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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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2.3 A intersubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> humana e a arte como re-presentação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>: as multifaces do<br />

herói<br />

Para trabalhar este t<strong>em</strong>a, optei por um aporte teórico relativamente diversificado que<br />

se aproximasse <strong>da</strong>s teorias estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>de</strong> Bakhtin (1992a, 1992b), Castoriadis (1991), Arendt<br />

(2005) e Vigotski (1998, 2003, 2005, 2007). Primeiro, trat<strong>em</strong>os <strong>de</strong> alguns pontos do<br />

pensamento e <strong>da</strong> arte grega antiga, estu<strong>da</strong>dos por filósofos cont<strong>em</strong>porâneos e algumas<br />

apropriações <strong>de</strong>stes pontos pela Psicanálise, retornando por fim aos teóricos estu<strong>da</strong>dos nesta<br />

pesquisa, uma vez que <strong>em</strong> todos eles, encontra-se uma analogia entre a vi<strong>da</strong> humana e a do<br />

herói. A leitura <strong>de</strong> diferentes autores me levou a compreen<strong>de</strong>r esta analogia, sob posições<br />

exotópicas varia<strong>da</strong>s, permitindo uma experiência <strong>de</strong> vários movimentos interlocutivos com os<br />

<strong>sujeitos</strong> pesquisados, <strong>de</strong>ntre os quais busco expor nesta seção.<br />

O povo grego tinha duas gran<strong>de</strong>s sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s: uma para o sofrimento e outra para<br />

arte. Diante <strong>da</strong> dor <strong>da</strong> existência, a arte surge como uma forma <strong>de</strong> intensificação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>: as<br />

mulheres belas e os heróis valentes eram objetos <strong>de</strong> admiração, e ain<strong>da</strong> os utensílios feitos<br />

com arte 40 . Os <strong>de</strong>uses olímpicos foram criados para divinizar o que existe, constituindo-se a<br />

arte apolínea numa forma <strong>de</strong> subjetivação fun<strong>da</strong><strong>da</strong> na exteriori<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Pod<strong>em</strong>os dizer que os gregos, por outro lado, buscaram na arte trágica, uma forma <strong>de</strong><br />

li<strong>da</strong>r com o instinto estético dionisíaco 41 , que resultava na ausência <strong>de</strong> forma, na <strong>em</strong>briaguez,<br />

na <strong>de</strong>smesura, na morte. A arte trágica surge como uma forma <strong>de</strong> conviver com a hybris -<br />

aquilo que é incontrolável no ser humano, a pulsão -, <strong>da</strong>ndo-lhe um contorno através <strong>da</strong> arte.<br />

Nas tragédias gregas, é como se o hom<strong>em</strong> grego tivesse sido salvo mais uma vez pela arte<br />

(MACHADO, 1985). O hom<strong>em</strong> passa a ser consi<strong>de</strong>rado o autor <strong>de</strong> sua própria <strong>de</strong>cisão. A<br />

orig<strong>em</strong> <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>cisões voluntárias ou, <strong>em</strong> geral, <strong>de</strong> quaisquer <strong>em</strong>oções ou sentimentos já<br />

não é concebi<strong>da</strong> como <strong>de</strong>terminação dos <strong>de</strong>uses, como na concepção <strong>de</strong> hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> Homero<br />

(SNELL, 1992).<br />

Em Édipo Rei, a situação inicial é <strong>de</strong> calami<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> ignomínia, “que fez parar a vi<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> modo que o mundo dos seres humanos não mais se comunica com o mundo divino”<br />

(VERNANT, 1970, p. 288). O autor ain<strong>da</strong> acrescenta <strong>em</strong> sua análise que é na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> “a<br />

40 Cf.: SNELL, 1992.<br />

41 A expressão refere-se ao instinto estético <strong>da</strong> natureza e faz alusão também ao culto grego prestado ao <strong>de</strong>us<br />

Dionísio <strong>de</strong> uma religião estrangeira que teria vencido a resistência apolínea. A arte trágica (o dionisíaco<br />

artístico) teria sido um antídoto contra o dionisíaco orgiástico (MACHADO, 1985).<br />

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