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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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convergente com uma forma social <strong>de</strong> comportamento, “consegu<strong>em</strong>, com sucesso, impor a si<br />

mesmas uma atitu<strong>de</strong> social” 83 .<br />

Vigotski consi<strong>de</strong>ra que “a comunicação gera a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> checar e confirmar<br />

pensamentos, um processo que é característico do pensamento adulto” (VIGOTSKI, 2003, p.<br />

117), como também <strong>de</strong>fendia Piaget (1980).<br />

Para Vigotski, as funções psicológicas superiores – percepção, atenção, m<strong>em</strong>ória e<br />

pensamento - são <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> sócio-cultural, advin<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s formas media<strong>da</strong>s <strong>de</strong> comportamento.<br />

Segundo o autor, se eu, adulto, lido com a criança, ignorando esse aspecto <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mediação, a resposta que ela me <strong>da</strong>rá será meio caótica, <strong>de</strong>sconcertante, mais pareci<strong>da</strong> com<br />

nível el<strong>em</strong>entar do que com os níveis superiores. Querer a autonomia <strong>da</strong> criança não<br />

significaria <strong>de</strong>ixá-la sozinha diante dos <strong>de</strong>safios, pois não sendo pela mediação, seu<br />

comportamento seria o mais el<strong>em</strong>entar possível. Primeiro, a criança se subordina às regras do<br />

grupo para <strong>de</strong>pois se autoregular voluntariamente (VIGOTSKI, 2003, 2005).<br />

Entretanto, será que esse processo <strong>de</strong> subordinação rumo à autoregulação é tão simples<br />

assim? Ou interna e externamente se dá mesmo é <strong>de</strong> forma caótica e <strong>de</strong>sconcertante? Quanto<br />

pesa para uma criança a palavra do outro, criança e adulto? A meu ver, essa questão é<br />

fun<strong>da</strong>mental ao se planejar as formas <strong>de</strong> mediação entre os <strong>sujeitos</strong> na <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong>. Ouçamos<br />

as crianças:<br />

Evento V<br />

Paulo: A Leila t<strong>em</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> nas continhas, às vezes nos textos, nas perguntas... e só. O Alan se esquece <strong>de</strong><br />

fazer alguma coisa, não sabe fazer continhas direito... e só.<br />

Pesquisadora: Você s<strong>em</strong>pre aju<strong>da</strong> os dois?<br />

Paulo: Sim.<br />

Pesquisadora: Ou t<strong>em</strong> momentos que você fica cansado?<br />

Paulo: Não.<br />

Úrsula: Fica sim. Porque ele às vezes pe<strong>de</strong> aju<strong>da</strong> ao Ricardo para <strong>da</strong>r resposta aos amigos. O Ricardo fala com<br />

ele e ele fala para os amigos.<br />

Marlon: Cansa! Cansa muito! Como eu!<br />

Paulo: É porque às vezes eles ficam com muita dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> numa coisa tão fácil que eu não agüento...<br />

Ricardo: Qu<strong>em</strong> mais ajudo é o Miguel e o Maurício. O Miguel faz tudo certo só que às vezes ele se atrasa pra<br />

fazer ou faz tudo... <strong>de</strong>sorganizado.<br />

Úrsula: Às vezes? Às vezes? O Miguel é muito tímido, <strong>de</strong>vagar, não presta atenção direito, não fica muito<br />

ligado, está com probl<strong>em</strong>a na vista, não sei, an<strong>da</strong> muito <strong>de</strong>vagar. A gente faz tudo e ele ain<strong>da</strong> está na 1ª parte.<br />

Mas às vezes ele t<strong>em</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> também.<br />

Gabriel: A Mírian também!<br />

Mírian: Mentira!<br />

Ricardo: O Maurício s<strong>em</strong>pre copiava tudo <strong>de</strong> mim. Aí quando a gente veio para a 2ª série <strong>da</strong> tia Salete ele não<br />

copia muito, não.<br />

Úrsula: Tia, eu sei quando o Carlos precisa <strong>de</strong> aju<strong>da</strong> e quando não. S<strong>em</strong>pre quando ele precisa <strong>de</strong> aju<strong>da</strong> ele fica<br />

assim, ó (olhar perdido e pensativo). Carlos fica encabulado. Eu ajudo ele. Eu falo: Carlos, do que você precisa<br />

<strong>de</strong> aju<strong>da</strong>? Aí ele me fala e eu ajudo ele nas continhas; às vezes ele não faz <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> casa e ele <strong>de</strong>ixa um espaço<br />

lá e eu ajudo ele. Não é, Carlos? Com a Mírian é diferente. Quando ela precisa <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>, ela me pe<strong>de</strong>; mas só<br />

que o probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong>la é que ela é muito <strong>de</strong>vagar pra copiar. E quando a tia já faz a agen<strong>da</strong> ela fica conversando,<br />

83 Id., 2003, p. 37.<br />

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