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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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É certo que nas relações dialógicas, uma conversa puxa outra; porém, parece-me que<br />

houve um <strong>de</strong>svio no foco <strong>da</strong> discussão <strong>em</strong> questão. Centrar-se no fato ocorrido entre <strong>sujeitos</strong><br />

no cotidiano <strong>da</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> teria permitido, naquele momento, maiores possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

analogias coerentes. Além disso, possibilitaria aos próprios alunos buscar<strong>em</strong> <strong>em</strong> suas próprias<br />

experiências tais s<strong>em</strong>elhanças. O professor precisaria questionar s<strong>em</strong>pre qual, para qu<strong>em</strong> e<br />

para que uma analogia <strong>de</strong>va ser usa<strong>da</strong> <strong>em</strong> suas relações dialógicas no cotidiano <strong>da</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>aula</strong>, sobretudo com crianças.<br />

Em se tratando principalmente <strong>da</strong> educação <strong>de</strong> crianças, é um dos objetivos a<br />

preocupação com o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> argumentação, capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> generalização,<br />

ampliação do vocabulário, entre outras; vale a pena l<strong>em</strong>brar que Vigotski (2007) critica uma<br />

educação pauta<strong>da</strong> na inoculação artificial <strong>de</strong> idéias, sentimentos e critérios completamente<br />

alheios às crianças. O autor consi<strong>de</strong>ra que a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira educação consiste <strong>em</strong> <strong>de</strong>spertar na<br />

criança o que ela já t<strong>em</strong> <strong>em</strong> si, aju<strong>da</strong>ndo-a a fomentar e orientar seu <strong>de</strong>senvolvimento <strong>em</strong> uma<br />

<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> direção. Penso que <strong>de</strong>sta forma se possa atenuar a tentativa <strong>de</strong> imposição no <strong>jogo</strong><br />

enunciativo <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> e <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r uma busca pela autonomia, diante <strong>da</strong>s significações<br />

sociais que muitas vezes são trata<strong>da</strong>s como ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s absolutas e caminho s<strong>em</strong> volta. Mas, na<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, se as significações sociais são construí<strong>da</strong>s socialmente, pod<strong>em</strong> também ser<br />

<strong>de</strong>sconstruí<strong>da</strong>s e/ou re-construí<strong>da</strong>s socialmente. Diria Foucault (1978 apud MACHADO,<br />

2009): “Não se trata <strong>de</strong> libertar a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> todo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r − o que seria quimérico<br />

na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que a própria ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é po<strong>de</strong>r −, mas <strong>de</strong> <strong>de</strong>svincular o po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />

formas <strong>de</strong> heg<strong>em</strong>onia (sociais, econômicas, culturais) no interior <strong>da</strong>s quais ela funciona no<br />

momento” 79 .<br />

Sobre as significações sociais, Castoriadis pergunta e respon<strong>de</strong>:<br />

121<br />

O que é uma significação? Só pod<strong>em</strong>os <strong>de</strong>screvê-la como um feixe in<strong>de</strong>finido <strong>de</strong><br />

r<strong>em</strong>issões intermináveis a outra coisa que [...]. Estas outras coisas são s<strong>em</strong>pre tanto<br />

significações como não significações – aquilo a que se refer<strong>em</strong> ou se relacionam as<br />

significações. O léxico <strong>da</strong>s significações <strong>de</strong> uma língua não gira <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> si<br />

mesmo; não se fecha sobre si mesmo [...] porque a significação plena <strong>de</strong> uma<br />

palavra é tudo aquilo que, a partir ou a propósito <strong>de</strong>sta palavra, po<strong>de</strong> ser socialmente<br />

dito, pensado, feito. (1991, p. 283-284).<br />

Para Castoriadis, uma significação é apenas um gigantesco <strong>em</strong>préstimo. O autor<br />

compara o mundo <strong>da</strong>s significações a um magma: “não para <strong>de</strong> se mexer, <strong>de</strong> dilatar e <strong>de</strong><br />

baixar o nível, liquefazer o que era sólido e solidificar o que não era quase na<strong>da</strong>”. E conclui:<br />

porque o magma é assim, “o hom<strong>em</strong> po<strong>de</strong> se mover e criar no e pelo discurso, que ele não é<br />

79 Ibid., p. 11.

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