O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conceber “uma ciência <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> livre <strong>de</strong> julgamentos <strong>de</strong> valor e<br />
pressupostos político-sociais no âmago <strong>da</strong>s ciências sociais mo<strong>de</strong>rnas” (apud KRAMER,<br />
2006, p. 27). O autor busca uma análise dialética <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong> conhecimento, assim<br />
como <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, para que se compreen<strong>da</strong>m suas dimensões inter-relacionais<br />
complexas com todos os seus “enfrentamentos ou contradições internas” 10 .<br />
Além <strong>de</strong> Löwy, Kramer estu<strong>da</strong> os trabalhos <strong>de</strong> Japiassu (1983, 1989), <strong>em</strong> que o autor<br />
faz críticas ao mo<strong>de</strong>lo histórico-cultural adotado por pesquisadores <strong>da</strong>s Ciências Humanas e<br />
aponta um caminho <strong>de</strong> pesquisa fun<strong>da</strong>do no “discurso do sujeito falante, libertando o hom<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> sua condição <strong>de</strong> objeto” (apud KRAMER, 2006, p. 23). O teórico sugere que as ciências<br />
humanas <strong>de</strong>vam romper com o “mo<strong>de</strong>lo positivista explicativo e o interpretativo<br />
compreensivo”, pela psicanálise, etnologia e pela ciência <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>. Segundo a autora, a<br />
princípio se po<strong>de</strong>ria concluir que os trabalhos <strong>de</strong> Japiassu <strong>de</strong>fen<strong>da</strong>m “um <strong>em</strong>bate entre<br />
marxismo-psicanálise ou dialética-inconsciente, enquanto Löwy (1987, 1989) reconhece a<br />
importância <strong>de</strong> enfoques marxistas como o dos frankfurtianos, que incorporam paradigmas <strong>da</strong><br />
psicanálise” 11 .<br />
Ao final <strong>de</strong>ssa análise, Kramer aponta a historici<strong>da</strong><strong>de</strong> e a interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> como<br />
pontos <strong>de</strong> convergência entre Löwy e Japiassu. E, <strong>de</strong> minha parte, consigo ver as<br />
aproximações entre as análises <strong>de</strong> Kramer - com to<strong>da</strong>s as apropriações que ela fez <strong>da</strong><br />
sociologia crítica do conhecimento - e as argumentações <strong>de</strong> Mazzotti & Oliveira <strong>em</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong><br />
teoria racional <strong>da</strong> ação social e <strong>da</strong> constituição <strong>de</strong> uma ciência <strong>da</strong> educação <strong>de</strong> base<br />
interdisciplinar, cuja teoria “permita i<strong>de</strong>ntificar um objeto comum às disciplinas e que esta<br />
mesma teoria possibilite um diálogo produtivo entre os especialistas” (MAZZOTTI &<br />
OLIVEIRA, 2002 p. 90-91).<br />
Brandão (2002) analisa que, por outro lado, ao perseguirmos a interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
pod<strong>em</strong>os correr o risco <strong>de</strong> estarmos “multiplicando práticas <strong>de</strong> pesquisa pouco rigorosas” e<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> “a priori<strong>da</strong><strong>de</strong> do aprendizado e prática disciplinar, como antídoto ao aligeiramento<br />
<strong>da</strong>s práticas interdisciplinares” (p. 48). Além disso, recorre a Bourdieu (1990) para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a<br />
importância <strong>de</strong> uma “cultura teórica” que possibilite um “panorama <strong>da</strong>s posições<br />
cientificamente pertinentes num <strong>da</strong>do estágio <strong>da</strong> ciência” (p. 48). A autora reconhece os<br />
efeitos negativos tanto <strong>de</strong> um ecletismo quanto <strong>de</strong> um não-reconhecimento dos “limites que a<br />
especialização disciplinar impõe à complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s questões que <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> <strong>da</strong> educação,<br />
enquanto prática social” (BRANDÃO, 2002, p. 49).<br />
10 Kramer, 2006, op. cit.<br />
11 Ibid, p. 29.<br />
23