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218<br />

TBISTES TB6PICOS<br />

219<br />

corrigida pelo homem, que nos conduzira ao rebordo superior<br />

da chapada de Mato Grosso, dando-nos acesso a 1.000 qUilometros<br />

de planalto inclinando-se levemente na dir~o norte, ate<br />

a bacia amazonica: 0 chapadao.<br />

E outro mundo que se abre. A erva rUde, de um verde<br />

leitoso, dissimula mal a areia, branca, rosada ou ocre, produzida<br />

peJa decomposi~ao superficial do SOGO de gres. A vegeta~o<br />

se reduz a arbustos espa~dos, de formas nodosas, protegidos<br />

por uma corti~a espessa, folhas envernizadas e espinhos contra<br />

a sE!ca que reina durante 7 meses por ano. Basta, entretanto,<br />

que a chuva caia durante alguns dias para que essa savana<br />

deserta se transforme Dum jardim: 0 capiro reverdece, as<br />

arvores se cobrem de flores braneas e malvas. Mas sempre<br />

domina uma impressao de imensidade. 0 solo e tao unido.<br />

os declives tao fracos que 0 horizonte se estende sem obstaculo<br />

por dezenas de quilometros: meio dia se passa em percorrer<br />

uma paisagem contemplada desde a manha, repetindo exatamente<br />

a que se atravessou na vespera, a tal ponto que pereep­<br />

~ao e lembran~a se eonfundem numa obsessao de imobilidade.<br />

Por mais longinqua que seja a terra, e a tal ponto uniforme,<br />

a tal ponto desprovida de acidentes que, multo alto no ceu<br />

toma-se por uuvens 0 horizonte distante. A paisagem e fantastiea<br />

demais para parecer mon6tona. De vez em quando,<br />

o eaminhao passa a vau cursos de agua sem margens que<br />

mais inundam do que atravessam 0 planalto, como se esse<br />

terreno - tim dos mais antigos do mundo e fragmento ainda<br />

intaeto do eontinente de Gondwana que, no seeundario, unia<br />

o Brasil e a Africa - houvesse permanecido jovem demais<br />

para que os rios tivessem tido tempo de eseavar urn leito.<br />

A Europa apresenta formas precisas sob uma luz difusa.<br />

Aqui, 0 papel, para n6s tradicional, do ceu e da terra, se<br />

inverte. Acima do rastro leitoso do campo, as nuvens eompOem<br />

as mais extravagantes constru~es. 0 ceu e a regHio<br />

das formas e dos volumes; a terra guarda a moleza das<br />

primeiras idades.<br />

Uma tarde, paramos nao longe de um garimpo. Logo<br />

apareceram formas em torno do nosso fogo: alguns garimpeiros<br />

que tiravam de suas saeolas ou dos bolsos das suas roupas<br />

esfarrapadas pequenos tubos de bambu cujo contelido esvaziavam<br />

em nossas maos; sao diamantes brutos que esperam<br />

vender-nos. Mas, eu tinha sido suficientemente informado<br />

pelos irmaos B... dos costumes do garimpo para saber que<br />

nada disso podia ser verdadeiramente interessante. Porque<br />

o garimpo tern as suas leis nao es '~, nem por isso menos<br />

estritamente observadas.<br />

ltsses homens se divid em duas categorias: aventureiros<br />

e fugitivos; 0 Ultimo po e 0 mals numeroso, 0 que expli:a<br />

que, uma vez ent 0 no garimpo, diflcilmente se possa sa.lr.<br />

o cursO dos pequenos rios, em euja areia se eneontra 0 dIamante<br />

e dominado pelos primeiros oeupantes. Seus reeursoS<br />

seria~ insuficientes para lhes permitir esperar a grande<br />

ocasLao, que niio e muito freqliente. Entao, organizaram~se<br />

em handos, eada urn comanditado por urn ehefe que se enfelta<br />

com 0 titulo de "capitao" ou de "engenheiro"; este deve dispor<br />

de eapitais para arliar os seus homens, equipa-Ios com 0<br />

material indispensavel - balde de ferro estanhado para eolher<br />

o cascalho, peneira, bateia, por vezes tambem eapaeete de<br />

eseafandro para permitir a descida nas profundezas, e bornba<br />

de ar - enfim e sobretudo, 0 necessario para abasteee-Ios regularmente.<br />

Em troca, 0 homem se compromete a s6 vender os<br />

seus achados aos compradores acreditados (eles pr6prios em<br />

liga~ao com as grandes lapida!:6es holandesas ou inglesas) e<br />

a dividir os lueros com seu ehefe.<br />

o armamento nao se explica somente pelas rivalidades<br />

freqlientes entre os bandos. Ate uma epoca muito reeente, e<br />

meSillO ainda hoje l<br />

ele permitia impedir que a poHcia penetrasse<br />

no garimpo. Assim, a zona diamantifera formava urn<br />

estado no Estado, 0 primeiro as vezes em guerra aberta com<br />

o segundo. Em 1935, continuava-se a falar na pequena guerra<br />

sustentada durante alguns ano~ pelo engenheiro Morbeck e<br />

seus valentoes contra a polfcia do Estado de Mato Grosso, e<br />

que terminou por urn acordo. E preeiso dizerl em favor dC:S<br />

insubmissos, que 0 infeliz que se deixasse capturar pela .pol:,­<br />

cia noS arredores do garimpo raramente chegava a Cmaba.<br />

Urn famoso ehefe de bando, ° capiUio Arnaldo, foi preSQ com<br />

o seu tenente. Amarraram-nos pelo pese~, OS pes repousando<br />

numa tabua ate que a fadiga os fez perder 0 equilibrio e cair<br />

enforcados do alto da arvore em que tinham sido esquecidos.<br />

A lei do bando e tao bern observada que nao e raro ver em<br />

Lageado ou em Poxoreu, que sao os eentros do garimpo, uma<br />

mesa de albergue eoberta de diamantes, momentaneamente<br />

abandonada por seus QCupantes. Cada pedra, logo depois de<br />

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