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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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po<strong>de</strong>r” 78 , revelando a existência <strong>de</strong> um regime discursivo e os efeitos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r próprios do<br />

<strong>jogo</strong> enunciativo. Para ele, a análise <strong>da</strong>s relações humanas <strong>de</strong>ve ter como referência a guerra e<br />

a batalha, ao invés <strong>de</strong> língua e signos (FOUCAULT, 1978 apud MACHADO, 2009, p. 6).<br />

Bastariam estes pontos para iniciarmos um trabalho <strong>de</strong> aproximações entre as<br />

abor<strong>da</strong>gens filosóficas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s até aqui e as <strong>de</strong> Foucault. Mas não é o caso <strong>de</strong> fazê-lo neste<br />

trabalho; e apenas como compl<strong>em</strong>ento retornarei ao pensamento filosófico foucaultiano.<br />

Diz Geraldi (1995) que “no <strong>em</strong>bate <strong>da</strong>s relações interlocutivas, a construção dos<br />

modos <strong>de</strong> ver o mundo não é s<strong>em</strong>pre harmônica” e que geralmente, representamos <strong>de</strong> modo<br />

distinto uma mesma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> função dos interlocutores aos quais dirigimos nossas falas<br />

ou <strong>em</strong> função <strong>da</strong> ação que pretend<strong>em</strong>os realizar, uma vez que “tanto falar quanto compreen<strong>de</strong>r<br />

envolve intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong>” (GERALDI, 1995, p. 24-27). Para o autor, o caminho <strong>da</strong><br />

argumentação é que permite a alternância <strong>de</strong> posições entre os <strong>sujeitos</strong> discursivos e a<br />

alteração nos discursos durante um processo <strong>de</strong> interlocução; consi<strong>de</strong>ra ain<strong>da</strong> que a<br />

argumentação dos <strong>sujeitos</strong> parte <strong>de</strong> acordos previamente estabelecidos nas diferentes formas<br />

<strong>de</strong> relações, ressalvando-se que possa haver critérios <strong>de</strong> hierarquização e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r,<br />

influenciando nos julgamentos <strong>de</strong> valor atribuído aos discursos proferidos por ca<strong>da</strong> um dos<br />

<strong>sujeitos</strong>. Esses julgamentos <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser estu<strong>da</strong>dos ou analisados a partir <strong>da</strong><br />

compreensão <strong>da</strong>s significações sociais.<br />

Evento I<br />

Vejamos um primeiro evento ocorrido durante a observação <strong>de</strong> campo na turma:<br />

A professora começa a <strong>da</strong>r vários ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> “diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e respeito às diferenças”, entre eles, a feira <strong>de</strong> São<br />

Cristovão; “on<strong>de</strong> várias pessoas, inclusive estrangeiras, conviv<strong>em</strong> s<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as”; e numa <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> frase<br />

usou a palavra cortesia. Os alunos perguntaram quase que <strong>em</strong> coro:<br />

- O que é cortesia?<br />

- Alguém quer explicar? Perguntou a professora.<br />

- É ser educado com o outro. Na feira t<strong>em</strong> japonês, chinês, americano, convivendo s<strong>em</strong> briga - argumentou<br />

Tatiana (Observação <strong>de</strong> campo <strong>em</strong> 09/09/2008).<br />

Em sua argumentação, a aluna <strong>de</strong>u sequência aos argumentos <strong>da</strong> professora que havia<br />

citado a presença <strong>de</strong> “japonês, chinês e americano” na “Feira <strong>de</strong> São Cristovão no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro” como ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> convivência harmoniosa, apesar <strong>da</strong>s diferenças<br />

entre as pessoas. Só que esse argumento se <strong>de</strong>u após uma discussão com a turma sobre a<br />

indisciplina <strong>de</strong> alguns alunos, durante a exibição <strong>de</strong> um filme <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> e <strong>da</strong> quebra <strong>de</strong><br />

compromisso com as regras estabeleci<strong>da</strong>s por eles previamente.<br />

78 FOUCAULT, 1978, p. 7.<br />

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