26.07.2015 Views

o_19r5q0gaalj7ov1mgf6rfntga.pdf

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

i I<br />

I,<br />

308<br />

TBISTES TJWPICOS<br />

309<br />

l'<br />

\<br />

,~<br />

"<br />

I<br />

confere a mesma perpetuidade que as almas masculinas reincarnadag,<br />

a duradoura casa de inverno e 0 terreno de cnltura<br />

que recome~ara a viver e a proouzir "quando a morte do sen<br />

explorador precedente estiver esquecida".<br />

Dever-se-a interpretar da meSilla maneira a extraordimlria<br />

instabilidade dos Nhambiquara, que passam ritpidamente da<br />

eordialidade it hostilidade? Os raros observadores que se aproximaram<br />

deles flearam deseoncertados. 0 bando de Utiariti<br />

era 0 que, cinco aoos antes, assassinara os missionarios. Mens<br />

informantes masculinos descreviam esse ataque com complacencia<br />

e se disputavam a gl6ria de ter dado os melhores golpes.<br />

Em verdade, en nao podia querer-Ihes mal por issa. Conheci<br />

muitos missionarios e apreciei 0 valor humano e cientffico de<br />

IDuitos deles. Mas as missoes protestantes norte-americanas<br />

que procuravam penetrar no Mato Grosso central, por volta<br />

de 1930, pertenciam a uma especie particular: sens membros<br />

provinham de familias camponesas do Nebraska ou do Dakota,<br />

onde os adolescentes eram criados numa crenf;a literal no<br />

Inferno e nas caldeiras de oleo fervendo. Alguns se tornayam<br />

missionarios como quem faz urn seguro. Assim tranqiiilizados<br />

quanta A propria salvaf;ao, julgava-m nao precisar fazer<br />

mais nada para merece-la; no exercfcio de sua profissao,<br />

mostravam uma dureza e uma desumanidade revoltantes.<br />

Como se pOde produzir 0 incidente responsavel pelo massacre?<br />

Verifiquei-o eu proprio, par ocasU'io duma inabllidade<br />

que por ponca me custou caro. Os Nhambiquara tern conhecimentos<br />

toxico16gicos. Fabricam 0 curare para as suas flechas<br />

com base numa infusao da pelfcula vermelha que reveste a<br />

raiz de certos strychnos, que deixam evaporar no fogo ate que<br />

a mistura adquira uma consistencia pastosa; e empregam outros<br />

venenos vegetais que eada urn transporta consigo sob a<br />

forma de p6s feehados em tubos de penas ou de bambu, enrolados<br />

em fios de algodao au de embira. Esses venenos servem<br />

para as vinganf;as, comercial au amorosa; voltarei a isso.<br />

Alem d~sses venenos de carater cientifico, que os indigenas<br />

preparam abertamente, Sem nenhuma dessas precau~oes e eomplica~oes<br />

IDagicas que acompanham, mais ao norte, a fabrica~ao<br />

do curare, as Nhambiquara t~m outros cuja natureza<br />

e misteriosa. Em tubos identicos aos que contem os venenos<br />

verdadeiros, recolhem particulas de resina secretada por uma<br />

arvore do genero bombaw, de tronco intumescido em sua parte<br />

media; acreditamque projetando uma particula sobre urn<br />

adversario, provocarao uma eondi!:iio fisiea semelhante it da<br />

arvore: a vftima inchara e morred,. Quer se trate de verdadeiros<br />

venenos OU de substancias magicas, os Nhambiquara<br />

designam-nas tMas eom 0 mesmo t~rmo: narule. Essa palavra<br />

excede, pais, a significa~ao restrita que atribuimos a de<br />

"veneno". Ela exprime quaisquer especies de a~es amea~adoras,<br />

bern como os produtos ou objetos capazes de servir a<br />

tais a!:6es.<br />

Essas expliea!:6es sao necessarias para eompreender 0 que<br />

segue. Eu Ievara nas minhas bagagens alguns desses grandes<br />

balOes de papel de sMa multicores que se enehem de ar<br />

quente pendurando na sua base urn pequena buxa acesa, e<br />

que se soltam as centenas, no Brasil, por ocasiao da festa de<br />

Sao Joao. Urn dia, tive a infeliz ideia de oferecer ~sse espetaculo<br />

aos indfgenas. Urn primeiro baIao, que pegou fogo no<br />

chao suscitou uma viva hilaridade, como se 0 pUblico tivesse<br />

alguma no~ao do que se deveria ter produzido. Ao contrario,<br />

o segundo teve 0 maior exito: elevou-se rapidamente, subiu<br />

tao alto que a sua chama se confundiu com a das estreIas,<br />

errou longamente por cima de nOs e desapareceu. Mas a<br />

alegria do infcio dera Iugar a outros sentimentos; os homens<br />

olhavam com aten~ao e hostilidade, e as mUlheres, com a cabe~<br />

entre os bra~os e encolhidas umascontra as outras, estavam<br />

aterrorizadas. A palavra nand~ voltava com insistencia. No<br />

dia seguinte pela manha, uma deIega~ao de homens veio me<br />

procurar, exigindo a ins~ao da provisao de baloes, a fim<br />

de ver "se nao havia nand~". ~sse exame foi feito de maneira<br />

minuciosa; de resto, gra~as ao espirito notavelmente<br />

positivo (apesar do que acaba de ser dito) dos JI OlU~W<br />

lESU! 'p SI<br />

EpmESU! .<br />

SUI "p 0!5<br />

'olo,dsE Sf<br />

:sEd 'pEpl<br />

mb 'llIms,<br />

Tdsu! OlliE<br />

! 0 'PEP!Ul'<br />

;}JlO::> SE C<br />

q'O'l 'p (<br />

OA Ep OpE:<br />

!l::>'e OWO:<br />

op E!"91

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!