O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
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permeado <strong>de</strong> inúmeros discursos ao ser colocado, enunciado, oportunizando espaços <strong>de</strong><br />
compreensão responsiva ativa <strong>de</strong> um e <strong>de</strong> outro, seja entre aluno e professor, seja entre<br />
educandos e educador, seja entre alunos e alunos. No entanto, a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas relações está<br />
relaciona<strong>da</strong> com o tipo <strong>de</strong> escola que quer<strong>em</strong>os. Segundo Paro (1999 apud PARO, 2001), os<br />
próprios métodos e conteúdos que utilizamos nas escolas não favorec<strong>em</strong> a “atualização<br />
histórico-cultural <strong>da</strong> criança e do adolescente, <strong>de</strong> modo a se construír<strong>em</strong> como <strong>sujeitos</strong><br />
históricos e <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> exercitar<strong>em</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia efetiva” (p. 39). O autor ressalta<br />
ain<strong>da</strong> o caráter complexo do processo educativo e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
“comportamentos e posturas articulados com uma nova ética” que perpass<strong>em</strong> “os métodos<br />
didáticos e as relações humanas na escola” 58 .<br />
Neste sentido, muitas pesquisas no campo <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong> perspectiva sócio-<br />
histórica, abor<strong>da</strong>m as diferentes concepções <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> que fun<strong>da</strong>mentam a prática<br />
pe<strong>da</strong>gógica dos professores, mesmo que inconscient<strong>em</strong>ente, ou <strong>de</strong> forma aparent<strong>em</strong>ente<br />
<strong>de</strong>sproposita<strong>da</strong>, pois conforme Kato (1995) argumenta, as atitu<strong>de</strong>s e concepções do educador<br />
influenciam <strong>de</strong>cisivamente no processo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />
O que se verifica <strong>em</strong> muitas escolas quanto ao ensino <strong>da</strong> Língua Portuguesa, segundo<br />
as pesquisas realiza<strong>da</strong>s recent<strong>em</strong>ente, vai <strong>de</strong> encontro com esta perspectiva, pois se requer que<br />
o aluno escreva para ser corrigido e não para ser lido. Dessa forma, a lógica escolar não<br />
contribui para que os <strong>sujeitos</strong> escolares reconheçam um texto como um “conjunto <strong>de</strong> relações<br />
significativas, produzi<strong>da</strong>s por um sujeito marcado pela sua condição <strong>de</strong> existência histórica e<br />
social, pela sua inserção <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado mundo cultural e simbólico” (LEAL, 2003, p. 56).<br />
Em muitas práticas didático-pe<strong>da</strong>gógicas <strong>de</strong> professores dos anos iniciais <strong>de</strong><br />
escolarização pesa mais o caráter <strong>de</strong> “onipresença <strong>da</strong> escrita” no mundo atual e pouco se<br />
reconhece “o lugar <strong>da</strong> orali<strong>da</strong><strong>de</strong> nos processos <strong>de</strong> aproximação com o escrito” (GALVÃO,<br />
2007, p. 13).<br />
No caso <strong>da</strong> fase <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção do processo <strong>de</strong> alfabetização extr<strong>em</strong>amente marca<strong>da</strong><br />
pela orali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o que significaria para o <strong>de</strong>senvolvimento global <strong>da</strong> criança, uma prática<br />
pe<strong>da</strong>gógica com d<strong>em</strong>asia<strong>da</strong> ênfase nesta “onipresença <strong>da</strong> escrita? Que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os fazer com a<br />
produção textual oral e escrita <strong>da</strong> criança nessa fase, ain<strong>da</strong> tão impregna<strong>da</strong> <strong>de</strong> “incorreções”<br />
ortográficas e gramaticais, ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro misto <strong>de</strong> variações linguísticas?<br />
58 Ibid., p. 43.<br />
Recorramos aos estudos <strong>de</strong> Vigotski (2005):<br />
Por que razão a escrita torna-se difícil para a criança <strong>em</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar, a ponto <strong>de</strong>,<br />
<strong>em</strong> certos períodos, existir uma <strong>de</strong>fasag<strong>em</strong> <strong>de</strong> seis a oito anos entre a sua “i<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
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