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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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<strong>de</strong>la é o sujeito, na dupla acepção <strong>da</strong> palavra, mas ninguém é seu autor”. Por isso, há que se<br />

consi<strong>de</strong>rar a factici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa vi<strong>da</strong> se <strong>de</strong>senvolver numa teia pré-existente <strong>de</strong> relações<br />

humanas; <strong>de</strong> estarmos envolvidos <strong>em</strong> contextos situacionais mesmo antes <strong>de</strong> nosso<br />

nascimento biológico e histórico; imbricados <strong>em</strong> conflitos e tensões - teia na qual a ação<br />

humana produz histórias, reais e não ficcionais. Não somos autores ou criadores <strong>da</strong> história<br />

<strong>de</strong> nossa própria vi<strong>da</strong>.<br />

É certo que a garantia legal do direito <strong>de</strong> todos à educação ain<strong>da</strong> não se verifica<br />

concretamente na totali<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira. Mesmo on<strong>de</strong> as portas <strong>da</strong>s escolas estão abertas, ou<br />

melhor, on<strong>de</strong> é garanti<strong>da</strong> a acessibili<strong>da</strong><strong>de</strong> ao sist<strong>em</strong>a educacional, segundo princípios<br />

d<strong>em</strong>ocráticos, po<strong>de</strong> se verificar o que costumo chamar <strong>de</strong> d<strong>em</strong>onstração do apartheid<br />

educacional brasileiro, principalmente quando comparamos <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhos dos alunos <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s<br />

oficiais e priva<strong>da</strong>s <strong>de</strong> ensino <strong>em</strong> concursos <strong>de</strong> diferentes mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s, especialmente aqueles<br />

<strong>de</strong>stinados à seleção <strong>de</strong> candi<strong>da</strong>tos ao ensino superior. Certamente, há outras variáveis nesta<br />

questão como, por ex<strong>em</strong>plo, o ensino público nos gran<strong>de</strong>s centros urbanos e <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s do<br />

interior; o ensino <strong>da</strong>s escolas fe<strong>de</strong>rais, estaduais e municipais, a eficiência <strong>da</strong>s pesquisas<br />

educacionais brasileiras, etc. Mas uma reconstrução historiográfica <strong>da</strong> educação brasileira não<br />

se constituiu o foco <strong>de</strong>sta pesquisa n<strong>em</strong> tampouco tive a pretensão <strong>de</strong> a<strong>de</strong>ntrar-me numa<br />

análise panorâmica sobre a questão educacional. Interessa-me, sim, alguns fatos históricos<br />

que ilustr<strong>em</strong> algumas proposições pessoais, ou alheias, a que me apoio.<br />

O direito à educação aparece pela primeira vez na Constituição brasileira <strong>de</strong> 1934,<br />

artigo 149, quando, a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1930, o Brasil passava <strong>de</strong> um país agrocomercial<br />

exportador <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, para um mo<strong>de</strong>lo nacional <strong>de</strong>senvolvimentista, baseado na<br />

industrialização, com predominância do urbano. Seguindo uma tendência mundial, também<br />

aqui as instituições sociais precisavam contribuir para que os trabalhadores foss<strong>em</strong> liberados<br />

para o serviço <strong>da</strong>s fábricas e, para isso, funções básicas <strong>da</strong> família eram distribuí<strong>da</strong>s para<br />

novos espaços coletivos especializados. A educação <strong>da</strong>s crianças pertencentes à massa<br />

proletária era entregue às escolas (TOFFLER, 1980; COTRIM, 1996).<br />

Para Oliveira (2003, p. 59), “o sist<strong>em</strong>a caminhou inexoravelmente para uma<br />

concentração <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>, <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e do po<strong>de</strong>r”. O processo <strong>de</strong> urbanização no Brasil se<br />

<strong>de</strong>u com marginalização, com a população que afluía às ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s sendo transforma<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />

“exército <strong>de</strong> reserva”, necessário à acumulação <strong>de</strong> capital.<br />

Na análise <strong>de</strong> Aranha (1989, p.119), o propósito <strong>da</strong>s políticas educacionais <strong>de</strong>sse<br />

período era o <strong>de</strong> conseguir “a <strong>formação</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra barata, não-qualifica<strong>da</strong>, pronta para<br />

engrossar o exército <strong>de</strong> reserva – trabalhadores dispostos a se <strong>em</strong>pregar por baixos salários.”<br />

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