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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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atos não são usados para violar e <strong>de</strong>struir, mas para criar relações e novas reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

[...]. Enquanto a força é a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> natural <strong>de</strong> um indivíduo isolado, o po<strong>de</strong>r passa a<br />

existir entre os homens quando eles ag<strong>em</strong> juntos, e <strong>de</strong>saparece no instante <strong>em</strong> eles se<br />

dispersam (ARENDT, 2005, p. 212).<br />

Se pela explicação <strong>da</strong>s leis e mecanismos psicológicos <strong>da</strong> arte chego à compreensão <strong>da</strong><br />

reação estética <strong>em</strong>ocional que o ato criador nos provoca, por outro lado, <strong>em</strong>bora consonante,<br />

pela explicação filosófico-política, compreendo a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> imaginação radical do sujeito<br />

histórico e social <strong>de</strong> transformar reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, se revelando na experiência <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> e se<br />

forjando na t<strong>em</strong>porali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> viag<strong>em</strong> (AMORIM, 2006). Compartilho <strong>de</strong> Castoriadis (1991)<br />

a certeza <strong>de</strong> que “a história fez nascer um projeto, esse projeto nós o faz<strong>em</strong>os nosso, pois nele<br />

reconhec<strong>em</strong>os nossas mais profun<strong>da</strong>s aspirações e pensamos que sua realização é possível”;<br />

“estamos aqui, neste exato lugar do espaço e do t<strong>em</strong>po, entre estes homens, neste horizonte”<br />

(p. 122).<br />

Vigotski (1998) fala a respeito <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> escolha usando a metáfora <strong>da</strong><br />

aeronave: escolher a aeronave que contraria o vôo, aquela mais pesa<strong>da</strong> que o ar: na pressão <strong>de</strong><br />

ser arrasta<strong>da</strong> para baixo, luta ativa e dinamicamente e, pela superação <strong>de</strong>ssa oposição,<br />

conseguir o ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro vôo: “quando v<strong>em</strong>os com nossos próprios olhos que a superação do<br />

material é mais pesa<strong>da</strong> que o ar, então experimentamos a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira alegria do vôo, aquela<br />

ascensão que propicia a catarse <strong>da</strong> arte” (p. 287).<br />

O herói é aquele que consegue escapar <strong>da</strong> captura <strong>da</strong> própria subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e pelo<br />

imaginário radical procura junto com outros heróis, “o compl<strong>em</strong>ento necessário para o<br />

alcance <strong>da</strong> autonomia <strong>da</strong> totali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>”, para constituír<strong>em</strong>, <strong>de</strong> forma ativa, “novas<br />

instituições” e “novas maneiras <strong>de</strong> viver” (CASTORIADIS, 1991, p. 162).<br />

Retornando a Arendt (2005), ela compl<strong>em</strong>entaria: “Só pod<strong>em</strong>os saber qu<strong>em</strong> um<br />

hom<strong>em</strong> foi se conhecermos a história <strong>da</strong> qual ele é o herói [...]; tudo o mais que sab<strong>em</strong>os a seu<br />

respeito, inclusive a obra que ele possa ter produzido e <strong>de</strong>ixado atrás <strong>de</strong> si, diz-nos apenas o<br />

que ele é ou foi” (p. 199). Pois, “ao contrário <strong>da</strong> fabricação, a ação jamais é possível no<br />

isolamento. Estar isolado é estar privado <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> agir [...]; a ação e o discurso são<br />

circun<strong>da</strong>dos pela teia <strong>de</strong> atos e palavras <strong>de</strong> outros homens, e estão <strong>em</strong> permanente contato<br />

com ela” 48 .<br />

Os probl<strong>em</strong>as consi<strong>de</strong>rados como reais pela nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> atual, somente po<strong>de</strong>rão<br />

ser resolvidos por nós, homens, porque somos capazes do imaginário. Mas a idéia <strong>de</strong> uma<br />

nova socie<strong>da</strong><strong>de</strong> não seria uma d<strong>em</strong>agogia, “compensação imaginária” diante <strong>da</strong> tragédia<br />

48 Ibid., p. 201.<br />

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