O jogo da enunciação em sala de aula e a formação de sujeitos ...
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epresentações <strong>da</strong>s reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s factuais ou não” (GERALDI, 1995, p. 13), ao que Bakhtin<br />
chamou <strong>de</strong> Simpósio Universal. A consciência individual dos <strong>sujeitos</strong> vai incorporando<br />
categorias, que se tornam signos nos grupos sociais a que pertenc<strong>em</strong>. Contudo, nos <strong>em</strong>bates<br />
<strong>da</strong>s relações dialógicas nas quais estamos inseridos, nossa presunção com relação à resposta<br />
do outro ao nosso enunciado influencia na elaboração, na escolha do gênero, dos<br />
procedimentos composicionais e dos recursos linguísticos, no estilo.<br />
Mas preferimos pensar no peso que t<strong>em</strong> o <strong>de</strong>svio do olhar que nos permite uma<br />
liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> um estilo próprio, uma autonomia diante do discurso do Outro,<br />
como argumenta Castoriadis (1991).<br />
A dinâmica do apadrinhamento na rotina diária <strong>da</strong> turma 1303 funcionou também<br />
como mais uma forma <strong>de</strong> controle <strong>da</strong> professora sobre os processos inter-relacionais <strong>em</strong> <strong>sala</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>aula</strong>, através <strong>da</strong>queles alunos a qu<strong>em</strong> ela cre<strong>de</strong>nciava como padrinhos, tomando como base<br />
o domínio <strong>de</strong> saberes e comportamentos consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong>sejáveis por ela, <strong>em</strong> classe. Isso<br />
ocorria quando ela <strong>de</strong>legava a esses alunos padrinhos atribuições e competências próprias <strong>da</strong><br />
profissão <strong>de</strong> professor; quando compartilhava com eles suas preocupações acerca <strong>da</strong>s<br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s na aprendizag<strong>em</strong> e no comportamento <strong>de</strong> alguns alunos, como no evento<br />
<strong>de</strong>stacado, <strong>em</strong> que Úrsula e Paulo são colocados pela professora para Leila apresentar seu<br />
trabalho. Quanto ao aluno Alan, tanto Thiago quanto Úrsula pareciam ser compassivos com<br />
ele, sensibilizados e não hostis com o colega diante do seu choro, mas <strong>de</strong> certa forma, a<br />
professora buscou controlar essa relação interlocutiva entre eles.<br />
Pareceu-me haver uma forma <strong>de</strong> controle até mesmo do quanto o aluno “padrinho”<br />
<strong>de</strong>veria ser solidário e com qu<strong>em</strong>; ou ain<strong>da</strong> (pondo-nos diante <strong>de</strong> outro sujeito, o “afilhado”)<br />
<strong>de</strong> qu<strong>em</strong> o sujeito gostaria <strong>de</strong> receber soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong>; enquanto acredito ser possível apostar<br />
numa outra dinâmica: ser companheiro pela utopia (GERALDI, 1995) e não pela soberania.<br />
Por que até esse movimento <strong>em</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> precisava estar sob os olhares vigilantes <strong>da</strong><br />
professora?<br />
A <strong>enunciação</strong> é um <strong>jogo</strong> <strong>em</strong> que ocorre a linguag<strong>em</strong> – um <strong>jogo</strong> linguístico on<strong>de</strong> há<br />
interação, tensão ininterrupta e conflito. A réplica é <strong>de</strong>corrente <strong>da</strong> reação do locutor neste<br />
processo dialógico. Porém, sab<strong>em</strong>os que “quanto maior for o controle sobre o encontro dos<br />
<strong>sujeitos</strong> (interações) maior o controle dos discursos e, por esta via, o controle <strong>da</strong> produção <strong>de</strong><br />
sentidos” (GERALDI, 1995, p. 62). É um controle <strong>em</strong> ca<strong>de</strong>ias: Pelo controle dos encontros<br />
intersubjetivos controla-se a produção discursiva e, por conseguinte, o controle sobre a<br />
produção <strong>de</strong> sentidos.<br />
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