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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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(1991, p. 355), <strong>de</strong> forma que haja “representações/ significações altera<strong>da</strong>s e novas” 52 . O<br />

inconsciente ressignifica o objeto pela sublimação, <strong>de</strong>sviando-o e modificando-o para outro<br />

fim.<br />

Nesse sentido, quero trazer novamente o interdiscurso para o foco <strong>da</strong>s atenções,<br />

apoiando-me novamente <strong>em</strong> Bakhtin e Arendt.<br />

A cultura atual agrava nossa dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> ser com os outros, multiplicando<br />

os obstáculos à liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong> nós. Querer o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> todos é não querer ser coisa e<br />

n<strong>em</strong> querer que os outros o sejam; rejeitando a tendência ao apequenamento que insiste <strong>em</strong> se<br />

fazer presente nos contextos sociais, que se revelam sob diversas formas, inclusive nas formas<br />

discursivas. “Só no completo silêncio e na total passivi<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> alguém ocultar qu<strong>em</strong> é”<br />

(ARENDT, 2005, p. 192). O ser humano <strong>de</strong>seja revelar-se e revela-se pelo discurso e pela<br />

ação, mas a história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> e nossa presença nesta história nos permit<strong>em</strong> dizer como<br />

Arendt que<br />

[...] os homens persist<strong>em</strong> <strong>em</strong> fabricar, fazer e construir, <strong>em</strong>bora estas facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s se<br />

limit<strong>em</strong> ca<strong>da</strong> vez mais aos talentos do artista, <strong>de</strong> sorte que as respectivas<br />

experiências <strong>de</strong> mun<strong>da</strong>ni<strong>da</strong><strong>de</strong> escapam ca<strong>da</strong> vez mais à experiência humana comum<br />

[...], também a ação passou a ser uma experiência limita<strong>da</strong> a um pequeno grupo <strong>de</strong><br />

privilegiados; e os poucos que ain<strong>da</strong> sab<strong>em</strong> o que significa agir talvez sejam ain<strong>da</strong><br />

menos numerosos que os artistas, e sua experiência ain<strong>da</strong> mais rara que a<br />

experiência genuína do mundo e do amor pelo mundo (2005, p. 337-338).<br />

Ca<strong>da</strong> sujeito, um herói <strong>de</strong> uma história. Ca<strong>da</strong> história, incontáveis autores. Ca<strong>da</strong><br />

sujeito, um elo no fio do discurso, <strong>em</strong> suas mais varia<strong>da</strong>s formas. Em ca<strong>da</strong> discurso e ação, a<br />

certeza <strong>de</strong> que “os homens, <strong>em</strong>bora <strong>de</strong>vam morrer, não nasc<strong>em</strong> para morrer, mas para<br />

começar” (ARENDT, 2005, p. 258).<br />

Para o pensamento bakhtiniano, o enunciado é apenas um elo entre os elos <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ia<br />

<strong>da</strong> comunicação verbal e s<strong>em</strong>pre provoca uma responsivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, uma resposta do outro,<br />

sobretudo, quando o contexto <strong>de</strong> <strong>enunciação</strong> permite<br />

[...] um processo lento e complexo <strong>de</strong> expulsão <strong>da</strong> palavra sacraliza<strong>da</strong> do outro, e, <strong>de</strong><br />

um modo mais geral, <strong>da</strong> palavra sacraliza<strong>da</strong> e dota<strong>da</strong> <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>, infalível,<br />

incontestável, irrevogável. A palavra que, protegi<strong>da</strong> <strong>em</strong> suas fronteiras sagra<strong>da</strong>s,<br />

intransponíveis, é inerte, com possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s limita<strong>da</strong>s <strong>de</strong> contato e <strong>de</strong> combinação.<br />

Palavra que refreia e congela o pensamento. Palavra que exige a reiteração piedosa e<br />

não o <strong>de</strong>senvolvimento, a retificação, o compl<strong>em</strong>ento. Palavra exila<strong>da</strong> do diálogo<br />

[...] refreando o pensamento e a experiência viva (BAKHTIN, 1992b, p. 372).<br />

Muitas vezes o que se vê socialmente na<strong>da</strong> mais é do que uma multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

monólogos entre alguns atores sociais, ca<strong>da</strong> um tentando envolver <strong>de</strong> brilhantismo seus<br />

próprios enunciados, revelando uma espécie <strong>de</strong> “narcisismo patológico”; num processo<br />

52 CASTORIADIS, 1991, p. 357.<br />

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