O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
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Por muitas e muitas vezes refleti sobre a relação inclusão/dialogismo incessante e os<br />
probl<strong>em</strong>as que as crianças enfrentam na fase <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> alfabetização. S<strong>em</strong>pre acabei<br />
concluindo que tais processos estão completamente imbricados entre si:<br />
d<strong>em</strong>ocracia/participação nas relações dialógicas entre os <strong>sujeitos</strong> numa <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> conduz ao<br />
processo <strong>de</strong> inclusão, favorecendo a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> alfabetização. Parece-me que o que se<br />
verifica, muitas vezes, <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> é uma espécie <strong>de</strong> pseudodialogia, diversos monólogos,<br />
mas n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre dialogici<strong>da</strong><strong>de</strong>. Necessitamos <strong>de</strong> silêncio para congregar; quando só eu falo,<br />
quando o po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> comunicação, <strong>da</strong> <strong>enunciação</strong> está <strong>em</strong> minhas mãos, eu posso cair num<br />
narcisismo patológico. Há o que junta e o que separa, falas que agregam e as que <strong>de</strong>sagregam.<br />
Muita coisa acaba sendo imposta neste <strong>jogo</strong> <strong>da</strong> <strong>enunciação</strong> <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong>. Mesmo o aluno<br />
mais caladinho, mais aparent<strong>em</strong>ente apático e passivo, d<strong>em</strong>onstra um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> estar junto,<br />
rejeitando a tendência ao apequenamento que insiste <strong>em</strong> se fazer presente nos contextos<br />
enunciativos.<br />
Evento XXVII<br />
Assim como a escola t<strong>em</strong> o seu <strong>de</strong>scaso - porque eu vejo por parte <strong>da</strong>s gestoras - vejo que as famílias também<br />
têm, mas não são to<strong>da</strong>s. Mas eu acho que a questão familiar está muito pauta<strong>da</strong> nesta falta <strong>de</strong> estrutura familiar<br />
que a mãe t<strong>em</strong> que sair pra trabalhar para honrar seus compromissos: são mulheres que se separaram dos seus<br />
companheiros, <strong>de</strong> seus maridos, e as crianças ficam à mercê <strong>de</strong> creches, instituições, com pessoas que eu não<br />
sei até que ponto valorizam o saber <strong>de</strong>ssas crianças, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>las. Eu acho, pelo que eles colocam,<br />
que <strong>de</strong>veria haver mais senso <strong>de</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> porque são crianças que precisariam dormir mais um pouco e eles<br />
não dorm<strong>em</strong>. Não é só chegar e trabalho, tarefa... Tudo b<strong>em</strong>, que t<strong>em</strong> <strong>aula</strong> disso, <strong>da</strong>quilo, parece que t<strong>em</strong> <strong>aula</strong><br />
<strong>de</strong> informática, <strong>de</strong> artes na creche, mas a criança necessita é <strong>de</strong> dormir. Crianças que sa<strong>em</strong> assim, cinco horas<br />
<strong>da</strong> manhã, essas crianças precisam <strong>de</strong> um repouso. Eu acho que mesmo com to<strong>da</strong>s essas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, ain<strong>da</strong><br />
consegu<strong>em</strong> acumular conhecimentos, uns mais rápidos, outros com suas limitações e a gente está aqui, s<strong>em</strong>pre.<br />
Existe até uma frase: “Um galo sozinho não tece um amanhã”... Então: eu sozinha, você sozinha, a outra<br />
sozinha. Não vai <strong>da</strong>r conta do recado, chega a um ponto que você fica <strong>de</strong>spe<strong>da</strong>ça<strong>da</strong>, <strong>de</strong>sacredita<strong>da</strong>. E você sabe<br />
que a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> ali é sua, você está preparando aquela pessoa pra vi<strong>da</strong>. Um ci<strong>da</strong>dão que vai trabalhar<br />
nesta socie<strong>da</strong><strong>de</strong> tão injusta, tão insensível e que ele, através <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita, que ele vai <strong>de</strong>bruçar-se <strong>em</strong><br />
cima dos livros; um olhar diferente pra interpretação <strong>de</strong>ste quadro tão <strong>de</strong>licado <strong>de</strong>ste nosso país... que ele se<br />
torne um ci<strong>da</strong>dão sensível. O professor <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> é um el<strong>em</strong>ento-chave e participante do processo <strong>de</strong><br />
motivação e aprendizag<strong>em</strong>. Ele é responsável pelo arranjo <strong>de</strong> condições que motiv<strong>em</strong> a própria aprendizag<strong>em</strong><br />
<strong>em</strong> novas respostas e buscar novos horizontes. A escola conta com alguns el<strong>em</strong>entos que atuam<br />
esporadicamente <strong>em</strong> estágios, voluntariado... que <strong>de</strong>saparec<strong>em</strong> s<strong>em</strong> <strong>da</strong>r uma sequência ao trabalho n<strong>em</strong><br />
satisfação. Além <strong>de</strong> outras parcerias com alguma facul<strong>da</strong><strong>de</strong>, pólo <strong>de</strong> apoio oferecido pela SME; porém,<br />
<strong>de</strong>ficitário, pois a família t<strong>em</strong> que se <strong>de</strong>slocar do seu trabalho ou <strong>da</strong> residência e na maioria <strong>da</strong>s vezes não têm<br />
recursos financeiros para <strong>da</strong>r atendimento necessário ao filho. Uma mãe que trabalha <strong>em</strong> casa <strong>de</strong> família, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, como ela vai <strong>de</strong>ixar o <strong>em</strong>prego para levar o filho no pólo <strong>de</strong> atendimento? (Professora Salete <strong>em</strong><br />
Entrevista dia 08/07/2008).<br />
A professora Salete, já <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>da</strong> entrevista, revelou alguns traços <strong>de</strong> sua<br />
<strong>formação</strong> discursiva familiar a respeito do valor dos estudos, do diploma <strong>de</strong> escolarização,<br />
algo como uma mi[s]tificação do conhecimento científico a que se refere Geraldi (1995):<br />
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