O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
orali<strong>da</strong><strong>de</strong> e na criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> individual e coletiva, trazendo o recurso audiovisual e o microfone<br />
para a <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong>, <strong>de</strong> forma que os alunos pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> publicar, visibilizar suas produções<br />
artísticas musicais, cênicas, plásticas, literárias, etc. Simultaneamente, as obras literárias<br />
<strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s ao público infanto-juvenil se faziam presentes <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta estratégia didático-<br />
pe<strong>da</strong>gógica. A dinâmica <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> era basea<strong>da</strong> no argumento <strong>de</strong> que “ninguém é tão<br />
pobre que não tenha na<strong>da</strong> para <strong>da</strong>r, n<strong>em</strong> tão rico que não tenha na<strong>da</strong> para receber”. Qu<strong>em</strong><br />
queria <strong>da</strong>nçar, <strong>da</strong>nçava; cantar, cantava; contar pia<strong>da</strong>s e histórias, contava; qu<strong>em</strong> tivesse<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler histórias, lia para os outros colegas. O fato é que, no final, todos queriam<br />
participar <strong>de</strong> alguma forma. Certamente, aquele ano letivo acabou s<strong>em</strong> que nenhum aluno<br />
houvesse se tornado um gênio reconhecido, um excelente leitor ou um produtor <strong>de</strong> textos<br />
claros e objetivos. Mas, uma frase me foi dita por uma colega <strong>de</strong> trabalho que ficou marca<strong>da</strong>:<br />
“Você po<strong>de</strong> até não ter conseguido fazer com que todos apren<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> a ler e a escrever, mas o<br />
principal você conseguiu: resgatou a alma <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um dos alunos”. Costumo encontrar alguns<br />
<strong>de</strong>les indo para as escolas <strong>de</strong> 6º ao 9º ano do Ensino Fun<strong>da</strong>mental.<br />
O contato com uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> marca<strong>da</strong> por forte complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> levou-me a um<br />
‘mergulho’ mais profundo no “conhecimento sobre a trama <strong>de</strong> inter-relações e do sentido <strong>da</strong>s<br />
práticas e processos observáveis numa escola” (PATTO, 2005, p. 198), na tentativa <strong>de</strong><br />
relacionar este cotidiano com “a produção do fracasso escolar <strong>de</strong> tantos <strong>de</strong> seus alunos” 1 . A<br />
sensação <strong>de</strong> impotência diante do real e ante a minha pretensa e, muitas vezes, soberba<br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> pelos outros, me leva constant<strong>em</strong>ente a refletir sobre a relação entre pensar,<br />
agir e a autoria <strong>da</strong> nossa vi<strong>da</strong>. É meu <strong>de</strong>sejo estar entre pares e, juntos, sermos <strong>sujeitos</strong><br />
capazes <strong>de</strong> transformar reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s - por mais difíceis que possam parecer -, rompendo com o<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> exclu<strong>de</strong>nte, começando por uma prática pe<strong>da</strong>gógica que relacione<br />
“racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>em</strong>otivi<strong>da</strong><strong>de</strong>”, concor<strong>da</strong>ndo com Loureiro (2006) que,<br />
influenciado pelo pensamento filosófico <strong>de</strong> Agnes Heller, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a “coerência entre as<br />
atitu<strong>de</strong>s diárias e os i<strong>de</strong>ais societários mais amplos”, on<strong>de</strong> haja articulação entre as dimensões<br />
sociais, econômicas e cotidianas, <strong>de</strong> forma a provocar b<strong>em</strong> mais que mu<strong>da</strong>nça individual;<br />
esta, quando associa<strong>da</strong> à ação política, po<strong>de</strong> provocar profun<strong>da</strong>s transformações sociais e<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar, por consequência, melhores condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> para todos 2 .<br />
No curso <strong>de</strong> Mestrado, venho concentrando meus estudos e investigações nos<br />
processos <strong>de</strong> ensino/aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong> Língua Portuguesa, estando vincula<strong>da</strong> ao LEDUC –<br />
Laboratório <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> Linguag<strong>em</strong>, Leitura, Escrita e Educação/ FE <strong>da</strong> UFRJ. De um<br />
1 Ibid.<br />
2 Ibid., p. 108.<br />
14