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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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intersubjetiva o locutor/autor e seu interlocutor/leitor, com seus respectivos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />

referências.<br />

Evento XXX<br />

A professora pega o livro <strong>de</strong> história, mas interrompe a sequência, chamando a atenção <strong>de</strong> um e <strong>de</strong> outro.<br />

Conversam junto com a professora. Ela pe<strong>de</strong> <strong>de</strong> novo. Mais alguns minutos, todos se acalmam. Então, ela fala<br />

que o texto está relacionado com os acontecimentos <strong>da</strong>s próximas eleições na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> carioca. E anuncia:<br />

- O título <strong>da</strong> história é sobre Maria-vai-com-as-outras. Qual a relação <strong>de</strong>ssa história com as eleições?<br />

Um dos alunos diz:<br />

- Eu vi na televisão que os mendigos <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser vagabundos para ser<strong>em</strong> eleitores!<br />

Então, a professora retomou a fala, dizendo:<br />

- Para votar t<strong>em</strong> que ter 16 anos, se quiser. Depois dos 18, é obrigatório. Gente, eu posso falar? Desse jeito<br />

vocês vão per<strong>de</strong>r a Educação Física. Essas não são atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma turma civiliza<strong>da</strong>... O voto é obrigatório; se<br />

não votar, a pessoa fica impedi<strong>da</strong> <strong>de</strong> muitas coisas.<br />

-Tia, minha mãe não gosta <strong>de</strong> ver programa eleitoral – disse Marlon.<br />

- Gente, o voto é secreto! É preciso conhecer as propostas dos candi<strong>da</strong>tos, vendo o horário <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> –<br />

disse a professora.<br />

E assim, vários queriam falar, principalmente, Maurício e Tatiana, que pediu explicação.<br />

Quando a professora sentiu que o assunto estava se distanciando do que ela tinha como proposta, pediu:<br />

- Vamos voltar aqui para não <strong>de</strong>sviar. O que t<strong>em</strong> a ver o título <strong>da</strong> história com a questão do eleitor?<br />

Ricardo quer falar e levanta o <strong>de</strong>do, já Úrsula falou bastante. Como na maioria <strong>da</strong>s vezes, poucos falam e o<br />

resto fica calado (Registro <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> campo <strong>em</strong> 02/09/2008).<br />

Geraldi (1995) analisa os mecanismos internos <strong>de</strong> controle sobre os enunciados, como<br />

os comentários sobre o texto do outro, a autoria, as regras para os discursos; assim como, os<br />

mecanismos externos <strong>de</strong> controle dos <strong>sujeitos</strong>: apropriação <strong>de</strong> saberes controla<strong>da</strong> pela<br />

instituição escola, as socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> discurso, a doutrina, etc.; o que contrapõe a uma visão<br />

romântica sobre as interações <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong>.<br />

Evento XXXI<br />

A professora aconselha acompanhar a propagan<strong>da</strong> eleitoral.<br />

Bernardo: Eu sei por que meu pai vai votar no Gabeira.<br />

Marcela: Minha mãe não t<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po para conhecer os candi<strong>da</strong>tos.<br />

Professora: No trabalho <strong>de</strong>la, <strong>em</strong> casa ela po<strong>de</strong> assistir.<br />

Marcela: O filho do patrão <strong>de</strong>la <strong>de</strong>ixa tudo sujo <strong>de</strong> pizza e ela não t<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po.<br />

Professora: Liga a televisão no jornal.<br />

Úrsula: Minha tia falou que não vai votar no Eduardo Paes porque ele teve chance <strong>de</strong> fazer e não fez na<strong>da</strong>.<br />

Marcela: Minha tia contou para minha mãe que viu Eduardo Paes fazendo ba<strong>de</strong>rna quando era jov<strong>em</strong>.<br />

Ricardo: Como po<strong>de</strong> existir o voto comprado?<br />

Úrsula: É assim, <strong>da</strong>ndo coisas.<br />

Professora: É o voto <strong>de</strong> cabresto. Coman<strong>da</strong>do por aquela pessoa.<br />

Tatiana: Tia, tia, eu quero falar!<br />

Professora: Espera, Tatiana, <strong>de</strong>ixa a Ivete falar. Ela ain<strong>da</strong> não falou (Registro <strong>de</strong> observação<br />

(<strong>em</strong> 02/09/2008).<br />

Neste evento, a professora manteve uma interlocução com as crianças e até mesmo<br />

aquelas que pouco falavam <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> <strong>da</strong>s suas opiniões, tiveram espaço para<br />

participar<strong>em</strong> do “<strong>de</strong>bate”, como Marcela e Ivete.<br />

Consi<strong>de</strong>ro que o fracasso escolar, e mais especificamente os probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> apresentados pelos alunos no ensino <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>, pod<strong>em</strong> ser questionados<br />

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