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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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existencial pois não é a mim que ele pertence, mas à mãe, ao pai, às origens, à<br />

nação, à humani<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

[...] essa <strong>de</strong>terminação me é <strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim e eu não po<strong>de</strong>ria opor-me a ela<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim mesmo: <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> valores, não existo fora <strong>da</strong> genealogia 37 .<br />

2.2 As forças formadoras do discurso: entre a dialogia e a soberania<br />

O pensamento bakhtiniano nos leva a pensar nas forças que tornam as relações<br />

dialógicas tensas ininterruptamente: uma palavra é como uma arena na qual os valores e as<br />

forças sociais são <strong>de</strong> orientação antinômica – <strong>de</strong> oposição, contradição, paradoxo - se<br />

entrecruzam, se interag<strong>em</strong> <strong>de</strong> forma viva (BAKHTIN, 1992a). O autor vai usar a metáfora,<br />

trazendo conceitos <strong>da</strong>s ciências exatas para tentar explicar este movimento vivo, ora<br />

convergente ora divergente, <strong>da</strong> palavra; ora agrega, ora <strong>de</strong>sagrega os <strong>sujeitos</strong> <strong>em</strong> suas relações<br />

dialógicas: as forças centrípetas - tendências centralizadoras, narcísicas - e as forças<br />

centrífugas - tendências alteras, d<strong>em</strong>ocráticas.<br />

Quando nossas ressalvas, nossas réplicas à palavra do outro são frutos <strong>de</strong> uma visão<br />

amadureci<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> uma posição exotópica agregadora, tend<strong>em</strong>os a a<strong>de</strong>rir ao interesse<br />

pela dialogici<strong>da</strong><strong>de</strong> e não pela arbitrarie<strong>da</strong><strong>de</strong> e imposição <strong>de</strong> nosso pensar. A posição exotópica<br />

amadureci<strong>da</strong> vai ao encontro do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e autonomia que coinci<strong>de</strong> nos <strong>sujeitos</strong> e<br />

contradiz ao <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> soberania <strong>de</strong> um sobre o outro. Para Arendt (2005, p. 41), “se a<br />

soberania e a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> foss<strong>em</strong> a mesma coisa, nenhum hom<strong>em</strong> po<strong>de</strong>ria ser livre; pois a<br />

soberania, o i<strong>de</strong>al <strong>da</strong> inflexível auto-suficiência e autodomínio, contradiz a própria condição<br />

humana <strong>da</strong> plurali<strong>da</strong><strong>de</strong>”.<br />

Há nas relações dialógicas uma força narcísea que propulsiona uma tentativa vela<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

um ser soberano pela aprovação ao seu discurso e sua ação, mesmo que para alcançar tal<br />

supr<strong>em</strong>acia, tenha inclusive <strong>de</strong> <strong>de</strong>negrir a imag<strong>em</strong> do outro ou simplesmente, marcar s<strong>em</strong>pre e<br />

com forte entonação as peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s julga<strong>da</strong>s pejorativas ou negativas do outro. Esta é uma<br />

forma <strong>de</strong> privação <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Arendt (2005) argumenta que quando um ser humano é privado <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />

visibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, ele não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar marcas <strong>de</strong> sua existência; quando é condicionado a apenas se<br />

comportar <strong>de</strong> acordo com <strong>de</strong>terminados mol<strong>de</strong>s pré-estabelecidos arbitrariamente, não<br />

po<strong>de</strong>ndo jamais agir, não po<strong>de</strong> ser imortal e eterno. E a autora escreve: “Pois, <strong>em</strong>bora o<br />

mundo comum seja o terreno comum a todos, os que estão presentes ocupam nele diferentes<br />

lugares, e o lugar <strong>de</strong> um não po<strong>de</strong> coincidir com o <strong>de</strong> outro, <strong>da</strong> mesma forma como dois<br />

objetos não pod<strong>em</strong> ocupar o mesmo lugar no espaço” (p. 67).<br />

37 Ibid., BAKHTIN, 1992b, et. seq.<br />

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