19.04.2013 Views

O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

(CASTORIADIS, 1991, p. 369), <strong>em</strong> suas diferentes dimensões e manifestações; e sugere que<br />

a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio se dê, principalmente, “pela reflexão <strong>da</strong>quilo que pensamos e do seu<br />

modo <strong>de</strong> ser” 86 .<br />

Muitas vezes, a educação que receb<strong>em</strong>os leva-nos a uma “paralisia progressiva <strong>da</strong><br />

movimentação: “FIQUE NO TEU LUGAR - NA POSIÇÃO QUE TE CABE, FAÇA<br />

SEMPRE DO MESMO MODO – CIDADÃO PERFEITO, QUASE MÚMIA” 87 .<br />

Para Gaiarsa, as crianças muitas vezes chegam a nos incomo<strong>da</strong>r pela sua leveza e<br />

suavi<strong>da</strong><strong>de</strong> no movimento. Nas várias situações sociais expressamos afeto que sentimos ou que<br />

quer<strong>em</strong>os d<strong>em</strong>onstrar ao outro que sentimos. Por ex<strong>em</strong>plo, faz<strong>em</strong>os a cara que achamos que<br />

agra<strong>da</strong> ao outro. As expressões do rosto são um elo fun<strong>da</strong>mental na comunicação entre as<br />

pessoas. Um primeiro sinal <strong>de</strong> autoafirmação <strong>em</strong> uma pessoa é sua cabeça ergui<strong>da</strong>, o olhar o<br />

outro cara a cara. Ao contrário, baixar a cabeça significa quase s<strong>em</strong>pre submissão.<br />

Aprend<strong>em</strong>os também a enunciar o que convém, <strong>de</strong> acordo com o nosso interlocutor.<br />

O professor t<strong>em</strong> um controle muito gran<strong>de</strong> sobre o que acontece no interior <strong>de</strong> uma<br />

<strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong>. O que ele controla na turma? Controla tudo, ou ao menos tenta controlar,<br />

inclusive o <strong>de</strong>sejo do aluno.<br />

Evento XIX<br />

A professora Salete entregou uma folha para ca<strong>da</strong> um dos alunos.<br />

Paulo: Tia, é pra copiar?<br />

Salete: Nós não vamos usar o compasso, mas vamos usar a régua! Na letra a, vocês vão traçar duas retas e<br />

fazer um <strong>de</strong>senho. Na letra b, nós vamos pôr um ponto e a partir <strong>de</strong>le vocês vão fazer também um <strong>de</strong>senho...<br />

Olha só, ca<strong>da</strong> um vai criar o seu <strong>de</strong>senho. Não seria legal fazer<strong>em</strong> <strong>de</strong>senhos iguais.<br />

Maurício: Aí, se fizer casa, eu amasso e mato, hein?<br />

Úrsula: Eu vou fazer.<br />

Maurício: Está b<strong>em</strong>! Me dá a régua pra eu bater na “bun<strong>da</strong>” <strong>de</strong>la (pegou a régua e bateu <strong>em</strong> si mesmo. Depois<br />

finge que a régua é um revólver e se arrasta pelo chão)... Sujei minha roupa! Virou guerra!<br />

Helena: Tia, o Maurício está <strong>de</strong>baixo <strong>da</strong> mesa!<br />

Salete: Olha só, não pod<strong>em</strong>os ficar per<strong>de</strong>ndo t<strong>em</strong>po. Ele é curto.<br />

Mauricio: Tia, eu ia <strong>de</strong>senhar minha mãe.<br />

Salete: Olha só, o Maurício está s<strong>em</strong> graça, não é? Coisa feia! Vou botar você pra pensar. A mamãe está uma<br />

hora <strong>de</strong>ssas <strong>da</strong>ndo duro <strong>da</strong>nado pra botar o Maurício na escola, pra ser um menino inteligente e ele está <strong>de</strong><br />

bobeira com o nome <strong>da</strong> mamãe. Gente, vamos fazer <strong>de</strong>senhos diferentes! Não vamos copiar do colega...<br />

Maurício: Eu vou <strong>de</strong>senhar uma casa, tia...<br />

Salete: Você não ia <strong>de</strong>senhar a sua mãe? Sua mãe na estra<strong>da</strong>, numa reta <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>? O que você quer<br />

<strong>de</strong>senhar? Então, <strong>de</strong>senha! Hein...? Ah, eu pensei que você estivesse falando <strong>de</strong>bochando <strong>de</strong> sua mãe.<br />

Ricardo: Ah, tia! Ele estava falando que queria <strong>de</strong>senhar a mãe <strong>de</strong>le.<br />

Salete: Deixa ele <strong>de</strong>senhar o que ele quiser, <strong>de</strong>ixa ele <strong>de</strong>senhar à vonta<strong>de</strong>. Bota, gente, a imaginação pra<br />

funcionar, pra voar, pra imaginar. Será que vocês não pod<strong>em</strong> através <strong>de</strong> duas retas <strong>de</strong>senhar um balão, balão,<br />

não, <strong>de</strong>sculpa, um escorrega...<br />

A professora, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> algum t<strong>em</strong>po coloca um pingo <strong>de</strong> tinta ver<strong>de</strong> na meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> folha <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> aluno.<br />

Maurício: Tia, tia! No primeiro <strong>de</strong>u pra <strong>de</strong>senhar um elefante!<br />

Salete: Gente, retas são linhas...<br />

86 CASTORIADIS, 1991, p. 369.<br />

87 Cf.: Couraça Muscular do Caráter (Wilhelm Reich). Trabalho corporal <strong>em</strong> psicoterapia – fun<strong>da</strong>mentos e<br />

técnicas, <strong>de</strong> José Ângelo Gaiarsa, São Paulo: Ágora, 1984, p. 145 (grifo do autor).<br />

143

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!