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1<br />

I<br />

352 O. LEVI~STR.AUSS TBISTES TIWPICOS 353<br />

a idade em que 0 universe dos seres ainda nao realizara a<br />

sua cisao.<br />

Na tarde do quinto dia, uma pequena piroga amarrada<br />

na margem marCOU-DOS a chegada. Urn capao ralo oferecia-se<br />

para 0 acampamento. A aldeia india se encontrava a urn<br />

quilornetro para 0 interior: ro~a de uma centena de .metros<br />

no sen lado mais longo, ocnpando uma derrubada ov6lde em<br />

que se elevavam tres cabanas coletivas de forma hemis~erica,<br />

acima das quais 0 poste central se prolongava, A maDeIra de<br />

mastro. As duas cabanas principais enfrentavam-se na p~rte<br />

larga do 6vo rodeando urn terreiro de dan~as de chao baildo.<br />

A terceira s~ encontrava na ponta, reunida A pra4.:a por urn<br />

trilho atraves da ro~a.<br />

A popnlac;lio compreendia 25 pessoas, mais urn menino de<br />

nns doze anos, que falava uma lfngua diferente. e que compreendi<br />

ser urn prisioneiro de guerra, tratado, alIaS, ,como as<br />

crian~as da tribo. 0 traje dos homens e das mulheres era<br />

tao reduzido quanto 0 dos Nhambiquara, so que todos os<br />

homens traziam estojo peniano canico, semelhante ao dos<br />

Bororo, e que 0 uso da borla de palha acima das part: sexuai~,<br />

tambem conhecido dos Nhambiquara, estava entre eles rnalS<br />

generalizado. Homens e mulheres traziam nOs labios tembetas<br />

de resina endurecida, com aspecto de ftmbar, e colares de<br />

discos ou de placas de madreperola brilhante, ou ainda conchas<br />

inteiras polidas. Os pulsos, os biceps, as panturrilhas e<br />

os tornozelos eram comprimidos por faixas de algodao. Enfim,<br />

as mulheres tinham 0 septo nasal furado para nfHe introduzirse<br />

uma barra composta de discos alternadamente brancos e<br />

pretos, enfiados e amarrados numa fibra rigida.<br />

A aparencia fisica era muito diferente da dos Nhambiquara:<br />

corpos rechonchudos, pernas curtas e pele bern d.ara.<br />

Esta ultima contribuia com os tra~os levemente mongolicos,<br />

para dar a alguns indil;enaS urn aspecto caucasico. Os indios<br />

se depilavam de maneira muito meticulosa: os cilios, com a<br />

mao; as sobrancelhas, com cera, que deixavam endurecer no<br />

lugar durante alguns dias, antes de arranca~la. Na. frente,<br />

os cabelos eram cortados (ou, mais exatamente quelmados)<br />

em franja arredondada, descobrindo a testa. As temporas<br />

eram desguarnecidas por urn processo que nao encontrei em<br />

nenhum outro lugar, consistindo em colocar os cabelos n.o<br />

anel de urn cordao enrolado sabre si mesmo. Uma e."..\::tremldade<br />

e presa entre os dentes do operador, que, com uma das<br />

maos segura 0 anel aberto, com a Dutra puxa a ponta livre,<br />

de tal forma que oS dois peda~os do cordao se enrolam mais<br />

estreitamente e arrancam os cabelos ao apertarem-se.<br />

l!':sses indios qne se desiguavam a si mesmos pelo nome<br />

de Munde, jamais tinham side meneionados na literatura<br />

etnogrlifica. Falam uma lingua alegre em que as palavras<br />

terminam por silabas acentuadas: zip zep, pep, zet, tap, kat,<br />

sublinhando seus discursos como batidas de cimbalos. Essa<br />

lingua se parece com os dialetos do Baixo Xingu, hoje extintos,<br />

e com outros que foram recolhidos recentemente nos afluentes<br />

da margem direita do Guapore, de cujas fontes os Munde<br />

estao muito pr6ximos. Ninguem, que eu saiba, reviu os Munde<br />

depois da minha visita, salvo uma missionaria que eneontrou<br />

alguns pouco antes de 1950 no Alto Guapore, onde tres familias<br />

se haviam refugiado, Passei entre eles uma agradavel semana,<br />

pois raramente hospedeiros se mostraram mais simples, mais<br />

pacientes e mais cordiais. Faziam-me admjrar as suas rOGas<br />

onde cresciam 0 milho, a t:qjJndfoca a batata dace, 0 amell:..<br />

Ifoirn, 0).abacQ, 0 cabaceiro e diversas e~ de favas e<br />

~j5es. Nas derrubadas, respeitam as raizes de palmeiras<br />

onde proliferam grandes larvas brancas de que se regalam:<br />

curiosa galinheiro em que a agricultura e a ..s:iasao~e aeham<br />

confundidas. .-<br />

As cabanas redondas deixavam passar uma luz dlfusa,<br />

semeada pelo sol atraves dos Intersticios. Eram cuidadosamente<br />

construidas com varas plantadas em circulo e curvadas<br />

na forqullha de estelos p1antados obllqnamente e formando<br />

areos no interior, entre os quais uma dezena de redes de algodao<br />

estavam suspensas. TOdas as varas se juntavam a<br />

altura de 4 metros mais ou menos, Iigadas a um paste central<br />

que atravessava a cobertura. Circulos horizontais de ramos<br />

completavam 0 vigamento que servia de suporte a uma cupula de<br />

palmas cujos foliolos tinham sido virados para 0 mesmo lado e<br />

que imbrieavam como telhas. 0 diAmetro da maior cabana era<br />

de 12 metros; quatro familias af viviam, dispondo cada uma de<br />

urn setor eompreendido entre dois arcos, 1!:stes eram em<br />

m1mero de seis, mas os dois setores correspondentes as portas<br />

opostas eram deixados Iivres, para permitir a circulagao, LA<br />

passava os meus dias, sentado num d~sses banquinhos de madeira<br />

que os indigenas utilizavam, formados de meio-tronco<br />

de palmeira escavado, com a face chata para baixo. Comfamos<br />

'lho assado s6bre urn pires de barro bebiamos ~<br />

de milho que e uma be i a mterme iaria entre a cerv~<br />

e---a:sona - em<br />

--<br />

s:aba~as enegrecidas no interior por· urn reyes·<br />

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