O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
porém não será n<strong>em</strong> boa n<strong>em</strong> humana 66 . O sujeito alfabetizado/letrado é capaz <strong>de</strong> viver com<br />
autonomia e participação a sua ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, enten<strong>de</strong>ndo a alfabetização como a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
inserir-se no mundo através <strong>da</strong>s diferentes formas <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> e não somente a<br />
<strong>de</strong>codificação <strong>de</strong> sinais, construindo sua história na História <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Do ponto <strong>de</strong> vista do sujeito que apren<strong>de</strong>, a dinâmica dos processos ocorrentes <strong>em</strong> <strong>sala</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>aula</strong> favorec<strong>em</strong> seu sucesso ou seu fracasso, ou seja, ninguém está fa<strong>da</strong>do a esta situação.<br />
Fracasso na aprendizag<strong>em</strong> escolar <strong>de</strong>nota que houve uma mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> rota. É produto, não<br />
fatali<strong>da</strong><strong>de</strong>, é a experiência vivi<strong>da</strong> por aquele do qual foi feito um fracassado.<br />
Entretanto, eu diria que fracos ser<strong>em</strong>os todos nós se abrirmos mão <strong>de</strong> nossa ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia,<br />
optarmos pela apatia, pela amorfia ou, pior ain<strong>da</strong>, pela prepotência <strong>em</strong> nossa existência e,<br />
assim, ficarmos eternizados pela história, pois como afirma ARENDT (2005, p. 197):<br />
[...] A história está repleta <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plos <strong>da</strong> impotência do hom<strong>em</strong> forte e superior<br />
que é incapaz <strong>de</strong> angariar o auxílio ou a cooperação <strong>de</strong> seus s<strong>em</strong>elhantes – fracasso<br />
que é frequent<strong>em</strong>ente atribuído à fatal inferiori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> multidão e ao ressentimento<br />
que os homens <strong>em</strong>inentes inspiram aos medíocres.<br />
O pensamento bakhtiniano contribuiu para que o objeto – as interações sociais e o<br />
processo <strong>de</strong> ensino-aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong> Língua Portuguesa – ao qual eu vinha “perseguindo” há<br />
anos, profissionalmente e acad<strong>em</strong>icamente, fosse re-significado, re-consi<strong>de</strong>rado, enfim,<br />
complexificado; <strong>de</strong> tal forma que, <strong>de</strong> uma visão um pouco “pueril”, d<strong>em</strong>agógica ou<br />
romântica, acerca <strong>da</strong>s interações sociais <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong>, eu fosse me <strong>de</strong>spindo<br />
gra<strong>da</strong>tivamente. As questões abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s por Bakhtin como os horizontes sociais que<br />
<strong>de</strong>terminam a <strong>enunciação</strong>, as tensões entre as múltiplas vozes sociais, a interdiscursivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
humana, etc., foram fun<strong>da</strong>mentais para este processo <strong>de</strong> metamorfose pela qual eu e minhas<br />
idéias passamos.<br />
Em diversos procedimentos <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos, reencontrei os <strong>sujeitos</strong> crianças e por<br />
elas pu<strong>de</strong> eleger outros movimentos que me permitiram re-situá-los, compreen<strong>de</strong>ndo seus<br />
discursos por outros ângulos, como numa procura por uma visão caleidoscópica, que<br />
apresentarei no capítulo 6. Pois, <strong>em</strong>bora na condição <strong>de</strong> autora, reconhecendo o caráter<br />
subjetivo que dá sentido à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> estu<strong>da</strong><strong>da</strong>, aos fenômenos e processos sociais (MINAYO,<br />
2007), preciso objetivar colocar tudo à distância, para que também eu e meu feito, neste<br />
contexto <strong>de</strong> pesquisa, possamos ser peso <strong>de</strong> acontecimento na vi<strong>da</strong> do outro. Para isso,<br />
recorro mais uma vez a Bakhtin (1992b):<br />
66 Esta frase não é minha; marcou-me muito há muitos anos atrás após a leitura <strong>de</strong> uma revista <strong>da</strong> AEC <strong>em</strong> meu<br />
local <strong>de</strong> trabalho. Porém, não tenho registro <strong>da</strong> autoria.<br />
95