O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
aprisionado para s<strong>em</strong>pre por significados unívocos e fixos <strong>da</strong>s palavras que ele <strong>em</strong>prega – ou<br />
seja, que a linguag<strong>em</strong> é linguag<strong>em</strong>” 80 .<br />
Isso nos r<strong>em</strong>ete ao pensamento bakhtiniano, especialmente sobre a historici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />
linguag<strong>em</strong> e os processos i<strong>de</strong>ológicos <strong>da</strong> <strong>enunciação</strong>. As teorias <strong>de</strong> Mikhail Bakhtin têm<br />
contribuído muito para as pesquisas <strong>em</strong> Ciências Humanas. O filósofo (1992b) argumentava<br />
que, ao estu<strong>da</strong>rmos o ser humano, encontramos os signos por to<strong>da</strong> a parte. E todo estudo dos<br />
signos precisa começar pela compreensão <strong>de</strong> sua significação. Mas o que significa<br />
compreen<strong>de</strong>r? É Bakhtin qu<strong>em</strong> respon<strong>de</strong>: “Compreen<strong>de</strong>r é cotejar com outros textos e pensar<br />
num contexto novo (no meu contexto, no contexto cont<strong>em</strong>porâneo, no contexto futuro)”<br />
(BAKHTIN 1992b, p. 405). Essa teoria bakhtiniana aplica-se tanto à postura que pretendi<br />
adotar nas relações dialógicas estabeleci<strong>da</strong>s com os <strong>sujeitos</strong> <strong>da</strong> pesquisa, quanto ao probl<strong>em</strong>a<br />
científico investigado por mim <strong>em</strong> consonância com inúmeras pesquisas cont<strong>em</strong>porâneas.<br />
Consi<strong>de</strong>rando que to<strong>da</strong> compreensão ocorre <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto histórico (situação)<br />
e <strong>de</strong> um dialógico (discussão) <strong>em</strong> que se faz um julgamento <strong>de</strong> valor, coloquei-me neste<br />
capítulo diante do <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> explicitar minhas análises sobre os <strong>da</strong>dos levantados na<br />
pesquisa; como forma <strong>de</strong> cotejar com os diferentes textos produzidos durante o movimento<br />
interlocutivo, vivenciado com/entre os <strong>sujeitos</strong> participantes <strong>da</strong> pesquisa e com tantos outros<br />
textos produzidos sobre a t<strong>em</strong>ática do interdiscurso humano. O pensamento <strong>de</strong> Bakhtin<br />
(1992b) veio ao encontro <strong>de</strong> minha opção por uma análise qualitativa dos resultados <strong>da</strong><br />
pesquisa. Para o autor, “no campo <strong>da</strong>s ciências humanas, o pensamento, enquanto pensamento<br />
nasce no pensamento do outro que manifesta sua vonta<strong>de</strong>, sua presença, sua expressão, seus<br />
signos” (BAKHTIN, 1992b, p. 330).<br />
Bakhtin (1992b) nos aponta a multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes nas quais as relações humanas<br />
estão envoltas, ou seja, a polifonia, pela qual o ser humano é capaz <strong>de</strong> lutar contra a tendência<br />
à sua coisificação, contra a sua reificação, segundo analisa Marchezan (2006). Somos capazes<br />
<strong>de</strong> perceber “a penetração <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>svalorização coisificante do hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> todos os poros <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> sua época e nos próprios fun<strong>da</strong>mentos do pensamento humano” (BAKHTIN, 1981, p.<br />
53 apud MARCHEZAN, 2006, p. 122).<br />
Durante todo o t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que estive junto <strong>da</strong> turma 1303 para a pesquisa <strong>de</strong> campo, os<br />
alunos estiveram organizados <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> segundo uma proposta que a professora Salete<br />
<strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> apadrinhamento, on<strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> alunos com melhor <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho escolar se<br />
incumbia <strong>da</strong> tarefa <strong>de</strong> auxiliar um ou mais colegas com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s na aprendizag<strong>em</strong>. Por<br />
80 Cf.: CASTORIADIS, 1991, p. 284.<br />
122