O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
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eificação, <strong>de</strong> apequenamento do ser humano, tão <strong>de</strong>nuncia<strong>da</strong> por Freire (1998); imputando-<br />
nos uma reassunção consciente <strong>da</strong>s exigências <strong>de</strong> uma práxis revolucionária; para que nossos<br />
discursos e ações produzam histórias, pois, “na ação e no discurso, os homens mostram qu<strong>em</strong><br />
são [...] quando as pessoas estão com outras, isto é, no simples gozo <strong>da</strong> convivência humana,<br />
e não ‘pró’ ou ‘contra’ as outras” (ARENDT, 2005, p. 192).<br />
Pergunt<strong>em</strong>os s<strong>em</strong>pre a nós mesmos, subjetiva e objetivamente, como aconselha<br />
Castoriadis, para nos conservarmos revolucionários e não perseguirmos uma quimera:<br />
Será que meu <strong>de</strong>sejo é <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r? Mas o que eu quero é a abolição do po<strong>de</strong>r<br />
no sentido atual, é o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> todos. O po<strong>de</strong>r atual é que os outros são coisas, e tudo<br />
o que quero opõe-se a isso. Aquele para qu<strong>em</strong> os outros são coisas, é ele próprio<br />
uma coisa e eu não quero ser coisa n<strong>em</strong> para mim n<strong>em</strong> para os outros. Não quero<br />
que os outros sejam coisas, não teria o que fazer <strong>de</strong>las. Se posso existir para os<br />
outros, ser reconhecido por eles, não quero sê-lo <strong>em</strong> função <strong>da</strong> possessão <strong>de</strong> uma<br />
coisa que me é exterior – o po<strong>de</strong>r; n<strong>em</strong> existir para eles no imaginário. O<br />
reconhecimento do outro só vale para mim na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que eu mesmo o<br />
reconheço (1991, p. 115).<br />
O mundo <strong>da</strong>s significações “instaura condições e orientações comuns do factível e do<br />
representável” (CASTORIADIS, 1991, p. 413), organizando a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, porém, s<strong>em</strong>pre<br />
po<strong>de</strong>ndo ser altera<strong>da</strong> pelo “fazer e o representar/dizer social”, o que <strong>de</strong>scarta qualquer<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminismo.<br />
O processo <strong>da</strong> instituição social do indivíduo, isto é, <strong>da</strong> socialização <strong>da</strong> psique, é<br />
indissociavelmente o <strong>de</strong> uma psicogênese ou idiogênese, e <strong>de</strong> uma sociogênese ou<br />
koinogênese. É uma história <strong>da</strong> psique, no <strong>de</strong>curso <strong>da</strong> qual esta se altera e se abre<br />
para o mundo social-histórico, através, também <strong>de</strong> seu próprio trabalho e <strong>de</strong> sua<br />
própria criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>; e uma história <strong>de</strong> imposição à psique, pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> uma<br />
maneira <strong>de</strong> ser que a psique jamais po<strong>de</strong>ria fazer surgir a partir <strong>de</strong> si mesma e que<br />
fabrica-cria o indivíduo social 51 .<br />
O indivíduo social surge como “coexistência s<strong>em</strong>pre impossível e s<strong>em</strong>pre realiza<strong>da</strong>, <strong>de</strong><br />
um mundo privado (kosmos idios) e <strong>de</strong> um mundo comum ou público (kosmos koinos)”<br />
(CASTORIADIS, 1991, p. 413). O fluxo representativo não cessa <strong>de</strong> criar representações e<br />
auto-representações <strong>da</strong> psique, colocando <strong>em</strong> imagens, fazendo <strong>em</strong>ergir figuras, num processo<br />
contínuo, mesmo quando não há estimulação exterior. Segundo Castoriadis, a imposição <strong>da</strong><br />
relação com o outro e com os outros provoca uma sucessão <strong>de</strong> rupturas e consequentes<br />
construções sucessivas à psique. O po<strong>de</strong>r do outro só é <strong>de</strong>stituído na psique à medi<strong>da</strong> que<br />
também esse outro é <strong>de</strong>stituído do seu po<strong>de</strong>r sobre as significações. Entretanto, a psique<br />
retoma as formas socialmente instituí<strong>da</strong>s com to<strong>da</strong>s as suas significações, consistindo este<br />
processo numa “interface <strong>de</strong> contato entre o mundo privado e o mundo público ou comum”<br />
51 Ibid., p. 343.<br />
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