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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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A criança muitas vezes revela este <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ser peso <strong>de</strong> acontecimento na vi<strong>da</strong> do<br />

outro, <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> aprovação e <strong>de</strong> ser um sentido para o outro, mesmo quando no cotidiano <strong>de</strong><br />

uma <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong>, aparent<strong>em</strong>ente, ela pareça buscar manter-se às escondi<strong>da</strong>s, na<br />

insignificância.<br />

Dentro <strong>de</strong> uma perspectiva histórico-dialética, o professor trabalha para fugir do<br />

<strong>de</strong>terminismo e apostar num trabalho <strong>da</strong> riqueza humana do inacabamento, acreditando nas<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas <strong>de</strong> superar situações, objetivando a <strong>formação</strong> para a autonomia <strong>da</strong><br />

coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e não um individualismo e egocentrismo doentios; <strong>de</strong> forma que possa haver uma<br />

condição favorável não <strong>de</strong> um ou <strong>de</strong> outro, mas <strong>de</strong> todos os <strong>sujeitos</strong>. A partir <strong>de</strong> uma posição<br />

exotópica, para que o eu possa se constituir e constituir o outro. Só uma posição exotópica<br />

leva a uma autonomia do grupo.<br />

S<strong>em</strong> querer, na <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> pod<strong>em</strong>os conduzir a uma total falta <strong>de</strong> autonomia dos<br />

alunos. É preciso ter corag<strong>em</strong> <strong>de</strong> se posicionar frente a si mesmo, para avaliar os efeitos <strong>da</strong>s<br />

estratégias <strong>de</strong> interação; se elas não se envere<strong>da</strong>ram por outros rumos que não os <strong>de</strong> tornar o<br />

cotidiano <strong>da</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> como um t<strong>em</strong>po e um espaço <strong>de</strong> partilha do saber e <strong>de</strong> efetiva e sadia<br />

interação social. Uma efetiva interação grupal <strong>de</strong>ve ser busca<strong>da</strong>: aquela que alarga os<br />

horizontes e que crê no po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> resiliência e reversibili<strong>da</strong><strong>de</strong> humana, intensamente apoia<strong>da</strong><br />

no l<strong>em</strong>a arendtiano, “o altamente improvável acontece regularmente” ou “ele não sabia que<br />

era impossível; foi lá e fez”.<br />

Ao adotarmos qualquer estratégia <strong>de</strong> ensino, com vistas <strong>em</strong> pressupostos <strong>de</strong> mediação,<br />

cooperação e interação grupal, precisamos s<strong>em</strong>pre perguntar: Até que ponto é esta é<br />

pe<strong>da</strong>gógica ou um perigo <strong>da</strong> tentativa <strong>de</strong> soberania <strong>de</strong> um sobre o outro, ou até mesmo,<br />

tentativa <strong>de</strong> fusão <strong>de</strong> um sobre o outro? Uma dinâmica quando se cristaliza po<strong>de</strong> atingir outros<br />

objetivos que não faziam parte <strong>da</strong> intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong> do professor, instituindo um lugar<br />

heg<strong>em</strong>ônico <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r; po<strong>de</strong> gerar uma i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong> supr<strong>em</strong>acia <strong>de</strong> um sobre o outro: aquilo<br />

que, às vezes, aparenta ser uma tática bacana po<strong>de</strong> servir para esta <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> papéis, nas<br />

relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre os <strong>sujeitos</strong> escolares. É preciso verificar se aquilo que se preten<strong>de</strong>u<br />

como estratégia pe<strong>da</strong>gógica para favorecimento do processo ensino-aprendizag<strong>em</strong> está sendo<br />

válido; e, se for preciso, avaliar as estruturas que se formaram na <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> a partir <strong>de</strong>ssas<br />

estratégias, revendo e buscando outras novas, como forma <strong>de</strong> romper com a situação instituí<strong>da</strong><br />

que não esteja <strong>em</strong> consonância com uma práxis pe<strong>da</strong>gógica reveladora <strong>de</strong> um compromisso<br />

do professor, com um projeto político <strong>de</strong> autonomia <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Esta discussão aponta para a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se evitar qualquer rótulo, n<strong>em</strong> favorável<br />

n<strong>em</strong> <strong>de</strong>sfavorável à autoestima dos alunos. Rótulos mascaram a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, velam intenções.<br />

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