19.04.2013 Views

O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

entonações. Algumas vezes Marlon foi interrompido <strong>em</strong> suas réplicas. Maurício tentou<br />

contribuir para seu constrangimento, afinal quase s<strong>em</strong>pre é com ele que isso acontece. Gabriel<br />

tentou ajudá-lo, garantindo à funcionária que Marlon t<strong>em</strong> livro para repor o que per<strong>de</strong>u.<br />

Concordo com Grillo que haja uma inter-relação entre as interações na i<strong>de</strong>ologia do<br />

cotidiano e as que ocorr<strong>em</strong> nas esferas i<strong>de</strong>ológicas constituí<strong>da</strong>s (GRILLO, 2006); e que é “na<br />

relação com os discursos do Outro, que se apreen<strong>de</strong> a história que perpassa o discurso” (p.<br />

191). Neste rumo, também Silva (1999) argumenta que “a relação entre as enunciações dá-se<br />

na interdiscursivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e essas enunciações se encontram a partir <strong>da</strong>s posições do sujeito” (p.<br />

118). Quais as chances que ca<strong>da</strong> um dos alunos t<strong>em</strong> <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> para revelar-se pelo<br />

discurso e ação?<br />

Esta pergunta pervagou to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>s e voltas ao campo pesquisado, o que me levou a<br />

refletir a questão <strong>da</strong> divisão do t<strong>em</strong>po do professor nas relações dialógicas com as crianças e<br />

quanto aos discursos e ações <strong>em</strong> prol <strong>de</strong> um alargamento <strong>de</strong> horizontes para todos os <strong>sujeitos</strong><br />

<strong>de</strong>sse cotidiano, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do grau <strong>de</strong> apropriação <strong>de</strong> conhecimentos científicos e <strong>da</strong><br />

internalização <strong>de</strong> comportamentos; salientando que, nestes últimos, discursos e ações estão<br />

imbricados tanto os do professor quanto dos alunos, ambos com seus inúmeros ecos pré-<br />

existentes.<br />

O peso <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> acontecimento <strong>da</strong> palavra alheia: Qual o impacto <strong>da</strong> palavra alheia<br />

no aprendizado <strong>da</strong> criança na escola? Esta palavra po<strong>de</strong> ser autoritária: exigir reconhecimento<br />

e assimilação. Po<strong>de</strong> ser interiormente persuasiva, entrelaça<strong>da</strong> com as palavras do hom<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

<strong>formação</strong> e fun<strong>da</strong>mental para o processo <strong>de</strong> autonomia e in<strong>de</strong>pendência.<br />

Fico pensando num contexto <strong>de</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong>, <strong>em</strong> quantas práticas pe<strong>da</strong>gógicas que<br />

adotamos que corroboram para que o aluno se mantenha aprisionado, congelado, não crie<br />

asas. Além disso, t<strong>em</strong>os uma forte resistência ao que Bakhtin (1992b) <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> cultura<br />

<strong>da</strong>s fronteiras:<br />

155<br />

A vi<strong>da</strong> ten<strong>de</strong> a ensimesmar-se, a retirar-se <strong>em</strong> seu infinito interior, ela t<strong>em</strong>e as<br />

fronteiras, busca <strong>de</strong>gradá-las, pois não acredita na substanciali<strong>da</strong><strong>de</strong> e na bon<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma força que lhe proporcione uma forma do exterior; qualquer ponto <strong>de</strong> vista<br />

exterior é rejeitado. A cultura <strong>da</strong>s fronteiras – condição indispensável <strong>de</strong> um estilo<br />

profundo e seguro – fica, claro, impossível. As fronteiras <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>? Justamente, não<br />

t<strong>em</strong>os na<strong>da</strong> que fazer com elas, to<strong>da</strong>s as forças criadoras bat<strong>em</strong> <strong>em</strong> retira<strong>da</strong>,<br />

abandonando as fronteiras às velei<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> sorte (p. 216-217).<br />

O <strong>de</strong>safio está <strong>em</strong> combater a tendência a querer que o outro se fun<strong>da</strong> conosco. Diria<br />

Bakhtin (1992b): “ora, eu preciso é <strong>de</strong> um autor que não participe do acontecimento<br />

imaginário” e “<strong>de</strong> volta a mim mesmo, não <strong>de</strong>vo fazer uso pessoal <strong>de</strong> seu julgamento” (p. 50-<br />

51), pois, afirma ele, “na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> protagonista <strong>de</strong> minha vi<strong>da</strong> – real ou imaginária –

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!