O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
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2005; MELLO, 1985 apud PATTO, 2005). Principalmente para aqueles que têm seus filhos<br />
nas escolas públicas, salvo raras exceções, a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> mostra-se difícil: o cenário educacional<br />
no Brasil, revelador <strong>de</strong> uma perversa segregação social, é senti<strong>da</strong> pelos próprios alunos e seus<br />
familiares.<br />
Da mesma forma que “inventamos” a universalização <strong>da</strong> educação e a garantia do<br />
direito à escola, fomos também capazes <strong>de</strong> outra façanha: pela <strong>de</strong>terioração i<strong>de</strong>ológica e<br />
material <strong>da</strong> escola pública, <strong>de</strong>stiná-la àqueles que não pod<strong>em</strong> comprar o ensino <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
capaz <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r à necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> humana <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento pleno. A escola foi<br />
gra<strong>da</strong>tivamente <strong>em</strong>pobreci<strong>da</strong> pela falta <strong>de</strong> continui<strong>da</strong><strong>de</strong> administrativa e pelos interesses<br />
particularistas nas políticas públicas; <strong>em</strong>pobreceu-se pelo excesso <strong>de</strong> experimentalismo<br />
pe<strong>da</strong>gógico e voluntarismo i<strong>de</strong>ológico; e v<strong>em</strong> <strong>em</strong>pobrecendo sob muitos aspectos a clientela a<br />
qual aten<strong>de</strong> (CUNHA, 2005).<br />
As <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais no Brasil como vimos, até agora foram construí<strong>da</strong>s e<br />
acumula<strong>da</strong>s ao longo do t<strong>em</strong>po, <strong>em</strong> todos os setores <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social. Suas conseqüências não<br />
ating<strong>em</strong> apenas os excluídos. A violência <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e do campo nos mostra que<br />
todos sa<strong>em</strong> per<strong>de</strong>ndo numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> exclu<strong>de</strong>nte. A d<strong>em</strong>ocracia que para uns é uma espécie<br />
<strong>de</strong> ópio do povo, para outros é uma utopia, uma idéia-força s<strong>em</strong>pre presente e jamais<br />
plenamente realiza<strong>da</strong> 55 .<br />
O sociólogo Herbert José <strong>de</strong> Souza, <strong>em</strong> entrevista concedi<strong>da</strong> à AEC <strong>em</strong> 1991, numa <strong>de</strong><br />
suas análises sobre a situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> social no Brasil, <strong>de</strong>fine <strong>da</strong> seguinte forma a<br />
d<strong>em</strong>ocracia:<br />
A d<strong>em</strong>ocracia é o igual e o diverso. O encontro <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s. A convergência <strong>da</strong><br />
pessoa e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Da socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil e do Estado (administração do b<strong>em</strong><br />
público). A d<strong>em</strong>ocracia é o atendimento do básico e do transcen<strong>de</strong>ntal. Do Pão e <strong>da</strong><br />
Liber<strong>da</strong><strong>de</strong>. Do finito e do infinito. Do Eu e do Nós. É a afirmação <strong>da</strong> consciência, no<br />
mundo <strong>de</strong> sua falsificação <strong>em</strong> relações coisifica<strong>da</strong>s. D<strong>em</strong>ocracia é obra s<strong>em</strong> limites<br />
e, portanto, inacabável. Mas d<strong>em</strong>ocracia é exatamente aquilo que fizermos <strong>de</strong>la e por<br />
isso é fun<strong>da</strong>mental inventá-la a todos os níveis e a ca<strong>da</strong> momento.<br />
A busca <strong>de</strong> alternativas que viabiliz<strong>em</strong> a ca<strong>da</strong> criança o acesso aos recursos humanos e<br />
materiais que favoreçam o seu <strong>de</strong>senvolvimento global, principalmente nos seus primeiros<br />
anos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e, consequent<strong>em</strong>ente, sua inclusão social, t<strong>em</strong> sido o esforço <strong>de</strong> muitos<br />
educadores brasileiros que compreend<strong>em</strong> a estreita relação entre <strong>de</strong>senvolvimento, ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
e exclusão. O pleno <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s individuais é direito<br />
<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> indivíduo para que possa exercer sua ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, compreendi<strong>da</strong> como a construção do<br />
b<strong>em</strong> comum, superando interesses individuais ou <strong>de</strong> grupos. (MULTIEDUCAÇÃO, 1996).<br />
55 Revista publica<strong>da</strong> pela Associação <strong>da</strong>s Escolas Católicas do Brasil, 1991.<br />
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