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TBISTES TB6PICOS<br />
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corrigida pelo homem, que nos conduzira ao rebordo superior<br />
da chapada de Mato Grosso, dando-nos acesso a 1.000 qUilometros<br />
de planalto inclinando-se levemente na dir~o norte, ate<br />
a bacia amazonica: 0 chapadao.<br />
E outro mundo que se abre. A erva rUde, de um verde<br />
leitoso, dissimula mal a areia, branca, rosada ou ocre, produzida<br />
peJa decomposi~ao superficial do SOGO de gres. A vegeta~o<br />
se reduz a arbustos espa~dos, de formas nodosas, protegidos<br />
por uma corti~a espessa, folhas envernizadas e espinhos contra<br />
a sE!ca que reina durante 7 meses por ano. Basta, entretanto,<br />
que a chuva caia durante alguns dias para que essa savana<br />
deserta se transforme Dum jardim: 0 capiro reverdece, as<br />
arvores se cobrem de flores braneas e malvas. Mas sempre<br />
domina uma impressao de imensidade. 0 solo e tao unido.<br />
os declives tao fracos que 0 horizonte se estende sem obstaculo<br />
por dezenas de quilometros: meio dia se passa em percorrer<br />
uma paisagem contemplada desde a manha, repetindo exatamente<br />
a que se atravessou na vespera, a tal ponto que pereep<br />
~ao e lembran~a se eonfundem numa obsessao de imobilidade.<br />
Por mais longinqua que seja a terra, e a tal ponto uniforme,<br />
a tal ponto desprovida de acidentes que, multo alto no ceu<br />
toma-se por uuvens 0 horizonte distante. A paisagem e fantastiea<br />
demais para parecer mon6tona. De vez em quando,<br />
o eaminhao passa a vau cursos de agua sem margens que<br />
mais inundam do que atravessam 0 planalto, como se esse<br />
terreno - tim dos mais antigos do mundo e fragmento ainda<br />
intaeto do eontinente de Gondwana que, no seeundario, unia<br />
o Brasil e a Africa - houvesse permanecido jovem demais<br />
para que os rios tivessem tido tempo de eseavar urn leito.<br />
A Europa apresenta formas precisas sob uma luz difusa.<br />
Aqui, 0 papel, para n6s tradicional, do ceu e da terra, se<br />
inverte. Acima do rastro leitoso do campo, as nuvens eompOem<br />
as mais extravagantes constru~es. 0 ceu e a regHio<br />
das formas e dos volumes; a terra guarda a moleza das<br />
primeiras idades.<br />
Uma tarde, paramos nao longe de um garimpo. Logo<br />
apareceram formas em torno do nosso fogo: alguns garimpeiros<br />
que tiravam de suas saeolas ou dos bolsos das suas roupas<br />
esfarrapadas pequenos tubos de bambu cujo contelido esvaziavam<br />
em nossas maos; sao diamantes brutos que esperam<br />
vender-nos. Mas, eu tinha sido suficientemente informado<br />
pelos irmaos B... dos costumes do garimpo para saber que<br />
nada disso podia ser verdadeiramente interessante. Porque<br />
o garimpo tern as suas leis nao es '~, nem por isso menos<br />
estritamente observadas.<br />
ltsses homens se divid em duas categorias: aventureiros<br />
e fugitivos; 0 Ultimo po e 0 mals numeroso, 0 que expli:a<br />
que, uma vez ent 0 no garimpo, diflcilmente se possa sa.lr.<br />
o cursO dos pequenos rios, em euja areia se eneontra 0 dIamante<br />
e dominado pelos primeiros oeupantes. Seus reeursoS<br />
seria~ insuficientes para lhes permitir esperar a grande<br />
ocasLao, que niio e muito freqliente. Entao, organizaram~se<br />
em handos, eada urn comanditado por urn ehefe que se enfelta<br />
com 0 titulo de "capitao" ou de "engenheiro"; este deve dispor<br />
de eapitais para arliar os seus homens, equipa-Ios com 0<br />
material indispensavel - balde de ferro estanhado para eolher<br />
o cascalho, peneira, bateia, por vezes tambem eapaeete de<br />
eseafandro para permitir a descida nas profundezas, e bornba<br />
de ar - enfim e sobretudo, 0 necessario para abasteee-Ios regularmente.<br />
Em troca, 0 homem se compromete a s6 vender os<br />
seus achados aos compradores acreditados (eles pr6prios em<br />
liga~ao com as grandes lapida!:6es holandesas ou inglesas) e<br />
a dividir os lueros com seu ehefe.<br />
o armamento nao se explica somente pelas rivalidades<br />
freqlientes entre os bandos. Ate uma epoca muito reeente, e<br />
meSillO ainda hoje l<br />
ele permitia impedir que a poHcia penetrasse<br />
no garimpo. Assim, a zona diamantifera formava urn<br />
estado no Estado, 0 primeiro as vezes em guerra aberta com<br />
o segundo. Em 1935, continuava-se a falar na pequena guerra<br />
sustentada durante alguns ano~ pelo engenheiro Morbeck e<br />
seus valentoes contra a polfcia do Estado de Mato Grosso, e<br />
que terminou por urn acordo. E preeiso dizerl em favor dC:S<br />
insubmissos, que 0 infeliz que se deixasse capturar pela .pol:,<br />
cia noS arredores do garimpo raramente chegava a Cmaba.<br />
Urn famoso ehefe de bando, ° capiUio Arnaldo, foi preSQ com<br />
o seu tenente. Amarraram-nos pelo pese~, OS pes repousando<br />
numa tabua ate que a fadiga os fez perder 0 equilibrio e cair<br />
enforcados do alto da arvore em que tinham sido esquecidos.<br />
A lei do bando e tao bern observada que nao e raro ver em<br />
Lageado ou em Poxoreu, que sao os eentros do garimpo, uma<br />
mesa de albergue eoberta de diamantes, momentaneamente<br />
abandonada por seus QCupantes. Cada pedra, logo depois de<br />
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