O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Segundo o pensamento vigotskiano, a linguag<strong>em</strong> é teci<strong>da</strong> nas relações sociais e se interioriza<br />
através <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com a própria linguag<strong>em</strong> (VIGOTSKI, 2005). Exist<strong>em</strong> alguns<br />
pesquisadores marxistas que têm levantado uma discussão com relação aos termos<br />
interacionismo e sócio-interacionismo aplicados à teoria vigotskiana. É o caso <strong>de</strong> Duarte<br />
(1996, 1998a e 1998b, apud DUARTE, 2006):<br />
[...] o interacionismo é um mo<strong>de</strong>lo biológico <strong>de</strong> análise <strong>da</strong>s relações entre<br />
organismo e meio ambiente, mo<strong>de</strong>lo esse <strong>em</strong>pregado por Piaget para analisar <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> inteligência até as formações sociais (PIAGET, 1973).<br />
Insistimos nesse aspecto, pois é comum entre educadores brasileiros a utilização do<br />
termo interacionismo como sinônimo <strong>de</strong> uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> que valoriza as interações<br />
no processo <strong>de</strong> conhecimento [...]. Quando diz<strong>em</strong>os que Vigotski não é<br />
interacionista, estamos afirmando que sua teoria não se enquadra no mo<strong>de</strong>lo teórico<br />
do interacionismo (p. 178).<br />
O autor explicita as razões pelas quais consi<strong>de</strong>ra até mesmo o termo sócio-<br />
interacionismo ina<strong>de</strong>quado à teoria Vigotskiana. Para ele, este termo, <strong>da</strong> mesma forma que<br />
interacionismo, está relacionado a uma análise naturalizante e biologizante do social e “não<br />
permite uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> que leve à compreensão do hom<strong>em</strong> como um ser histórico e social”<br />
60 .<br />
Consi<strong>de</strong>rei importante trazer presente os argumentos do autor referido acima porque<br />
Vigotski é um dos teóricos principais <strong>de</strong> minha pesquisa e realmente, durante a revisão <strong>da</strong><br />
literatura, houve momentos <strong>de</strong> dúvi<strong>da</strong> sobre qual abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> que <strong>de</strong>terminado pesquisador<br />
estava se referindo.<br />
Em suas formulações teóricas, Citelli (1994, p.16) argumenta:<br />
Se o professor pensa o ensino <strong>da</strong> língua a partir <strong>de</strong> uma referência interacional<br />
(inter-ação), saberá radicalizar o aspecto dialógico e trabalhará o seu discurso como<br />
um entre vários, no meio dos quais estarão aqueles dos alunos que viv<strong>em</strong><br />
experiências culturais diferencia<strong>da</strong>s, que falam sobre o mundo a partir <strong>de</strong> lugares<br />
múltiplos, que operam variáveis lingüísticas n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre afina<strong>da</strong>s com a do mestre<br />
[...], o ensino <strong>da</strong> língua, terá que refletir, [...], a dinâmica do confronto inter e<br />
intradiscursivo e não apenas consi<strong>de</strong>rar a variável linearmente codifica<strong>da</strong> pela<br />
gramática padrão como a única a ser valoriza<strong>da</strong> e aplaudi<strong>da</strong>.<br />
O que estes autores vêm buscando d<strong>em</strong>onstrar é que o processo <strong>de</strong> ensino-<br />
aprendizag<strong>em</strong> envolve diferentes capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> e vai muito além <strong>da</strong> prática <strong>de</strong><br />
ensinar a língua como um sist<strong>em</strong>a normativo, não <strong>de</strong>vendo estar dissocia<strong>da</strong> <strong>de</strong> seu conteúdo<br />
i<strong>de</strong>ológico, situado e dialógico (BAKHTIN, 1992a). Enunciação e dialogia são dois conceitos<br />
básicos no pensamento bakhtiniano. Dialogismo na <strong>enunciação</strong> quer dizer que o discurso é<br />
compreendido como produto <strong>de</strong> outros discursos. O discurso do sujeito só t<strong>em</strong> sentido por<br />
causa do outro. Muitos estudos sobre Linguística buscaram estabelecer aproximações entre as<br />
60 Ibid., p. 179.<br />
83