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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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ain<strong>da</strong>, consi<strong>de</strong>ra que a autonomia não é a “eluci<strong>da</strong>ção s<strong>em</strong> resíduo e eliminação total do<br />

discurso do Outro não reconhecido como tal. Ela é instauração <strong>de</strong> uma outra relação entre o<br />

discurso do Outro e o discurso do sujeito” 90 , numa ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> subjetiva <strong>em</strong> que o objeto é o<br />

discurso do outro.<br />

O próprio Castoriadis interroga e respon<strong>de</strong>: Será que este sujeito ativo<br />

153<br />

[...] é puro olhar, capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> pura <strong>de</strong> evocação, colocação à distância, centelha fora<br />

do t<strong>em</strong>po, não-dimensionali<strong>da</strong><strong>de</strong>? Não, ele é olhar e suporte do olhar, pensamento e<br />

suporte do pensamento, é ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e corpo ativo - corpo material e corpo<br />

metafórico. Um olhar no qual não existe já o olhado na<strong>da</strong> po<strong>de</strong> ver; um pensamento<br />

no qual não existe já o pensado na<strong>da</strong> po<strong>de</strong> pensar [...]. No sujeito como sujeito existe<br />

o não-sujeito 91 .<br />

Contudo, é pela liber<strong>da</strong><strong>de</strong> inalienável, que pod<strong>em</strong>os <strong>de</strong>sviar o olhar.<br />

Arendt (2005) l<strong>em</strong>bra-nos do “ônus <strong>da</strong> irreversibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> imprevisibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />

quais se origina a própria força do processo <strong>da</strong> ação” (p. 245). Nossa ação é imprevisível e, ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po, irreversível: não há como voltar atrás e apagá-la no t<strong>em</strong>po <strong>da</strong> história. O<br />

caráter <strong>de</strong> imprevisibili<strong>da</strong><strong>de</strong> antece<strong>de</strong> e suce<strong>de</strong> a ação, ou seja, não se po<strong>de</strong> prevê-la n<strong>em</strong> os<br />

seus efeitos. A filósofa ain<strong>da</strong> aponta a facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> perdoar como “a única solução possível<br />

para o probl<strong>em</strong>a <strong>da</strong> irreversibili<strong>da</strong><strong>de</strong>” E para a imprevisibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, a solução está na “facul<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> prometer e cumprir promessas” 92 . Perdoar e prometer.<br />

Ambas as facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, portanto, <strong>de</strong>pend<strong>em</strong> <strong>da</strong> plurali<strong>da</strong><strong>de</strong>; na solidão e no<br />

isolamento, o perdão e a promessa não chegam a ter reali<strong>da</strong><strong>de</strong>: são, no máximo, um<br />

papel que a pessoa encena para si mesma 93 .<br />

Para Arendt (2005), o perdão “é o corretivo necessário aos <strong>da</strong>nos inevitáveis causados<br />

pela ação” (p. 250), “a única reação que não re-age apenas, mas age <strong>de</strong> novo e<br />

inespera<strong>da</strong>mente, s<strong>em</strong> ser condiciona<strong>da</strong> pelo ato que a provocou e <strong>de</strong> cujas consequências<br />

liberta tanto o que perdoa quanto o que é perdoado”. É exatamente o oposto <strong>da</strong> vingança que é<br />

“uma reação natural e automática à transgressão” 94 .<br />

Retornando a Bakhtin (1992b), o autor fala do processo interlocutivo como<br />

movimento vivo, <strong>de</strong> peso <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> acontecimento <strong>de</strong> um na vi<strong>da</strong> do outro; do <strong>de</strong>sejo<br />

humano <strong>de</strong> ser herói na vi<strong>da</strong> do outro; quando somos autores, quando somos heróis, quando<br />

somos cocriadores pela alteri<strong>da</strong><strong>de</strong> responsiva:<br />

90 CASTORIADIS, op. cit.<br />

91 Ibid., p. 127.<br />

92 Ibid., p. 248.<br />

93 Ibid., p. 249.<br />

94 Ibid., et.seq.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> efetiva do acontecimento, quando somos dois, o<br />

que importa não é o fato <strong>de</strong> que, além <strong>de</strong> mim, haja mais outro hom<strong>em</strong>, s<strong>em</strong>elhante

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