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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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pelo ângulo <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se criar condições educativas e pe<strong>da</strong>gógicas que estimul<strong>em</strong> a<br />

reação e a produção <strong>de</strong> réplicas.<br />

Um caminho possível é aquele <strong>em</strong> que os professores possam <strong>de</strong>senvolver e investir<br />

nessa reação do aluno, no ato criador que renova e re-configura o já dito. É enxergando o<br />

aluno como um ser humano <strong>de</strong> ação que a questão <strong>da</strong>s interações <strong>em</strong> classe escolar <strong>de</strong>ve ser<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>, não apenas segundo uma perspectiva cognitiva <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, mas filosófico-<br />

política, partindo <strong>da</strong> pr<strong>em</strong>issa <strong>de</strong> que o espaço <strong>de</strong> uma <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> ain<strong>da</strong> não se constitui, na<br />

maioria <strong>da</strong>s vezes, num palco <strong>de</strong> negociações <strong>de</strong> sentidos. Isto seria, no entanto, uma utopia a<br />

ser persegui<strong>da</strong>.<br />

Evento XXXII<br />

Professora: Pensar b<strong>em</strong> antes <strong>de</strong> escolher o candi<strong>da</strong>to. São 4 anos.<br />

Úrsula: Quatro anos é muito t<strong>em</strong>po.<br />

Professora: Então, mais uma vez, cui<strong>da</strong>do para não ser Maria-vai-com-as-outras.<br />

Maurício começou a falar <strong>de</strong> Lula, mas a professora interrompeu dizendo:<br />

- Vamos lá fora ouvir a história.<br />

Maurício: Ah, não! História é muito chato.<br />

Os alunos foram para o pátio. Maurício diz para a pesquisadora:<br />

- Tia, nós vamos matar o Sérgio Cabral.<br />

A professora adverte-o:<br />

- Você está me obrigando a tirar você <strong>da</strong>qui. Senão, não vai <strong>da</strong>r pra realizar to<strong>da</strong>s as tarefas.<br />

Úrsula: Na creche, a professora leu e eu não entendi esta história. Mas eu peguei e li.<br />

A professora comentou sobre a autora e suas outras obras, imediatamente após a fala <strong>de</strong> Úrsula (Observação<br />

<strong>de</strong> campo, <strong>em</strong> 02/09/08).<br />

As relações dialógicas na <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> <strong>da</strong> turma 1303 eram marca<strong>da</strong>s por tensões,<br />

discrepâncias, dissonâncias entre horizontes e formações sociais discursivas dos <strong>sujeitos</strong><br />

escolares, consi<strong>de</strong>rando especificamente a relação alunos/professores. Nesses processos<br />

enunciativos intraescolares, como po<strong>de</strong>ríamos abrir uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> diferenciação, <strong>de</strong><br />

originali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, proporcionando um equilíbrio entre um ‘recomeçar’ e um<br />

‘repetir’? (GERALDI, 1995). Ca<strong>da</strong> um dos alunos e a professora revelavam <strong>em</strong> seus<br />

enunciados ecos, traços <strong>de</strong> suas formações discursivas. No caso <strong>da</strong>s crianças, começava pelo<br />

seu cotidiano mais imediato vivido fora <strong>da</strong> escola. Muitos <strong>de</strong>les passavam pouquíssimo t<strong>em</strong>po<br />

<strong>em</strong> família, frequentando creches, casas <strong>de</strong> vizinhos, ruas, ou mesmo dormindo até a hora <strong>de</strong><br />

ir<strong>em</strong> para a escola.<br />

Evento XXXIII<br />

Paulo: A Leila é muito honesta, porque ela fala: “Paulo, quer ver meu <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> casa pra ver se eu fiz tudo?” Aí,<br />

eu falo: “Leila, eu não preciso ver o seu, porque você já está me falando isso e então eu sei que você fez o <strong>de</strong>ver<br />

<strong>de</strong> casa”. O Alan não é assim. Porque ele não me mostra; quando o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong>le está errado, ele fala: “Não olha<br />

o meu, porque a tia vai brigar comigo”. Aí eu falo: “Alan, <strong>de</strong>ixa eu olhar... senão, a tia vai brigar com você e<br />

seu <strong>de</strong>ver vai estar errado. Aí ele: “Não olha o meu!”“. Aí, ele faz tudo <strong>em</strong>bolado. Mas às vezes ele faz todo o<br />

<strong>de</strong>ver sozinho, ele sabe fazer as continhas <strong>de</strong> vezes, sabe... A Leila também, às vezes sabe fazer, mas... (Ro<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

conversa, <strong>em</strong> 15/08/08).<br />

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