O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Castoriadis é consi<strong>de</strong>rado “continuador e crítico <strong>da</strong> tradição filosófica e psicanalítica”<br />
(COLECLOUGH, 1999, p. 294). De 1968 a 1971, o filósofo <strong>de</strong>senvolveu estudos sobre a<br />
linguag<strong>em</strong>; porém a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> continuou sendo o objeto central <strong>de</strong> sua investigação e <strong>em</strong> seus<br />
últimos trabalhos publicados, as idéias sobre imaginário radical, as significações imaginárias<br />
sociais, a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> instituinte e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> instituí<strong>da</strong>, entre outras, foram retoma<strong>da</strong>s e<br />
repensa<strong>da</strong>s como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>, como ele mesmo diz no prefácio <strong>de</strong> seu livro A instituição<br />
imaginária <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Castoriadis retoma e revaloriza o papel <strong>da</strong> imaginação no processo <strong>de</strong> socialização, na<br />
criação <strong>de</strong> um indivíduo social através <strong>da</strong>s inter-relações que surg<strong>em</strong> com o dizer e o fazer<br />
dos outros. Portanto, nesta concepção, o autor consi<strong>de</strong>ra que o vínculo entre significante e<br />
significado não é rígido, pois a criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> estão implícitas <strong>em</strong> to<strong>da</strong> a criação<br />
cultural. O sujeito não é abstrato, constitui-se através <strong>da</strong>s práticas sociais fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s na<br />
re<strong>de</strong> simbólica institucional estabeleci<strong>da</strong> pelo imaginário social constituinte <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. A história é o lugar <strong>da</strong> encarnação <strong>da</strong>s significações e estas são parte <strong>de</strong> um todo,<br />
significam a partir <strong>de</strong> um contexto social. E mais: “os tipos <strong>de</strong> motivação (e os valores<br />
correspon<strong>de</strong>ntes que polarizam e orientam a vi<strong>da</strong> dos homens) são criações sociais, que ca<strong>da</strong><br />
cultura institui valores que lhe são próprios e conforma os indivíduos <strong>em</strong> função <strong>de</strong>les” (1991,<br />
p. 37).<br />
Castoriadis conclui: “Ter uma experiência <strong>da</strong> história enquanto ser histórico é ser na e<br />
<strong>da</strong> história, como também ser na e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>” (1991, p. 47). E é nesse contexto <strong>de</strong><br />
argumentação que o autor trata <strong>da</strong> questão <strong>da</strong> autonomia e <strong>da</strong> heteronomia ou alienação social.<br />
O autor afirma que a pr<strong>em</strong>issa fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> teoria marxista “<strong>de</strong> que na economia capitalista<br />
os homens, proletários ou capitalistas, são efetiva e integralmente transformados <strong>em</strong> coisas,<br />
reificados” (CASTORIADIS, 1991, p.27), <strong>de</strong>ve ser contesta<strong>da</strong>, pois, para ele, o processo <strong>de</strong><br />
reificação nunca po<strong>de</strong> ser consoli<strong>da</strong>do <strong>de</strong> forma integral como pensava Marx, justamente<br />
porque a imaginação radical propulsiona um projeto e um dizer/fazer lúcido, uma ação<br />
revolucionária <strong>da</strong>s classes sociais contra esta tendência à <strong>de</strong>sumanização e a favor <strong>da</strong><br />
autonomia social. Nesse processo histórico-dialético, a luta contra a reificação humana, na<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, acaba sendo a mola-mestra propulsora, condição sine qua non do funcionamento<br />
capitalista.<br />
A significação imaginária que instituiu a escravidão, a exploração e a espoliação <strong>de</strong><br />
seres humanos está relaciona<strong>da</strong> com a <strong>de</strong>finição que a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> fez e faz <strong>de</strong> suas<br />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e com a imag<strong>em</strong> que faz do mundo.<br />
60