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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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fica falando, fica falando. Eu falo: Mírian, já copiou? Ela: Não! Eu estou copiando. Já estou acabando. Quando<br />

eu vou ver, ela ain<strong>da</strong> está na reflexão (Ro<strong>da</strong> <strong>de</strong> conversa <strong>em</strong> 15/08/2008).<br />

Retom<strong>em</strong>os Castoriadis (1991) e seus argumentos sobre o fenômeno <strong>da</strong> reificação, <strong>em</strong><br />

sua macroanálise <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>: o hom<strong>em</strong> passa a valer pelo seu ‘status’ e pela sua posição<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma hierarquia. Ou seja, tanto aquele que é explorado economicamente quanto<br />

aquele que explora <strong>em</strong> função <strong>de</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s reais ou imaginárias são <strong>sujeitos</strong> ten<strong>de</strong>ndo a<br />

ser<strong>em</strong> reificados. Quando os <strong>sujeitos</strong> incorporam a re<strong>de</strong> constituí<strong>da</strong> por outros indivíduos e<br />

por coisas passam a ser parte <strong>de</strong>sta re<strong>de</strong> e a ter acesso a ela. Mas o cotidiano observado<br />

revelou o quanto é complexo esse processo, e o que é mais importante, a resistência e luta do<br />

ser humano contra a impotência - a falta <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r -, resultado do isolamento voluntário ou<br />

imposto. Nenhum dos alunos pesquisados <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> apresentar resistência às formas <strong>de</strong><br />

imposição e apequenamento que se faziam presentes.<br />

As estratégias didático-pe<strong>da</strong>gógicas precisariam orientar também os alunos na<br />

convivência do cotidiano, pois há nela “um enorme potencial capaz <strong>de</strong> eliminar a tentativa <strong>de</strong><br />

onipotência pauta<strong>da</strong> na força e na coação, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo “do acordo frágil e t<strong>em</strong>porário <strong>de</strong><br />

muitas vonta<strong>de</strong>s e intenções” (ARENDT, 2005, p. 213). A limitação do po<strong>de</strong>r e <strong>da</strong> ação está<br />

na existência <strong>de</strong> outras pessoas, na “condição humana <strong>da</strong> plurali<strong>da</strong><strong>de</strong>” 84 . Isso po<strong>de</strong>ria nos<br />

levar a um a<strong>de</strong>ndo que questionasse o quanto o professor se torna fraco quando se isola ou<br />

aceita passivamente o isolamento. No caso dos professores, talvez seja por isso que nos<br />

tornamos tão impotentes diante dos probl<strong>em</strong>as educacionais e pe<strong>da</strong>gógicos, sobretudo, no<br />

contexto <strong>da</strong> escola pública. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, muitas vezes somos como “ilhas” cerca<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

probl<strong>em</strong>as por todos os lados.<br />

A filósofa conclui que “a idéia <strong>de</strong> que só aquilo que vou fazer será real – perfeitamente<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira e legítima na esfera <strong>da</strong> fabricação – é s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>rrota<strong>da</strong> pelo curso real dos<br />

acontecimentos, no qual na<strong>da</strong> acontece com mais frequência que o totalmente inesperado”<br />

(ARENDT, 2005, p. 313).<br />

Evento VI<br />

Marlon: Eu tenho dois pra aju<strong>da</strong>r. Aí, o Ruan é muito tímido; na maioria <strong>da</strong>s vezes ele não precisa <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>. Ele<br />

quer aju<strong>da</strong> pra copiar... pra dizer pra ele quais as palavras, ensinar as contas... Mas o Gabriel, não. O Gabriel<br />

quer tudo saber as respostas. Aí, eu já botei até um apelido nele: “Quer saber to<strong>da</strong>s as respostas” (risos): a<br />

conta é essa tal, tal. É pra copiar tal, tal. Porque ele fala, igual a um papagaio falante. Se chama matraca. Ele<br />

não pára <strong>de</strong> falar o t<strong>em</strong>po todo. E <strong>de</strong>pois ele fala: Ah, eu não sei fazer a conta, v<strong>em</strong> me aju<strong>da</strong>r. Aí, eu vou e<br />

ajudo a ele. Ele fala: Ah, me fala a resposta aqui! Eu: Não posso falar!! Teve uma vez que eu ia aju<strong>da</strong>r ele e o<br />

Maurício chegou pra mim e disse: Cara, não é pra aju<strong>da</strong>r. É pra <strong>de</strong>ixar ele fazer sozinho. Eu quase que falei<br />

assim: Ué, mas a tia me botou aqui é pra aju<strong>da</strong>r. Então, eu tenho que aju<strong>da</strong>r. Já basta o Ruan que não quer<br />

aju<strong>da</strong>. Ele tenta fazer sozinho; mas o Gabriel, não. Ele copia tudo. E faz tudo <strong>em</strong>bolado. Não dá pra saber o que<br />

84 Ibid.<br />

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