r... Porque <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s <strong>em</strong>presas é assim.<br />
E a escola? Não po<strong>de</strong> modificar, não po<strong>de</strong> transformar, não po<strong>de</strong> inovar, não po<strong>de</strong> <strong>da</strong>r um ensino <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
para nossos alunos <strong>de</strong> classes populares, que são os mais necessitados, não é? Já viv<strong>em</strong> numa situação na sua<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> tristeza, <strong>de</strong> ansie<strong>da</strong><strong>de</strong>... Já t<strong>em</strong> criança com probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong>senvolvendo <strong>de</strong>pressão<br />
que, <strong>de</strong>vido aos tiroteios, essas coisas... Por que você não tentar colocar, enquanto, profissional, querer<br />
inovar... Sei <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, mas a gente t<strong>em</strong> que colocar um pouquinho <strong>de</strong> amor no trabalho que a gente faz.<br />
Eu particularmente, eu gosto. Só não gosto, atualmente e ca<strong>da</strong> dia mais <strong>da</strong> situação que a gente se encontra,<br />
falta <strong>de</strong> respeito, <strong>de</strong>scaso, incomo<strong>da</strong> muito (Professora Salete <strong>em</strong> entrevista dia 08/07/08).<br />
A situação sócio-econômica dos alunos é mais um motivo, um imperativo ético para<br />
que se tenha um projeto político revolucionário a <strong>em</strong>basar a práxis educacional e pe<strong>da</strong>gógica.<br />
Castoriadis (1991) argumenta que basta estar consciente, <strong>de</strong>spertar do pesa<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> alienação<br />
para <strong>de</strong>sejar uma revolução, pois “a própria socie<strong>da</strong><strong>de</strong> fala <strong>de</strong> sua crise numa linguag<strong>em</strong> que<br />
quase n<strong>em</strong> exige uma interpretação” (p. 101). Ela revela seus probl<strong>em</strong>as gritantes, suas fen<strong>da</strong>s<br />
e as linhas <strong>de</strong> força <strong>de</strong> sua crise.<br />
Na fala <strong>da</strong> professora a educação aparece como ato político, se aproximando,<br />
principalmente <strong>de</strong> Paulo Freire: “Se a educação não po<strong>de</strong> tudo, alguma coisa fun<strong>da</strong>mental a<br />
educação po<strong>de</strong>” (FREIRE, 1998, p. 126). Entretanto, sente-se <strong>de</strong>srespeita<strong>da</strong>, percebe um<br />
<strong>de</strong>scaso pela educação que a incomo<strong>da</strong> muito.<br />
Retomando Castoriadis (1991), “há uma ação que po<strong>de</strong> apoiar-se sobre o que existe<br />
para fazer existir o que quer<strong>em</strong>os ser” (p. 71). No caso <strong>da</strong> professora <strong>da</strong> entrevista, o peso <strong>da</strong><br />
frustração com a situação <strong>da</strong> educação brasileira apresentado <strong>em</strong> seu discurso está consonante<br />
75 Ibid., loc. cit.<br />
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