O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
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CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Tenho atuado muito como professora na re<strong>de</strong> pública municipal do Rio <strong>de</strong> Janeiro nos<br />
três primeiros anos do Ensino Fun<strong>da</strong>mental e mais frequent<strong>em</strong>ente nas turmas <strong>de</strong> 3º ano <strong>em</strong><br />
que as crianças <strong>em</strong> sua maioria já estão alfabetiza<strong>da</strong>s. Com isso, o probl<strong>em</strong>a do analfabetismo<br />
funcional vivido por muitas crianças, adolescentes e jovens no Brasil s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong> sido <strong>da</strong>s<br />
questões que mais t<strong>em</strong> me preocupado nestes anos todos <strong>de</strong> profissão.<br />
Como pesquisadora, propus-me a investigar o cotidiano escolar dos <strong>sujeitos</strong> <strong>em</strong> fase<br />
<strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> alfabetização. Um inevitável fascínio e um incentivo a não <strong>de</strong>sistir <strong>da</strong> luta,<br />
<strong>de</strong> contribuir para que as crianças possam se consoli<strong>da</strong>r como autores e leitores, como<br />
enunciadores <strong>de</strong> discursos nesse processo interlocutivo, foi a minha principal motivação. Um<br />
não querer e um não po<strong>de</strong>r <strong>da</strong>r nenhum <strong>de</strong>sfecho <strong>de</strong>finitivo que sele o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> algum aluno<br />
como um fracassado.<br />
A universalização do Ensino Básico colocou o professor diante <strong>de</strong> outro rosto <strong>da</strong><br />
escola pública, principalmente nas re<strong>de</strong>s municipais e estaduais. Ele quase s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong> diante<br />
si uma varie<strong>da</strong><strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> no que concerne aos grupos sociais, mas não <strong>de</strong> classes sócio-<br />
econômicas. Antes <strong>da</strong> universalização, o professor pertencia a uma elite cultural e o aluno a<br />
uma elite social. Sab<strong>em</strong>os que, com a constituição <strong>de</strong> 1988, houve certa tendência à<br />
automatização <strong>de</strong> professores e alunos, servindo-se principalmente <strong>de</strong> livros didáticos, cursos<br />
intensivos para introdução <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> ensino, muito experimentalismo pe<strong>da</strong>gógico, etc.<br />
Mas, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> essa escola não <strong>de</strong>u conta <strong>da</strong> tarefa <strong>de</strong> concretizar o paradigma <strong>da</strong><br />
inclusão <strong>de</strong> todos na educação, porque uma lei que garanta o acesso <strong>de</strong> todos aos bens<br />
educacionais, sustenta<strong>da</strong> pelo princípio <strong>de</strong> educação como um direito humano inalienável,<br />
precisa <strong>de</strong> um suporte mais forte que uma lei constitucional; precisa <strong>de</strong> um projeto político<br />
revolucionário cuja maior exigência é uma práxis revolucionária <strong>da</strong> totali<strong>da</strong><strong>de</strong> social,<br />
inclusive <strong>da</strong> instituição educacional. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, sentimo-nos perplexos diante <strong>da</strong><br />
morosi<strong>da</strong><strong>de</strong> na escuta <strong>da</strong>s <strong>de</strong>núncias sobre a <strong>de</strong>terioração do ensino público. A qu<strong>em</strong><br />
incomo<strong>da</strong> na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira a precarie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos humanos e materiais evi<strong>de</strong>ntes<br />
na maioria <strong>da</strong>s instituições educacionais? Àquele que po<strong>de</strong> pagar pelo ensino do filho? Ou<br />
àquele que se sente <strong>de</strong>svalorizado socialmente, mesmo com uma terrível sobrecarga <strong>de</strong><br />
atribuições e responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s ca<strong>da</strong> vez mais acentua<strong>da</strong> nas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino Público?<br />
No compartilhamento <strong>de</strong> utopias nos faz<strong>em</strong>os companheiros. Talvez uma <strong>da</strong>s maiores<br />
causas para o <strong>de</strong>sinteresse do professor seja a falta <strong>de</strong> aliados <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> própria escola,<br />
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