O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
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- Isso é funk, mongol!<br />
Salete: Não gostei <strong>da</strong> brinca<strong>de</strong>ira <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong>! Vamos ouvir!!!<br />
O aluno Ricardo começa outra vez.<br />
Paulo: Tia, estava ótimo! (batendo palmas para o colega Ricardo).<br />
Salete: Cante mais um pe<strong>da</strong>cinho, Ricardo! (Observação do campo <strong>em</strong> 07/10/2008).<br />
Os alunos com melhores <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhos escolares e <strong>de</strong> “bons” comportamentos eram <strong>de</strong><br />
certa forma cre<strong>de</strong>nciados pela professora e incumbidos <strong>da</strong> função <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> professora,<br />
padrinho, tio, etc. Eram eles: Paulo, Ricardo, Gustavo, Tatiana, Marlon, Elisa, Mônica,<br />
Débora, Aline, Úrsula e Thiago. Ao ser<strong>em</strong> solicitados pela professora para atuar<strong>em</strong> nessas<br />
funções, <strong>de</strong> certa forma se tornam cre<strong>de</strong>nciados e com po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>, ganhando ain<strong>da</strong><br />
status <strong>de</strong> aluno selo <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> competência <strong>da</strong> professora. Por outro lado, entre o<br />
constrangimento e o soerguimento, estavam os alunos "figurinistas" e os "coadjuvantes":<br />
roubavam as cenas, tentando assumir papéis principais, <strong>de</strong> protagonistas, <strong>de</strong>safiando a<br />
professora a uma práxis pe<strong>da</strong>gógica, a um repensar constante para que seu fazer alcançasse<br />
luci<strong>de</strong>z, como argumenta Castoriadis (1991).<br />
Os alunos a qu<strong>em</strong> estou caracterizando como “figurinistas” ou “coadjuvantes” eram<br />
aqueles que viviam à sombra <strong>de</strong> outro, seja <strong>de</strong> forma passiva ou tentando resistir para não<br />
ocupar esse lugar: Leila, Viviane, P<strong>aula</strong>, Mirian, Ivete, Catarina, Juliana, Marcela, Iara,<br />
Priscila, Thaís, Helena, Daniele, Bernardo, Gabriel, Carlos, Miguel, Maurício, Ruan e Alan.<br />
De uma forma ou <strong>de</strong> outra, todos esses acabavam por esboçar algum tipo <strong>de</strong> reação contra<br />
essa posição <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong>. Alguns alunos apresentavam, inclusive, comportamentos<br />
consi<strong>de</strong>rados in<strong>de</strong>sejáveis <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong>, perturbando o bom an<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
programa<strong>da</strong>s pela professora, como Maurício e Helena, uma menina com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
aprendizag<strong>em</strong>.<br />
De um modo geral, os alunos d<strong>em</strong>onstraram facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> se a<strong>da</strong>ptar a contextos e<br />
situações novas; pareceram-me, <strong>em</strong> sua maioria, crianças com uma intensa vivaci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
ass<strong>em</strong>elhando-se mais a coriscos do que a bichos-preguiças. A professora Salete os<br />
consi<strong>de</strong>rava assim: “eles nunca d<strong>em</strong>onstram: “eu não gosto <strong>de</strong> fazer produção <strong>de</strong> texto, não<br />
gosto <strong>de</strong> leitura”; vejo-os muito interessados... mesmo com todos os percalços, atropelos<br />
todos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que eles têm” (Entrevista com a professora Salete, dia 08/07/08).<br />
Mesmo que a dinâmica do apadrinhamento, adota<strong>da</strong> como estratégia diária e<br />
permanente pela professora como apoio à aprendizag<strong>em</strong>, na maioria dos casos, reunisse<br />
alunos s<strong>em</strong> priorizar critérios afetivos, escolhas autônomas por parte <strong>da</strong>s crianças nas<br />
formações dos grupos, interesses e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s pessoais, qu<strong>em</strong> encontrei foram <strong>sujeitos</strong> que<br />
<strong>de</strong>sejavam ser reconhecidos e estar entre seus pares. Um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> não coincidência, <strong>de</strong> não<br />
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