19.04.2013 Views

O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Entretanto, ninguém t<strong>em</strong> direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir os tipos <strong>de</strong> relações que alguém po<strong>de</strong><br />

estabelecer com o outro n<strong>em</strong> <strong>de</strong> controlar os discursos e ações advindos <strong>da</strong>s mesmas. Seria o<br />

mesmo que pensar e agir pelo outro, conduzindo-o a uma alienação. Foucault falava <strong>da</strong><br />

indigni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> falar pelos outros.<br />

O filósofo <strong>de</strong>fendia ain<strong>da</strong> que para uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira revolução na socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

151<br />

[...] uma <strong>da</strong>s primeiras coisas a compreen<strong>de</strong>r é que o po<strong>de</strong>r não está localizado no<br />

aparelho <strong>de</strong> Estado e que na<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>rá na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> se os mecanismos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que<br />

funcionam fora, abaixo, ao lado dos aparelhos <strong>de</strong> Estado a um nível muito mais<br />

el<strong>em</strong>entar, quotidiano, não for<strong>em</strong> modificados (MACHADO, 2009, p. 85).<br />

Amorim (2006) vai dizer: “Quando se ouv<strong>em</strong> vozes, ouv<strong>em</strong>-se também, com elas,<br />

mundos: ca<strong>da</strong> um com o espaço e o t<strong>em</strong>po que lhe são próprios” (p. 105). E ain<strong>da</strong>: “<strong>de</strong>scobrir<br />

lógicas diferentes <strong>da</strong>s nossas transforma pontos <strong>de</strong> vista” 88 . São inúmeras as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>da</strong>s relações dialógicas entre o eu e o tu. Fiorin (2007) fala <strong>da</strong> posição reversível entre o eu e o<br />

tu na situação <strong>de</strong> <strong>enunciação</strong>: “Quando dirijo a palavra a alguém, ele é o tu; quando ele me<br />

respon<strong>de</strong>, ele passa a ser eu, e eu torno-me tu. No entanto, não é possível a reversibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

com o ele” (p. 164). Eis uma característica <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre as pessoas, a singulari<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

do ato enunciativo.<br />

Constitui-se o sujeito falante <strong>de</strong> uma consciência construí<strong>da</strong> com a voz do outro, uma<br />

i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> por meio <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, na relação com a alteri<strong>da</strong><strong>de</strong> (MARCHEZAN, 2006). Nisto<br />

resi<strong>de</strong> a maior importância <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>. Mas, como afirma Bakhtin (1992b), “na vi<strong>da</strong>,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> vermos a nós mesmos pelos olhos <strong>de</strong> outro, s<strong>em</strong>pre regressamos a nós mesmos; e o<br />

acontecimento último, aquele que parece-nos resumir o todo, realiza-se s<strong>em</strong>pre nas categorias<br />

<strong>de</strong> nossa própria vi<strong>da</strong>” (p. 37).<br />

Aproximando-nos <strong>de</strong> Castoriadis (1991), t<strong>em</strong>os que a perspectiva sócio-histórica vai<br />

além <strong>da</strong> questão <strong>da</strong> intersubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> “relação <strong>de</strong> pessoa a pessoa” (p. 130); o outro e os<br />

outros são “constitutivos do sujeito, <strong>de</strong> seu probl<strong>em</strong>a e <strong>da</strong> sua possível solução [...], a<br />

existência humana é uma existência <strong>de</strong> muitos”; por isso, é social e histórica, muito além dos<br />

“entrelaçamentos intersubjetivos” 89 . Antes do nascimento, eu não estou n<strong>em</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> minha<br />

morte. Somos um elo na história e na comunicação verbal. E nas relações trava<strong>da</strong>s no<br />

cotidiano, tentamos resistir, a qualquer custo, às tentativas <strong>de</strong> nos consi<strong>de</strong>rar<strong>em</strong> ou nos<br />

<strong>de</strong>svincular<strong>em</strong> dos outros elos. Não aceitamos a condição <strong>de</strong> elo perdido ou posto na condição<br />

<strong>de</strong> elo excluído. Ninguém é herói <strong>de</strong> sua própria vi<strong>da</strong>, como diz Bakhtin. Só o outro po<strong>de</strong><br />

fazer <strong>de</strong> mim um herói. O acabamento qu<strong>em</strong> dá é o autor artista. Acabamento não é<br />

88 Ibid., p. 108.<br />

89 Ibid.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!