O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Busquei fun<strong>da</strong>mentar minhas práticas argumentativas na estrutura do real, “nos elos<br />
reconhecidos entre as coisas” (REBOUL, 2000, p. 173) e nos elos entre os <strong>sujeitos</strong>, sejam eles<br />
do campo <strong>de</strong> observação no qual a pesquisa foi realiza<strong>da</strong>, sejam esses pesquisadores<br />
cont<strong>em</strong>porâneos; ou <strong>sujeitos</strong> pesquisadores que a história <strong>da</strong>s Ciências consagrou cujas<br />
produções científicas são consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s como textos-fonte. Porém, segui as orientações <strong>de</strong><br />
Bakhtin e zelei para que a minha palavra não fosse sacraliza<strong>da</strong>, não refreasse e congelasse o<br />
pensamento (1992b) n<strong>em</strong> <strong>em</strong>pobrecesse os enunciados dos <strong>sujeitos</strong> imbricados comigo na<br />
pesquisa e vice-versa; <strong>de</strong> tal forma que pu<strong>de</strong>sse me manter firme no projeto <strong>de</strong> construção <strong>da</strong><br />
autonomia <strong>de</strong> todos e que meu dizer/fazer fosse o mais lúcido possível, conforme aconselha<br />
Castoriadis (1991).<br />
Tomando <strong>de</strong> <strong>em</strong>préstimo as palavras <strong>de</strong> Reboul (2000, p. 194):<br />
Não se espera <strong>de</strong> um argumento apenas que ele seja eficaz, isto é, que seja capaz <strong>de</strong><br />
persuadir seu auditório; espera-se que ele seja justo, isto é, capaz <strong>de</strong> persuadir<br />
qualquer auditório, <strong>de</strong> dirigir-se ao auditório universal [...] Quando o argumento se<br />
expõe <strong>de</strong>libera<strong>da</strong>mente à discussão, à contra-argumentação (...) a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é<br />
encontra<strong>da</strong> e afirma<strong>da</strong> na prova do <strong>de</strong>bate. Tanto com os outros quanto consigo<br />
mesmo.<br />
As afirmações <strong>de</strong> Reboul <strong>de</strong> que a justiça <strong>de</strong>va ser o parâmetro para a argumentação<br />
se coadunam com as <strong>de</strong> Bourdieu (1998), ao tecer uma análise sobre a “ruptura<br />
epist<strong>em</strong>ológica” <strong>de</strong> Bachelard, aponta<strong>da</strong> por ambos como condição para a prática científica:<br />
“conversão do pensamento, a revolução do olhar, a ruptura com o pré-construído e com tudo o<br />
que, na ord<strong>em</strong> social – e no universo douto – o sustenta [...]” (p.49).<br />
Po<strong>de</strong>ríamos concluir com base nas leituras <strong>de</strong>stes autores que argumentos justos são<br />
aqueles que se realizam s<strong>em</strong> uma “camisa-<strong>de</strong>-força”, <strong>em</strong>bora se admita, por outro lado, que<br />
existam acordos prévios entre os m<strong>em</strong>bros dos auditórios os quais se configuram como ponto<br />
<strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para a argumentação, pr<strong>em</strong>issas comuns, implícitas ou explícitas <strong>de</strong>stes acordos.<br />
Mas, acima <strong>de</strong> tudo, “é preciso ter apreço pela a<strong>de</strong>são do interlocutor, pelo seu consentimento,<br />
pela sua participação mental [...], ser alguém com cuja opinião outros se preocup<strong>em</strong>”,<br />
conforme Perelman & Olbrechts-Tyteca (1996, p. 18). Qu<strong>em</strong> se põe a argumentar, precisa<br />
l<strong>em</strong>brar-se:<br />
Não basta falar ou escrever, cumpre ain<strong>da</strong> ser ouvido, ser lido. Não é pouco ter a<br />
atenção <strong>de</strong> alguém, ter uma larga audiência, ser admitido a tomar a palavra <strong>em</strong> certas<br />
circunstâncias, <strong>em</strong> certas ass<strong>em</strong>bléias, <strong>em</strong> certos meios. Não esqueçamos que ouvir<br />
alguém é mostrar-se disposto a aceitar-lhe o ponto <strong>de</strong> vista [...].<br />
Fazer parte <strong>de</strong> um mesmo meio, conviver, manter relações sociais, tudo isso facilita<br />
a realização <strong>da</strong>s condições prévias para o contato dos espíritos (PERELMAN &<br />
OLBRECHTS-TYTECA, 1996, p. 19).<br />
92