O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
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Nesse contexto sócio-econômico e político é que <strong>em</strong> 1932 foi publicado o Manifesto<br />
dos Pioneiros <strong>da</strong> Educação Nova que <strong>de</strong>fendia, segundo Aranha (1989, p.162), uma “escola<br />
leiga, nacional e gratuita, a organização <strong>da</strong> educação popular e a abolição dos privilégios”. As<br />
idéias mo<strong>de</strong>rnas <strong>da</strong> educação difundi<strong>da</strong>s <strong>em</strong> outros países influenciaram muito os educadores<br />
no Brasil, conforme análise <strong>de</strong> Cunha (1980). Como ex<strong>em</strong>plo, o autor cita as idéias <strong>de</strong> John<br />
Dewey sobre a “pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> escola nova”, cujo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> à reconstrução<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> foi trazido para cá pelo educador Anísio Teixeira; como educador e político,<br />
teria trabalhado “intensamente <strong>de</strong>ntro do Estado para que ele assumisse a tarefa <strong>de</strong><br />
reconstrução social, utilizando para isso a escola pública, obrigatória e gratuita” (CUNHA,<br />
1980, p.49).<br />
Nas déca<strong>da</strong>s posteriores, entre ditaduras militares e lutas <strong>de</strong> movimentos sociais e<br />
políticos, é possível i<strong>de</strong>ntificar um sist<strong>em</strong>a educacional dualista on<strong>de</strong> havia “um segmento<br />
<strong>de</strong>stinado aos jovens <strong>da</strong>s ‘classes menos favoreci<strong>da</strong>s’ e outro segmento <strong>de</strong>stinado à classe<br />
forma<strong>da</strong> pelas ‘individuali<strong>da</strong><strong>de</strong>s condutoras’, ambos <strong>de</strong>stinados a reproduzir as situações pré-<br />
existentes.” (CUNHA, 1983, p.237). Vieram repressões, fim <strong>da</strong> ditadura, período <strong>de</strong> transição<br />
d<strong>em</strong>ocrática, leis nacionais <strong>da</strong> educação, universalização do ensino básico, etc.; mas,<br />
conforme estudos <strong>de</strong> pesquisa realizados por Cunha neste período, enquanto para as crianças<br />
<strong>da</strong>s classes dominantes e médias, a escola era “um prolongamento <strong>da</strong> primeira socialização,<br />
difusa, doméstica”, para as crianças oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong> classe trabalhadora, a experiência escolar<br />
tornava-se cotidianamente “algo traumatizante”.<br />
A inclusão <strong>da</strong>s crianças oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s classes populares foi evi<strong>de</strong>nciando “o quanto o<br />
sucesso escolar <strong>de</strong>pendia <strong>de</strong> suportes sociais diferenciais oferecidos pelas famílias e o meio<br />
social, simultaneamente invisíveis e inacessíveis para a maioria dos novos usuários”<br />
(BRANDÃO, 2002, p. 122); aquilo que consi<strong>de</strong>ro “apartheid” educacional brasileiro e que a<br />
referi<strong>da</strong> autora <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> “permanência <strong>da</strong> seletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> social <strong>da</strong> educação nos sist<strong>em</strong>as<br />
escolares” 54 .<br />
Em contato com as famílias <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> educativa pod<strong>em</strong>os perceber que há<br />
um combate à alienação com relação às questões sócio-educacionais e forte resistência contra<br />
a tendência à reificação humana (CASTORIADIS, 1991). Muitas discut<strong>em</strong> a situação escolar<br />
dos filhos, o que aprend<strong>em</strong> e como aprend<strong>em</strong>; aflig<strong>em</strong>-se diante <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
aprendizag<strong>em</strong>; in<strong>da</strong>gam sobre o futuro, on<strong>de</strong> o sucesso profissional, as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma<br />
vi<strong>da</strong> digna e <strong>de</strong> inclusão social para seus her<strong>de</strong>iros são incertos e na<strong>da</strong> promissores (PATTO,<br />
54 Ibid.<br />
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