O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
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Evento XXVIII<br />
Minha mãe, ela não contava assim muita história por que ela, minha mãe s<strong>em</strong>pre foi uma pessoa muito<br />
guerreira <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequena. Ela falava que tinha um objetivo na vi<strong>da</strong> que ela casou cedo, separou-se cedo e não ia<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do marido. Então, ela se preocupava muito e estava muito volta<strong>da</strong> para seu crescimento profissional.<br />
Filha <strong>de</strong> família não tão abasta<strong>da</strong>, mas ela tinha <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> crescer, estu<strong>da</strong>r, vir para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> para ver seus <strong>de</strong>sejos realizados. Ela realizou seus sonhos (Professora Salete <strong>em</strong> Entrevista dia<br />
08/07/2008).<br />
As diferenças entre os horizontes sociais do professor/aluno/alunos explicariam ou<br />
justificariam <strong>em</strong> parte as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> compreensão e inferência? É possível falar <strong>em</strong><br />
coparticipação na relação entre professor e aluno quando as diferenças <strong>de</strong> horizontes são tão<br />
discrepantes? Por outro lado, os objetivos do ensino <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> refer<strong>em</strong>-se a esta<br />
coparticipação. Hoje seria ain<strong>da</strong> possível pensar no processo ensino-aprendizag<strong>em</strong> s<strong>em</strong> essa<br />
dimensão bilateral dialógica, s<strong>em</strong> o entrecruzamento <strong>da</strong>s “entonações <strong>da</strong>s vozes na orientação<br />
responsiva do discurso” (DISCINI, 2006, p. 73) <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um dos <strong>sujeitos</strong> falantes numa <strong>sala</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>aula</strong>? Nosso pensamento “nasce e forma-se <strong>em</strong> interação e <strong>em</strong> luta com o pensamento alheio,<br />
o que não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> refletir nas formas <strong>de</strong> expressão verbal do nosso pensamento”<br />
argumentava Bakhtin (1992b, p. 317).<br />
Reúno às reflexões apresenta<strong>da</strong>s, até agora, sobre o cotidiano <strong>da</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> e a<br />
aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, um trecho do texto <strong>de</strong> Discini (2006) sobre a noção <strong>de</strong><br />
carnavalização <strong>em</strong> Bakhtin:<br />
161<br />
O encontro entre contrários que se olham mutuamente para refletir-se um no outro, o<br />
contraste entre o maravilhamento <strong>de</strong> um e a explosão <strong>de</strong> irritação <strong>de</strong> outro; o contato<br />
interno e familiar estabelecido entre os dois <strong>de</strong>sconhecidos; a inoportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />
comportamento <strong>de</strong> ambos, acompanha<strong>da</strong> por certa disposição para revelar-se, a<br />
entronização e o <strong>de</strong>stronamento. A coexistência <strong>de</strong> contrários (p. 83).<br />
A autora fala <strong>da</strong> ocorrência <strong>de</strong> “metamorfoses radicais pela <strong>de</strong>sestabilização,<br />
subversão e ruptura <strong>em</strong> relação ao “mundo oficial”. Consi<strong>de</strong>ra que a idéia <strong>de</strong> acabamento é<br />
incompatível com a polifonia, argumentando ain<strong>da</strong> ser preciso não crer “num mundo <strong>de</strong><br />
evidências e inquestionabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s”. É preciso <strong>de</strong>sconstruir a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>da</strong> como<br />
transparência, <strong>de</strong>sestabilizar a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>da</strong> como acabamento 96 .<br />
Bakhtin nos l<strong>em</strong>braria <strong>da</strong>s fronteiras <strong>de</strong>limitadoras do enunciado, <strong>da</strong> importância<br />
fun<strong>da</strong>mental <strong>de</strong> que haja alternância entre os <strong>sujeitos</strong> falantes, <strong>da</strong> aptidão humana para<br />
presumir uma resposta e <strong>de</strong> que “todo ato <strong>de</strong> compreensão implica uma resposta”<br />
(BAKHTIN, 1992b, p. 339).<br />
96 DISCINI, 2006, et. seq.