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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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Tratar um hom<strong>em</strong> como uma coisa ou como puro sist<strong>em</strong>a mecânico não é menos,<br />

mas mais imaginário, do que preten<strong>de</strong>r ver nele uma coruja, isso representa um<br />

outro grau <strong>de</strong> aprofun<strong>da</strong>mento no imaginário; pois não somente o parentesco real<br />

do hom<strong>em</strong> com uma coruja é incomparavelmente maior do que o é com uma<br />

máquina, mas também nenhuma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> primitiva jamais aplicou tão<br />

radicalmente as conseqüências <strong>de</strong> suas assimilações dos homens a outra coisa,<br />

como o faz a indústria mo<strong>de</strong>rna com sua metáfora do hom<strong>em</strong> autômato<br />

(CASTORIADIS, 1991, p. 189-190).<br />

A imaginação radical por sua vez po<strong>de</strong> levar o <strong>de</strong>sejo humano a um projeto radical <strong>de</strong><br />

trans<strong>formação</strong> <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, a uma busca <strong>de</strong> suas condições na história efetiva e <strong>de</strong> seu<br />

sentido na situação e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos homens que po<strong>de</strong>riam realizá-la, impedindo que os<br />

homens sejam reificados por um sist<strong>em</strong>a político e econômico, pois, segundo Castoriadis<br />

(1991), “a idéia <strong>de</strong> práxis pressupõe que a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> histórica como reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ação dos<br />

homens é o único lugar on<strong>de</strong> as idéias e os projetos pod<strong>em</strong> adquirir sua ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira<br />

significação” (p. 82-83). E ain<strong>da</strong>, “a idéia central <strong>da</strong> revolução é que a humani<strong>da</strong><strong>de</strong> t<strong>em</strong> diante<br />

<strong>de</strong> si um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro porvir, e que este porvir não é simplesmente para ser pensado, mas para<br />

ser feito” (p. 86).<br />

Um fazer lúcido é aquele que não se aliena na imag<strong>em</strong> já adquiri<strong>da</strong> <strong>de</strong>sta situação<br />

por vir, que a modifica a ca<strong>da</strong> passo, que não confun<strong>de</strong> intenção e reali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>sejável e provável, que não se per<strong>de</strong> <strong>em</strong> conjecturas e especulações quanto aos<br />

aspectos do futuro que não importam para o que <strong>de</strong>ve ser feito agora ou quanto aos<br />

quais na<strong>da</strong> pod<strong>em</strong>os; mas que não renuncia também a esta imag<strong>em</strong>, porque então<br />

não somente ‘ele não sabe aon<strong>de</strong> vai’, como também não sabe n<strong>em</strong> mesmo mais<br />

aon<strong>de</strong> quer ir (...) (CASTORIADIS, 1991, p. 108).<br />

Portanto, a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>da</strong> arte como reação estética vai além <strong>da</strong> crença <strong>de</strong> que ela<br />

permite um “vôo do espírito” num mundo utilitarista e mercantilista, a salvação do sujeito e<br />

seu reencantamento pela vi<strong>da</strong> 47 , o que seria caracteristicamente subjetivista e alienante.<br />

Defendo como Castoriadis (1991) a idéia <strong>de</strong> que a imaginação <strong>de</strong>sperta, encoraja,<br />

impulsiona, provoca, re-presenta, reinterpretando e reinventando o passado no presente. Pela<br />

arte criadora, o imaginário e a fantasia vão ao encontro <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos opostos presentes no<br />

processo dinâmico <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> sócio-histórica. A possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um outro fim nos amedronta, é<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, nos <strong>de</strong>sestabiliza e <strong>de</strong>sinstala: ficamos s<strong>em</strong> saber qu<strong>em</strong> é o herói e qu<strong>em</strong> é o autor.<br />

Quando reconhec<strong>em</strong>os que o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> transformar está no dizer/fazer <strong>de</strong> todos os atores<br />

sociais, nos <strong>de</strong>spimos do sentimento <strong>de</strong> soberania <strong>de</strong> um sobre os outros. Assim, argumenta<br />

Arendt (2005):<br />

O po<strong>de</strong>r só é efetivado enquanto a palavra e os atos não são brutais, quando as<br />

palavras não são <strong>em</strong>prega<strong>da</strong>s para velar intenções, mas para revelar reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, e os<br />

47 Utilizei a análise <strong>de</strong> Brayner (2005) sobre a t<strong>em</strong>ática <strong>da</strong> relação Literatura e Educação, ciente <strong>de</strong> que se<br />

tratava <strong>de</strong> um outro contexto <strong>de</strong> discussão: a produção pe<strong>da</strong>gógica literária na <strong>formação</strong> do educador. Busquei<br />

uma aproximação entre seu pensamento e o que está sendo argumentado neste trabalho.<br />

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