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296 O. LEVI-STRAUSS<br />

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prazern ern acentuar esse carater e deforrnarn certas palavras<br />

(assim, kititu torna-se em sua Mea kediutsu); articulaudo<br />

com a ponta dos labios, afetam uma especie de balbucio que<br />

evoca a pronuncia!:§:o infantil. Sua emissao testemunha ass1m<br />

urn maneirismo e uma preciosidade de que tern perfeitamente<br />

consciencia: quando en DaO as compreendia e<br />

pedia-lhes para repetir, exageravam maliciosamente 0 estilo<br />

que lhes e pr6prio. Desanimado, renuncio; elas daD uma gargalhada<br />

e os gracejos se muItiplicam: tiveram "-,,ito.<br />

Eu devia rilpidamente perceber que, aMm do sufixo verbal,<br />

o nhambiquara usa uma dezena de outros que dividem os<br />

seres e as coisas em Qutras tantas categorias: cabelos, pelos<br />

e penas; objetos pontudos e orificios; corpos alongados: sejam<br />

rigidos, sejam flexiveis; frutos, graos, objetos arredondados;<br />

coisas que pendem OU tremem; corpos inchados, on<br />

cheios de liquidoj embiras, couros e Qutros revestimentos, etc.<br />

Essa observa~o me sugeriu uma comparaf;ao com uma familia<br />

Iingiiistica da America central e do noroesteda America do<br />

SuI: 0 chibeha, que foi a lingua duma grande civilizaf;ao da<br />

atual ColOmbia, intermediaria entre as do Mexico e do Peru,<br />

e da qual 0 nhambiquara e talvez um prolongamento meridional.<br />

Razao suplementar para desconfiar das apar~ncias. Apesar<br />

de sua miseria, os indigenas, que lembram os mais antigos<br />

mexicanos pelo tipo fisico e 0 reino chibcha pela estrutura<br />

da sua lingua, tem poucas possibilidades de serem verdadeiros<br />

primitivos. Um passado de que ainda nada sabemos e a<br />

aspereza de seu meio geogr:ifico atuar, explicariio talvez um<br />

dia esse destine de fillios pr6digos aos quais a hist6ria recusou<br />

a terneiro gordo.<br />

EM<br />

XXVII<br />

FAMiLIA<br />

Os Nhambiquara acordam com a dia, reanimam a fogo,<br />

esquentam-se mais au menos do frio da noite, depois se alimentam<br />

ligeiramente das sabras da vespera. Um pouco mais<br />

tarde, as homens partem, em grupo ou separadamente, para<br />

uma expedif;ao de ca~a. As mulheres fiearn no acampamento.<br />

onde cuidam da cozinha. Tomam 0 primeiro banho quando<br />

o sol come~a a subir. As mulheres e as crianf;as freqiientemente<br />

banham-se juntas, por brincadeira, e as v~zes acendem<br />

urn fogo, diante do qual se acocoram para se reconfortarao<br />

sair da agua, exagerando engraf;adamente urn tremor natural.<br />

Outros banhos se dariio durante 0 dia. As ocupa!:5es cotidianas<br />

pouco variam. A prepa;raf;ao dos alimentos eo. que toma<br />

mais tempo e cuidados: e preciso ralar e espremer a mandioca,<br />

secar a polpa e coz~-Ia; ou entao, descasear e ferver as nozes<br />

de cumaru, que dao urn perfume de am~ndoa amarga a maior<br />

parte dos pratos. Quaudo ha necessidade, as mulheres e as<br />

crianc;as partem em expedi~iio de colheita ou de cata. Se as<br />

provisoes sao suficientes, as muIheres fiam, acocoradas no<br />

chao ou de joelhos: nadegas apoiadas nos calcanhares. Ou<br />

entao, talham', lustram e enfiam as contas feitas de cascas<br />

de coco ou de conchas, brincos e outros ornamentos. E se 0<br />

trabalho as aborrece, catam-se mutuamente, passeiam ou<br />

dormem.<br />

Nas horas mais quentes, 0 acampamento fica silencioso;<br />

os habitantes, quietos ou adormecidos, gozam da sombra precaria<br />

dos abrigos. No resto do tempo, as ocupa!:5es se desenrolam<br />

no meio de conversas. Quase sempre alegres e risonhos,<br />

os indfgenas dizem gracejos, e as v~zes tambem express5es<br />

obscenas ou escatol6gicas, recebidas com grandes gargalhadas.<br />

o trabalho e freqiientemente interrompido por visitas ou discussoes;<br />

se dois caes ou aves familiares copulam, todo 0 mundo<br />

para e contempla a operaf;8.0 com uma aten~ao fascinada; de--<br />

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