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O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...

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observava, ou fazendo os registros <strong>de</strong> campo, até as análises dos <strong>da</strong>dos propriamente ditas.<br />

Colocar-me no lugar exterior, numa posição exotópica, não podia significar <strong>em</strong>po<strong>de</strong>rar-me<br />

diante do outro, no sentido <strong>de</strong> soberania ou supr<strong>em</strong>acia, <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> estava ali diante <strong>da</strong>queles<br />

<strong>sujeitos</strong> por ser <strong>de</strong>tentora <strong>de</strong> um saber ‘maior’, com “pe<strong>da</strong>ntismo, segredos e mistérios”<br />

(MINAYO, 2007, p. 75). Mas ao contrário, os outros – alunos e professora – foram os que me<br />

levaram a <strong>em</strong>po<strong>de</strong>rar-me neste contexto, ao aceitar<strong>em</strong> o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> objetivados <strong>em</strong><br />

minha criação teórica. E concordo com Minayo que os <strong>sujeitos</strong> pesquisados esperam receber<br />

do pesquisador “o ônus <strong>da</strong> compreensão contextualiza<strong>da</strong> e <strong>da</strong> interpretação” 13 .<br />

Consi<strong>de</strong>ro importante reconhecer o pressuposto bakhtiniano <strong>de</strong> que a ca<strong>da</strong> movimento<br />

do olhar há a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma nova visão e que pelo gesto exotópico nos é permitido <strong>da</strong>r<br />

o acabamento e a totalização ao objeto, conforme Bakhtin (1992b):<br />

A ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> estética propriamente dita começa justamente quando estamos <strong>de</strong> volta a<br />

nós mesmos, quando estamos no nosso próprio lugar, fora <strong>da</strong> pessoa que sofre,<br />

quando <strong>da</strong>mos forma e acabamento ao material recolhido mediante a nossa<br />

i<strong>de</strong>ntificação com o outro, quando o completamos com o que é transcen<strong>de</strong>nte à<br />

consciência que a pessoa que sofre t<strong>em</strong> do mundo <strong>da</strong>s coisas, um mundo que <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

então se dota <strong>de</strong> uma nova função, não mais <strong>de</strong> in<strong>formação</strong>, mas <strong>de</strong> acabamento: a<br />

postura do corpo que nos transmitia a sua dor tornou-se um valor puramente<br />

plástico, uma expressão que encara e acaba a dor expressa e num tom <strong>em</strong>otivovolitivo<br />

que já não é o <strong>da</strong> dor; o céu azul que o <strong>em</strong>oldura tornou-se um componente<br />

pictural que traz solução à dor (p. 46).<br />

As pesquisas <strong>em</strong> Ciências Humanas são <strong>de</strong> caráter dialógico: têm o hom<strong>em</strong> como<br />

sujeito falante, produtor <strong>de</strong> textos. Por conta <strong>de</strong>ste aspecto, Amorim (2006) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o<br />

texto do pesquisador “não <strong>de</strong>ve <strong>em</strong>u<strong>de</strong>cer o texto do pesquisado, <strong>de</strong>ve restituir as condições<br />

<strong>de</strong> <strong>enunciação</strong> e <strong>de</strong> circulação que lhe confer<strong>em</strong> as múltiplas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> sentido” (p.<br />

98).<br />

Fazer pesquisa <strong>em</strong> Ciências Humanas sob esta concepção implica estar convencido do<br />

quanto pesa a palavra, no sentido <strong>de</strong> ser e ter maturi<strong>da</strong><strong>de</strong> suficiente para tratá-la como um dom<br />

recíproco; pressupõe que <strong>de</strong>va existir “uma atmosfera cujo clima seja favorável à confiança<br />

profun<strong>da</strong> que instaura condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>” (Bakhtin, 1992b, p. 217); <strong>em</strong> que não se permita a<br />

instauração <strong>de</strong> relações on<strong>de</strong> se tenha medo ou receio <strong>da</strong> réplica do outro à nossa palavra. E,<br />

<strong>de</strong>ssa forma, é possível buscarmos nos libertar – a mim e ao outro - do “centro único<br />

incorporado pela intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong> do autor” (MARCHEZAN, 2006, p. 72) <strong>da</strong> <strong>enunciação</strong>.<br />

Além <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r os <strong>sujeitos</strong> constitutivamente dialógicos e polifônicos, o<br />

pensamento <strong>de</strong> Mikhail Bakhtin, por conseguinte, pod<strong>em</strong>os dizer, trata <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rá-los<br />

13 Ibid, loc. cit.<br />

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