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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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<strong>de</strong>terminantes sociais, econômicos e culturais e superaram as gerações anteriores <strong>em</strong> termos<br />

<strong>de</strong> longevi<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar e inserção na cultura escrita” 72 .<br />

Ao ler as produções textuais <strong>da</strong>s crianças, consi<strong>de</strong>rei também a influência dos<br />

enunciados <strong>de</strong> uns sobre os outros, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que o espaço para a palavra ia sendo<br />

repassado na dinâmica utiliza<strong>da</strong>; como por ex<strong>em</strong>plo, a <strong>em</strong>oção <strong>da</strong>s mães quando eles se<br />

mostraram competentes para ler e escrever e a compra <strong>de</strong> revistas “gibis”, seja como<br />

recompensa, seja como estímulo para o aperfeiçoamento <strong>da</strong> leitura e escrita.<br />

Outro fato que se evi<strong>de</strong>nciou nas ro<strong>da</strong>s <strong>de</strong> conversa está relacionado às experiências<br />

<strong>da</strong> criança com os adultos no processo <strong>de</strong> ensino-aprendizag<strong>em</strong>. A partir <strong>de</strong> uma inferência<br />

indutiva sobre seus relatos orais e escritos e sobre o que pu<strong>de</strong> observar no cotidiano <strong>da</strong>s<br />

crianças pesquisa<strong>da</strong>s, ouso afirmar que, quando uma criança revela no contexto familiar ter<br />

atingido um <strong>de</strong>terminado conhecimento, a resposta do adulto a essa sua revelação é senti<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> modo diferente <strong>da</strong>quele que ela experimenta no espaço escolar ao revelar a mesma<br />

experiência para o professor. Se o filho diz ou mostra <strong>de</strong>libera<strong>da</strong>mente um aprendizado, esse<br />

fato se torna motivo <strong>de</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong>, segundo a narrativa <strong>da</strong>s próprias crianças. Se o aluno diz<br />

ou mostra <strong>de</strong>libera<strong>da</strong>mente que alcançou um aprendizado para um professor, a reação <strong>de</strong>sse a<br />

essa palavra é muito diferente <strong>da</strong> que a mãe apresenta. O certo é que a receptivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e o<br />

acolhimento <strong>da</strong> palavra dita têm um peso muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> acontecimento, principalmente na<br />

vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crianças <strong>de</strong>sta fase escolar que estou investigando, <strong>em</strong> que talvez o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ser<br />

herói para as pessoas que elas amam seja o mais forte. A noção <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r para ter sucesso<br />

na vi<strong>da</strong> não é tão forte quanto a experiência <strong>de</strong> ser tomado como herói por qu<strong>em</strong> se ama.<br />

Estas reflexões vão ao encontro do que Galvão (2007) consi<strong>de</strong>ra como <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mental<br />

importância nas observações <strong>de</strong> campo sobre trajetórias <strong>de</strong> inserção na cultura escrita, recorrer<br />

além do indivíduo, a outras escalas <strong>de</strong> observação, como “à linhag<strong>em</strong> familiar que antece<strong>de</strong> o<br />

caso <strong>em</strong> três ou quatro gerações e ao lugar ocupado pela alfabetização, pela escola e pela<br />

circulação <strong>de</strong> material escrito nas épocas e locais estu<strong>da</strong>dos” (p. 24).<br />

No caso <strong>da</strong>s crianças <strong>da</strong> pesquisa, ao relatar<strong>em</strong> a <strong>em</strong>oção dos pais, sobretudo <strong>da</strong>s<br />

mães, é como se apreen<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> <strong>de</strong>ssa experiência que seu apren<strong>de</strong>r o confirma como dádiva,<br />

orgulho materno, ou ain<strong>da</strong>, uma recompensa <strong>em</strong>ocional <strong>da</strong> mãe. Isso me leva a confrontar a<br />

primeira inferência feita e exposta acima, com a teoria psicanalítica <strong>de</strong> Donald Winnicott,<br />

acerca <strong>da</strong> relação entre uma “boa mãe” e seu filho, principalmente nos parágrafos nos quais o<br />

analista e pediatra diz que a mãe, antes <strong>de</strong> ser uma pessoa, é um ambiente e que a ela<br />

72 Ibid., op. cit., p. 23.<br />

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