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150 O. LEVI-STRAUSS<br />

que eseapados de UDl corpo destripado; as barracas dos louceiros,<br />

onde se alinham os vasos dos "chilam", oblongos e<br />

envernizados; as jarras de argila micacea e as pintadas de<br />

marrom, branco e vermeIho silbre um fundo de terra amarela<br />

com ornamentos atalharinhados; os fornilhos dos "chilam",<br />

enfiados em cachos, como rosarios. Os vendedores de farinha<br />

que peneiram 0 dia inteiro; os ourives, pesando em balan~s<br />

pequenos fragmentos de materia preciosa, com vitrinas menos<br />

brilhantes que as dos latoeiros vizinhos; os impressores de<br />

fazendas, carimbando os tecidos brancos com urn gesto leve e<br />

mon6tono que deixa urn deIicado sinal colorido; os ferreiros<br />

ao ar livre: universo pUlulante e ordenado, acima do qUal se<br />

agitam, como arvores de f61has movidas pela brisa, as varas<br />

eri\;lldas de cataventos multicores destinados as crian\;lls.<br />

Mesillo nas regioes rUstieRs, 0 espetacu}o pode ser igualmente<br />

encantador. En viajava de barco a motor pelos rios de<br />

Bengala. No meio do BUliganga ladeado de bananeiras e de<br />

palmeiras rodeando mesquitas de faian~ branea que parecem<br />

flutuar em elma das aguas, tfnhamos abordado uma ilhota<br />

para visitar urn hat, mercado campesino que se tinha impOsto a<br />

nossa atenc;;ao graC;;as a urn milheiro de bareas e de sampanas<br />

amarradas. Ainda que nAo se visse nenhuma habita~o, havia<br />

ali uma verdadeira cldade de um dia, cheia duma multidllo<br />

instalada na lama, com bairros distintos, eada urn reservado<br />

a urn eomercio: arroz descascado, gado, embarcac;;Oes, varas de<br />

bambu, tabuas, louc;;as, tecidos, frutas, nozes de betele; massas.<br />

Nos brac;;os do rio a cireulac;;ao era Uio intensa que se poderiam<br />

tomar por ruas liquidas. As vaeas reeem-adquiridas deixavam-se<br />

transportar, eada UDla de pe na sua barea e desfilando<br />

diante de uma paisagem que a mira.<br />

Tilda essa regillo e de uma extraordinaria d~ura. Nessa<br />

verdura azuiada pelos jacintos, na agua dos charcos e dos<br />

rios em que passam as sampanas, ha qualquer eoisa de reponsante,<br />

de adormecedor; deixar-nos-iamos apodrecer de boa vontade,<br />

como as velhas paredes de tijolos vermelhos desarticuladas<br />

pelos "banyans".<br />

Mas, ao meSillO tempo, essa d~ura e inquietante: a paisagem<br />

nao e normal, existe agna demais para isso. A inundac;;ao<br />

anual cria condic;;5es de exist@ncia excepcionais, pais provoca<br />

a queda da produ\:iio dos legumes e da pesea: tempo de<br />

enchente, tempo de miseria. Ate 0 gada se torna esqueletico<br />

TBISTES TB6PICOS 151<br />

e morre, nao conseguindo mais encontrar nos jacintos esponjosos<br />

nma forragern suficiente. Estranha humanidade que vive embebida<br />

de agua mais ainda que de ar; cujos filhos aprendem<br />

a se servir do seu pequeno "dinji" quase ao mesmo tempo em<br />

que a caminhar; Ingar em que, por falta de outro combustivel,<br />

a juta seca, depois de curtida e desfibrada, vende-se, no<br />

tempo das aguas, a 250 francos por 200 hastes, a pessoas que<br />

ganham menos de 3.000 francos por mes.<br />

Entretanto, era preciso penetrar nas aldeias para compreender<br />

a situaC;;ao tragica dessas populac;;5es que 0 costume,<br />

a habitaC;;ao e 0 genero de vida aproximam dos mais primitivos,<br />

mas que mantem mercados tao complex:os quanta uma<br />

grande loja. HA apenas urn seculo, suas ossadas cobriam os<br />

campos; na maior parte teceloes, tinham sido reduzidos a<br />

fome e a morte porque 0 colonizador lhes proibira de exercer<br />

o seu offcio tradicional, a fim de abrir mercado aos tecidos<br />

de Manchester. Hoje, cada polegada de terra cultivavel embora<br />

inundada durante a metade do ano, reserva-se ao ~ltiVO<br />

da juta, que, depois de curtida, vai para as fabricas de Narrayanganj<br />

e de Caleuta, ou, mesmo, diretamente para a<br />

Europa e para a America; de tal sorte que, para a sua alimenta~ao<br />

diaria, @sses camp6nios analfabetos e semi-nus dependem,<br />

de urn modo diverso mas menos arbitrario que 0<br />

precedente, das flutua~es do mercado mundial. Se apanham<br />

o peixe, 0 arroz de que se nutrem e quase inteiramente importado;<br />

e para completar 0 magro rendimento das eultnras ­<br />

pais apenas uma minoria e proprietaria - dedicam os seus<br />

dias a indl1strias aflitivas.<br />

Demra e um vilarejo quase lacustre, tllo preearia e a rMe<br />

de taJudes emersos em que as cabanas se agrupam pelos bosques.<br />

Ai vi uma popula~o, inclusive as criancinhas, ocupada,<br />

desde 0 amanhecer, em tecer a mao esses yens de musselina<br />

que outrora fizeram a celebridade de Dacca. Um pouco mais<br />

longe, em Langalbund, uma regiao inteira se dediea a fabrica~iio<br />

de boWes de naear, da especie utilizada Gas roupas<br />

brancas masculinas. Vma casta de barqueiros, os "bidyaya"<br />

ou "Badia", que vivem permanentemente na cabina de palha<br />

das suas sampanas, colhem e vendem os mariscos fluviais<br />

que fornecem 0 nacar; os montes de conchas lamacentas dao<br />

aos lugarejos a aparencia de placers. Limpas num banho<br />

acido, as conchas sao quebradas em fragmentos com urn martelo,<br />

e arredondadas, em seguida, num esmeril manual. De-<br />

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