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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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mistura <strong>de</strong> alívio e prazer. Na<strong>da</strong> relacionado a uma "purificação do Espírito", ascese, ou algo<br />

s<strong>em</strong>elhante. Vigotski (1998) escreveu:<br />

Quando a arte realiza a catarse e arrasta para esse fogo purificador as comoções mais<br />

íntimas e mais vitalmente importantes <strong>de</strong> uma alma individual, o seu efeito é um<br />

efeito social. (...) A arte é uma técnica social do sentimento, um instrumento <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> através do qual incorpora ao ciclo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social os aspectos mais íntimos<br />

e pessoais do nosso ser (p. 315).<br />

Esta forma literária - a tragédia – se ass<strong>em</strong>elha à psicanálise quanto à articulação <strong>de</strong><br />

três fatos que ambas parec<strong>em</strong> admitir, segundo Sousa (1999, p. 309s):<br />

1) A exposição dos conflitos íntimos humanos <strong>em</strong> seus contextos reais, isto é, nas<br />

relações pessoais. A encenação funcionava, assim, como um espelho dos<br />

conflitos vividos pelos espectadores <strong>em</strong> geral;<br />

2) A reflexão, individual ou não, sobre estes conflitos, inevitável, <strong>de</strong> um modo ou<br />

<strong>de</strong> outro, após a apresentação <strong>da</strong> peça;<br />

3) A esperança <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong> benefício humano como conseqüência dos dois<br />

fatos anteriores.<br />

Para Machado (1985, p.30), “nessa antítese, que faz pensar, nós pressentimos a<br />

supr<strong>em</strong>a avaliação <strong>da</strong> individuação”. E pela arte, pela criação <strong>da</strong> “bela aparência”<br />

conseguimos <strong>da</strong>r um contorno à pulsão (Hybris), limitando-a, sublimando-a, a fim <strong>de</strong> que “a<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong> não eclo<strong>da</strong>” 43 .<br />

A tragédia informa aos homens que sua condição é frágil, mas “se somos frágeis, pela<br />

razão nos tornar<strong>em</strong>os fortes, porque pelo conhecimento apren<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os a controlar estas forças<br />

do caos” (SOUSA, 1999, p.310).<br />

Vigotski (1998), ao estu<strong>da</strong>r os mecanismos psicológicos <strong>da</strong> arte, retoma o princípio<br />

freudiano <strong>de</strong> catarse que se baseia na idéia <strong>de</strong> evasão <strong>da</strong>s tensões e pulsões, facilita<strong>da</strong>s ou<br />

viabiliza<strong>da</strong>s através <strong>de</strong> imagens e narrativas simbólicas. Tal imaginário propiciaria uma<br />

satisfação (ilusória) capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrotar (provisoriamente) a eterna condição humana <strong>de</strong><br />

impotência e <strong>de</strong> frustração. O autor argumenta que Freud consi<strong>de</strong>rava que, pelas brinca<strong>de</strong>iras<br />

e <strong>de</strong>vaneios, a criança concretiza <strong>em</strong>oções angustiantes, por um mecanismo <strong>de</strong> transferência<br />

ou do <strong>de</strong>slocamento, unindo antigas <strong>em</strong>oções a novas representações. A arte atuaria como<br />

terapia para o artista e para o espectador um meio <strong>de</strong> afastar o conflito com o inconsciente<br />

s<strong>em</strong> cair na neurose (Vigotski, 1998). Para Vigotski, é certo que não suportaríamos nossa<br />

condição humana se os sentimentos transitass<strong>em</strong> pelo nosso inconsciente e consciente <strong>da</strong><br />

mesma forma que faz o pensamento. A arte evoca sentimentos opostos entre si provocando<br />

curto-circuito e <strong>de</strong>struição, pela reação estética <strong>de</strong> purificação <strong>de</strong> <strong>em</strong>oções: do <strong>de</strong>sprazer para<br />

43 Ibid., p. 22.<br />

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