O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
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consi<strong>de</strong>rando o processo dialético presente no <strong>jogo</strong> enunciativo, o qual se dá <strong>em</strong> situações <strong>de</strong><br />
interação e <strong>de</strong> conflito tenso e ininterrupto (Bakhtin, 1992a, 1992b).<br />
Tratar os probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong> Língua Portuguesa logo nas etapas iniciais <strong>de</strong><br />
escolarização, pelo viés <strong>da</strong> interdiscursivi<strong>da</strong><strong>de</strong> humana, é pertinente e consonante com estudos<br />
<strong>de</strong> perspectiva histórico-dialética <strong>em</strong> que pesquisadores buscam englobar<br />
discurso/sujeito/socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> suas construções teóricas sobre ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s linguísticas,<br />
metalinguísticas e epilinguísticas no ensino <strong>da</strong> Língua Portuguesa. Em situações <strong>de</strong><br />
apropriação e produção discursiva, busca-se analisar “as diferentes formas <strong>de</strong> presença do<br />
outro na linguag<strong>em</strong> e no fio do discurso” (BRAIT, 2006, p. 23).<br />
Ensinar a Língua Portuguesa pela interlocução, na qual se produz a linguag<strong>em</strong> e os<br />
<strong>sujeitos</strong> se constitu<strong>em</strong> na singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> momento, consiste <strong>em</strong> aceitar a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> reiteração e <strong>de</strong> alteração quanto às estruturas linguísticas. São <strong>sujeitos</strong> singulares <strong>em</strong> um<br />
contexto social e histórico singular produzindo linguag<strong>em</strong>, estruturando sua consciência e<br />
conhecimento sobre o mundo, por meio <strong>de</strong> processos interlocutivos. Certamente, esses<br />
processos são contingenciados pelo controle e seleção <strong>de</strong>terminados pela <strong>formação</strong> social na<br />
qual são produzidos (GERALDI, 1995).<br />
Quase s<strong>em</strong>pre “a não compreensão <strong>de</strong> nosso interlocutor não é vista como uma<br />
negociação <strong>de</strong> sentidos <strong>da</strong>s expressões que utilizamos, mas como pobreza <strong>de</strong> recursos<br />
expressivos do próprio locutor ou <strong>de</strong> sua contraface, o interlocutor” 61 . O falar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />
operações <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> sentidos <strong>da</strong>s expressões utiliza<strong>da</strong>s no momento <strong>em</strong> que se dá a<br />
interação verbal.<br />
Sobre a interação e mediação promovi<strong>da</strong>s pelo professor influenciando na aquisição<br />
<strong>da</strong>s competências para leitura e escrita/letramento dos alunos, também já se discute, seja nas<br />
esferas científicas ou não. O espaço para o discurso do outro que v<strong>em</strong> permeado <strong>de</strong> inúmeros<br />
discursos ao ser colocado, enunciado, se amplia pelas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> efetiva interação.<br />
No entanto, para minha visão <strong>de</strong> mundo e minha posição político-i<strong>de</strong>ológica não<br />
bastam interação n<strong>em</strong> mediação. Aliás, venho buscando me <strong>de</strong>spir <strong>de</strong> uma visão d<strong>em</strong>asiado<br />
romântica, ou até mesmo, fantasiosa ou equivoca<strong>da</strong>, principalmente, sobre esses dois<br />
conceitos.<br />
A meu ver, a mais importante mediação que um professor po<strong>de</strong> fazer <strong>em</strong> seu trabalho<br />
<strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> e na vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> um aluno é, pela ação <strong>de</strong> forças centrífugas, gerar suavi<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<br />
sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, acalentos, utopias, encontros profundos entre os <strong>sujeitos</strong>, corag<strong>em</strong>, critici<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
61 Ibid., p. 9.<br />
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