O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
CAPÍTULO 1<br />
BASES EPISTÊMICAS E ARCABOUÇO METODOLÓGICO DA PESQUISA<br />
21<br />
O fato <strong>de</strong> que o hom <strong>em</strong> não po<strong>de</strong> contar consigo m esm o<br />
n<strong>em</strong> ter fé absoluta <strong>em</strong> si próprio (e as duas coisas são um a<br />
só) é o preço que os seres hum anos pagam pela liber<strong>da</strong><strong>de</strong>; e a<br />
im possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> perm anecer<strong>em</strong> com o senhores únicos do<br />
que faz<strong>em</strong> , <strong>de</strong> conhecer<strong>em</strong> as consequências <strong>de</strong> seus atos e <strong>de</strong><br />
confiar<strong>em</strong> no futuro é o preço que pagam pela plurali<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
pela reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, pela alegria <strong>de</strong> conviver<strong>em</strong> com outros num<br />
m undo cuja reali<strong>da</strong><strong>de</strong> é assegura<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> um pela presença<br />
<strong>de</strong> todos.<br />
H annah A rendt 5<br />
Na história <strong>da</strong>s Ciências Humanas, especialmente a partir do século XIX, verifica-se<br />
que, na tentativa <strong>de</strong> ela se firmar e ser legitima<strong>da</strong> como ciência, acabou não se <strong>de</strong>svinculando<br />
dos paradigmas <strong>da</strong>s ciências naturais. E ain<strong>da</strong>, na busca <strong>de</strong> realizar uma ruptura<br />
epist<strong>em</strong>ológica com a filosofia <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> positivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, “o faz<strong>em</strong> <strong>de</strong>calcando o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
cientifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s ciências naturais (lógico-mat<strong>em</strong>ático, biológico ou histórico-cultural)”<br />
(KRAMER, 2006, p. 20).<br />
Para Mazzotti & Oliveira (2002), neste contexto cultural, político e sócio-econômico<br />
do final do século XIX e início do século XX, surge no campo científico a <strong>de</strong>fesa pela escola<br />
pública <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> para todos os ci<strong>da</strong>dãos. E ain<strong>da</strong>, “buscou-se compreen<strong>de</strong>r <strong>em</strong> quais<br />
condições é factível estabelecer um processo <strong>de</strong> ensino-aprendizag<strong>em</strong> que permita a<br />
realização do ensinar a todos com igual quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, uma vez que todos tinham essa perspectiva<br />
como imperativo ético comum” (p. 34-35). Nasce assim no cenário científico a <strong>de</strong>fesa por<br />
uma Ciência <strong>da</strong> Educação. Os autores ain<strong>da</strong> registram que essa <strong>de</strong>fesa se <strong>de</strong>u a partir <strong>de</strong> dois<br />
pontos divergentes quanto à concepção <strong>de</strong>sta Ciência <strong>da</strong> Educação.<br />
Uma sustentava que ela teria uma outra ciência por fun<strong>da</strong>mento [...]. Outra posição<br />
consi<strong>de</strong>rava que os fatos pe<strong>da</strong>gógicos, não sendo redutíveis a qualquer outra<br />
categoria <strong>de</strong> fatos, são regulados por normas ou leis próprias, sendo a ciência <strong>da</strong><br />
educação uma ciência fun<strong>da</strong>mental 6 .<br />
Esta divergência provocou durante todo o século XX e, <strong>em</strong> certo sentido, até hoje,<br />
<strong>em</strong>bates entre as Ciências Humanas, que tomam o fato educacional <strong>de</strong> um modo geral, e a<br />
5 ARENDT, 2005, p. 256.<br />
6 MAZZOTTI & OLIVEIRA, 2002, loc. cit.